O conflito dentro do partido de libertação do Zimbábue (ZANU-PF), explodiu em um golpe militar que tomou o controle do governo e da mídia estatal na semana passada. O golpe foi liderado pelo Comandante das Forças de Defesa do Zimbábue, Constantino Chiwenga, alinhado com o ex-vice-presidente Emmerson Mnangagwa.
Mnangagwa manobrou para garantir que ele próprio suceda o presidente. Mnangagwa servia como um dos dois vice-presidentes do Zimbábue. Foi a partir dessa posição que ele e seus aliados, o Team Lacoste, se envolveram na luta contra os membros mais jovens do partido alinhados à Secretária de Assuntos da Mulher, Grace Mugabe, esposa do presidente, e cujo grupo era conhecido como Geração 40 ou G40.
Já em 2015, Mnangagwa se aproximou do líder da oposição, Morgan Tsvangirai, para discutir planos para implementar um governo de transição de cinco anos, no qual ambos desempenhariam a liderança. A Reuters obteve centenas de documentos internos da Organização Central de Inteligência do Zimbábue que revelam o plano: “Quatro pessoas implicadas diretamente com as discussões relacionadas à coalizão de transição pós-Mugabe”, indicaram que a embaixadora britânico no Zimbábue, Catriona Laing, favoreceu “para que Mnangagwa sucedesse Mugabe”.
Em uma reunião explosiva do Comitê Central, no dia 19 de julho, o Ministro do Ensino Superior, Jonathan Moyo, transmitiu um vídeo comprometedor expondo os planos de Mnangagwa. O vídeo o acusava de “trabalhar sistematicamente contra o presidente Mugabe na tentativa, inconstitucional e criminosa, de suceder o presidente. Esse objetivo foi esboçado em documento publicado em 2015, sob o titulo de Blue Ocean”.
Moyo disse que Mnangagwa respondeu ao vídeo “fazendo uma declaração chocante, no sentido de que as pessoas que fizeram intervenções similares a minha apresentação, no dia 19 de julho, teriam ‘a cabeça decepada de seus ombros’”. Moyo continuou: “ele me ameaçou com assassinato”.
Em resposta, Moyo apontou que Mnangagwa não abordou nenhuma das denúncias levantadas por ele durante sua apresentação, onde expôs o plano de Mnangagwa para derrubar o governo. Como as evidências da deslealdade eram abundantes, no dia 9 de novembro, Mnangagwa foi expulso do partido e retirado da vice-presidência.
Porém, o general Chiwenga não demorou muito para cumprir sua ameaça de lançar um golpe militar. A inteligência militar inviabilizou a busca de acabar com a revolta, permitindo que Chiwenga evitasse a prisão. Na capital Harare, tanques circulavam, tomando o controle dos pontos-chave. Tiros foram ouvidos por toda a cidade, à medida que os militares caçavam e prendiam os partidários de Mugabe e os membros do G40.
Como uma fonte informou: “as tropas chegaram à casa do ministro Kasukuwere e a bombardeou por cerca de dez minutos. As famílias então escaparam para a casa de Mugabe. A casa de Moyo também foi invadida por soldados”. O secretário de Assuntos da Juventude, Kudzai Chipanga, e sua esposa foram forçados a se despir em uma delegacia de polícia [como pena por criticar Chiwenga]. Ele foi severamente espancado e o forçaram a pedir desculpas públicas pelas denúncias contra Chiwenga relacionadas ao golpe.
O exército queria instalar Mnangagwa como presidente, e Mugabe não estava colaborando. O golpe estava em gestação, as discussões entre o exército e a oposição estavam em andamento nos últimos meses. Após o golpe, Mnangagwa retornou ao Zimbábue e começou a se preparar para estabelecer um governo de transição sob sua liderança.
Às autoridades ocidentais interessam um governo de transição que adote políticas econômicas em seu beneficio. “É a transição para uma nova era para o Zimbábue”, afirmou o secretário de Estado adjunto dos Assuntos Africanos dos EUA, Donald Yamamoto. Um porta-voz da União Européia anunciou que está “comprometido com a preparação de eleições confiáveis e de reformas políticas e econômicas”.
GREGORY ELICH*
*Colunista do portal Voice of The People e co-autor do livro “Matando a Democracia: CIA e Pentágono no período pós-soviético”, publicado na língua russa.
Principais trechos da matéria “O que há por trás do golpe militar no Zimbábue?” publicada originalmente no site Counterpunch