
O embaixador dos Estados Unidos em Berlim, Richard Grenell, enviou cartas ameaçadoras a companhias alemãs que trabalham em parceria com empresas russas na construção do gasoduto Nord Stream 2, alertando-as para o caso de não deixarem o projeto.
“Nós enfatizamos que as empresas envolvidas nas exportações russas de energia estão participando de algo que poderia gerar um risco significativo de sanções”, escreveu o embaixador em carta publicada pela imprensa europeia. Conforme um porta-voz de Grenell, a declaração não deve ser visto como ameaça, mas como uma “mensagem clara da política dos EUA”.
A previsão é de que o enorme gasoduto viabilize o fornecimento do gás do noroeste da Rússia ao norte da Alemanha, no Mar Báltico, dobrando a quantidade de gás importado pelos alemães do país. Os EUA se opõem ao projeto, pois ao mesmo tempo em que fortalece uma parceria binacional estratégica na geopolítica internacional, reduz o poder das grandes corporações norte-americanas que até então manipulam abertamente o suprimento de energia da Europa, devido ao controle de países como a Ucrânia, por onde o gás transita. As empresas estadunidenses também não querem perder mercado e buscam vender o seu próprio gás, obtido por fracking.
Em novembro passado, o embaixador dos Estados Unidos na União Europeia alertou que o presidente Donald Trump tem “muitos outros instrumentos” para “conter e interromper o projeto”, caso Berlim não volte atrás. “Ainda não implantamos todo o conjunto de ferramentas que poderiam minar significativamente o projeto, se não o pararmos completamente”, acrescentou.
Grenell conseguiu provocar irritação em Berlim desde o dia em que assumiu o cargo, em maio de 2018, twittando que “as empresas alemãs que fazem negócios no Irã devem abandonar as operações imediatamente”. Menos de um mês depois, ele declarou que os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) precisariam apoiar “as intervenções militares dos Estados Unidos no exterior” e que “os EUA não devem mais aceitar desculpas por não participarem da intervenção militar”.
No mês passado, Grenell acusou a revista alemã Spiegel de ter um preconceito antiamericano e exigiu uma investigação sobre as histórias escritas por seu repórter Claas Relotius.