
A chantagem de Trump pela aprovação da verba de US$ 5,7 bilhões (cerca de R$ 21,3 bilhões) para a construção de um muro de 1.400 quilômetros na fronteira com o México tem paralisado desde o dia 22 de dezembro o governo estadunidense.
Sem acordo com a Câmara de Representantes (que é como os norte-americanos chamam os deputados federais) e o Senado para erguer a bilionária muralha, o presidente se nega a sancionar qualquer lei orçamentária que não a contemple, o que tem emperrado especialmente as agências de pesquisa.
Por causa do chamado ‘shutdown’ (apagão), cerca de 800 mil funcionários federais estão sem poder trabalhar nem receber pagamento, aponta a revista científica Nature, frisando que somente podem exercer atividades aqueles cujo trabalho são considerados “essenciais” para a proteção da vida e da propriedade. Ainda assim, necessitam trabalhar sem salário e, sem ter sequer o pagamento garantido, também não puderam tirar férias, ainda que estivessem agendadas.
Desta forma, a Fundação Nacional de Ciência (NSF, em inglês) vem sendo extremamente asfixiada, com tão somente 60 dos cerca de 2 mil funcionários mantidos na ativa. “Hoje eu tive que pedir seguro-desemprego”, declarou Leslie Rissler, bióloga e diretora de programa de pesquisa na NSF, para quem “essa paralisação é ridícula e está afetando desnecessariamente milhares de funcionários federais e suas famílias”.
Na Nasa, o apagão põe em risco a manutenção de programas espaciais bem como os lançamentos de aeronaves, ainda que as missões continuem a explorar o Sistema Solar. Conforme a Nature, se o telescópio Hubble tiver problemas técnicos, como teve em outubro passado, tentativas de resolvê-los possivelmente precisarão ser adiadas, porque equipes cruciais da agência foram enviadas para casa.
O grau de comprometimento dos serviços públicos varia. A Agência de Proteção Ambiental, por exemplo, dispensou temporariamente 14 mil funcionários, ficando com apenas 753 “essenciais”.
De acordo com um pesquisador do Departamento de Agricultura dos EUA, que preferiu o anonimato, o apagão “está prejudicando a nossa capacidade de fazer propostas a jovens cientistas e dizer a eles que este é o lugar para se estar”.