Dos um milhão de mortos na pandemia, 400 mil ocorreram no governo Trump e 600 mil na administração Biden
Agora é oficial: os EUA, notório recordista mundial de mortes por Covid-19, reconheceram que já são 1 milhão os norte-americanos mortos pela pandemia, usando como referência o monitoramento da Reuters, o que se deu na quinta-feira (12). Pelo Worldometer, o terrível recorde foi atingido antes, no dia 22 de março.
A China, que tem uma população quatro vezes maior, acaba de atingir a marca dos 5.000 (cinco mil) mortos – ou seja, 200 vezes menor.
Com exceção de um vídeo de Biden e a decretação da bandeira a meio mastro por cinco dias, o tenebroso recorde passou sem maior alarde e, a bem da verdade, havia sido antecipado pelo presidente em seu discurso do Estado da União, em 1º de março, em que se referira a “um milhão de cadeiras vazias ao redor da mesa de jantar”.
A pandemia realçou mazelas que se acumulam há décadas nos EUA, como o sistema de saúde privatizado, o mais caro e mais excludente do planeta, a que se somaram o negacionismo e a desinformação insuflados desde a própria Casa Branca, a ponto do simples uso de uma máscara por razões sanitárias, hábito desenvolvido pela humanidade ao longo de muitas pandemias pela qual teve de passar, ter se tornado quase distintivo de filiação partidária democrata em um ambiente então dominado por republicanos trumpistas, enquanto a vacinação era praticamente coisa do diabo para os setores mais susceptíveis à manipulação.
Durante o período mais acirrado da pandemia, a grande maioria das mortes nos EUA passou a ser dos não-vacinados, identificados em geral e comandados por adeptos do trumpismo.
Com tudo isso, apesar do auge do negacionismo e das deturpações sobre a Covid-19 terem ocorrido durante o mandato de Donald Trump, a maioria desses 1 milhão de mortes nos EUA ocorreu sob o governo Biden (600 mil contra 400 mil do antecessor).
Mesmo com a mudança de retórica, os números revelam a total incapacidade de Biden de unir e por em prática uma política que associasse a vacinação, testagem de massa, monitoramento das cadeias de contágio e tratamento dos doentes, o que exigiria uma estrutura pública massiva de assistência médica. Também já se evaporou o financiamento público à testagem em massa.
Na Câmara dos representantes, a presidente da Casa, Nancy Pelosi, realizou coletiva de imprensa sobre o indesejado recorde e no final da tarde congressistas fizeram um breve momento de silêncio nos degraus do Capitólio.
O QUE FALTOU?
Nessa coletiva, um jornalista indagou à deputada governista Nancy Pelosi: “Quando o presidente Biden assumiu o cargo, houve cerca de 400.000 mortes por COVID. Agora, como você observou, há cerca de 1 milhão. Você disse que os democratas estavam comprometidos em ‘esmagar o vírus’, o presidente Biden correu para vencer o Covid. Olhando para trás neste momento, você acha que há mais alguma coisa que todos vocês poderiam ter feito para evitar esse número de mortos?”
Especialistas em saúde dos EUA também refletiram sobre a falha na resposta do país à pandemia. O número de mortos não precisava ser tão ruim, e a resposta à pandemia poderia ter sido muito melhor, disse ao USA Today o Dr. Amesh Adalja, acadêmico sênior do Centro de Segurança da Saúde da Universidade Johns Hopkins em Baltimore e porta-voz da Sociedade de Doenças Infecciosas da América.
“A resposta à epidemia é uma questão de capacidade política, determinação da liderança e capacidade do sistema político de um país de se adaptar a essa determinação. Infelizmente, os EUA fizeram uma escolha errada”, disse Lü Xiang, pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, ao Global Times no domingo.
RACIONALIZAÇÃO
“Depois de ver como a política de zero COVID da China salvou muitas vidas, o maior desafio para os EUA é como racionalizar seu enorme número de mortos”, disse Lü. “Por que os EUA, o país mais desenvolvido do mundo, tem mais de um milhão de mortes? Eles não têm resposta para seu povo, então optam por passar a responsabilidade e desviar a atenção do público.”
A tragédia dos EUA não é apenas que um milhão de pessoas morreram, mas que o país é incapaz de auto-reflexão, acrescentou. “Na questão do combate à epidemia, o governo dos EUA só pode discutir se apóia ou não uma determinada declaração, mas sua reflexão sobre como construir a capacidade de um sistema está longe de ser suficiente”, observou Lü.
No momento atual, tem partido de Washington e sua mídia uma propaganda tóxica contra a política da China de ‘guerra popular científica contra a Covid-19’, ou Covid zero dinâmica. Washington chegou a encomendar à CIA um ‘relatório’ sobre a ‘origem do vírus’, para insuflar a xenofobia contra os asiáticos.
PRÓXIMO INVERNO
Na sexta-feira (13) o Washington Post, citando um ‘funcionário da Casa Branca’ sob condição de anonimato, registrou que o governo Biden espera que os EUA registrem 100 milhões de novos casos de COVID-19 durante os próximos meses de outono e inverno e que poderá haver uma “onda significativa de mortes”.
Segundo o Post , o governo fez sua estimativa com base em “modelos externos da pandemia”, todos os quais supõem que o Omicron e suas subvariantes continuam dominantes. Com base em um estudo publicado em abril da Oxford University Press, cem milhões de novos casos implicam, usando a taxa de mortalidade de infecção aceita pelo vírus de 0,5%, 500 mil mortes adicionais.
O negacionismo e a falta de uma política clara de mobilização contra a Covid-19 e suas variantes acarretaram que apenas 67% da população dos EUA haja recebido duas doses [esquema vacinal completo] e menos de 31% uma dose de reforço. O Peterson-KFF Health System Tracker estimou que pelo menos 234 mil pessoas morreram desde junho de 2021, que teriam vivido se tivessem sido totalmente vacinadas e reforçadas.