
As tarifas e a política de imigração de Trump, estão empurrando a economia para uma desaceleração, alertou o analista-chefe da Moody’s, Mark Zandi
zandi descreveu a situação des EUA como “à beira do precipício” de uma recessão. O aviso se segue a um relatório do Bureau de Estatísticas do Trabalho (BLS, na sigla em inglês) mostrando que os EUA adicionaram uma média de apenas 35.000 empregos por mês de maio a julho – menos de um terço do ritmo do ano passado e o mais fraco desde a pandemia do covid.
Abrupta desaceleração na geração de empregos que sinaliza, segundo especialistas, enfraquecimento do crescimento econômico. Outros indicadores também foram sombrios: os gastos do consumidor em junho subiram apenas 0,1% após a inflação, os preços subiram 2,7% em relação ao ano anterior – a maior elevação desde fevereiro – e a atividade fabril contraiu pelo quarto mês consecutivo, com a queda de pedidos e empregos.
Há ainda o dado do Bureau de Análise Econômica segundo o qual o crescimento do PIB dos EUA no semestre caiu pela metade em relação ao ano passado, de 2,5% para 1,2% (anualizado).
“A economia está à beira da recessão. Essa é a conclusão clara do despejo de dados econômicos da semana passada”, escreveu Zandi no X no domingo. “Os gastos do consumidor estagnaram, a construção e a manufatura estão se contraindo e o emprego deve cair.”
Para Zandi, a inflação acima da meta deixa pouco espaço para o Federal Reserve reviver o crescimento, especialmente sob as políticas de Trump.
“Não é nenhum mistério por que a economia está lutando”, registrou Zandi, apontando para o “aumento das tarifas dos EUA e a política de imigração altamente restritiva”.
“As tarifas estão reduzindo cada vez mais profundamente os lucros das empresas americanas e o poder de compra das famílias americanas. Menos trabalhadores imigrantes significam uma economia menor”, ele reiterou.
Desde que voltou à Casa Branca, Trump desencadeou uma caçada feroz aos imigrantes indocumentados, e não esconde seu plano de deportar 4 milhões de pessoas em quatro anos – uma medida que muitos alertam que desencadeará uma grave escassez de mão de obra. O Instituto de Política Econômica estimou que o plano de deportações em massa de Trump poderia destruir quase 6 milhões de empregos.
A propósito, a revelação pelo BLS de que em julho o número de trabalhadores não nascidos nos EUA caiu em 467 mil pode ser um flagrante das consequências dessa caçada, com muitos imigrantes se escondendo para evitar deportação, como noticiado diariamente nos jornais do país.
Trump também declarou uma guerra tarifária ao mundo inteiro, sob o mantra de que irá reindustrializar os EUA e supostamente reequilibrar o comércio externo, isto é, arrancar o couro dos parceiros comerciais, além de internamente cortar impostos para os ricos e “drill baby, drill” (perfure, baby, perfure … petróleo). Ao mesmo tempo que pretende manter o dólar como moeda de reserva global.
“A definição de Trump de ‘vencer’ está atingindo o povo americano com impostos cada vez mais altos”, escreveu Dean Baker, economista sênior do Centro de Pesquisa Econômica e Política, sobre as consequências do tarifaço.
QUEDA NOS LUCROS ASSOMBRA MONTADORAS
A montadora Ford advertiu, segundo a Bloomberg, que seu lucro pode cair até 36% este ano, em razão do impacto do tarifaço sobre insumos como o aço e alumínio, bem como impostos sobre componentes fabricados no Canadá e no México, que estima em US$ 2 bilhões.
Como observou a Bloomberg, os problemas da Ford decorrentes do tarifaço são notáveis porque “fabrica o maior número de carros nos EUA do que qualquer montadora” e, no entanto, ainda está “sendo pressionado por novas barreiras comerciais impostas pela Casa Branca”.
No mês passado, a General Motors citou as tarifas de Trump como uma das principais razões pelas quais seus lucros caíram US $ 3 bilhões no trimestre anterior. Para piorar a situação, a GM disse que o impacto das tarifas seria ainda mais significativo no próximo trimestre, quando seus lucros poderiam cair em até US $ 5 bilhões.
Já a Stellantis – que fabrica o Jeep – projetou que as tarifas de Trump levariam diretamente a US$ 350 milhões em perdas no primeiro semestre de 2025.
RETROCESSO NA INDÚSTRIA E NO EMPREGO
Ao contrário do supostamente pretendido, os empregos na indústria seguem em queda, com os recentes números do BLS – os que ensejaram a demissão sumária da comissária do órgão – registrando que o setor manufatureiro perdeu 11.000 empregos em julho, depois de perder 15.000 em junho.
“Certamente não estamos vendo um renascimento da manufatura. Neste ponto, os dados estão mostrando o contrário”, disse Monica Gorman, ex-assistente especial do governo Biden para política industrial e de manufatura, ao The Hill.
Outro sinal de retrocesso veio com o índice da Pesquisa de Atividade Industrial do Quinto Distrito, que “caiu acentuadamente” para -20 em julho, uma queda em relação aos -8 registrados pelo índice em junho.
Especialistas consultados pelo Wall Street Journal esperavam que o índice subisse para -6, o que torna a queda acentuada em julho uma surpresa significativa e desagradável.
O índice é uma pesquisa com mais de cinco dúzias de empresas manufatureiras localizadas na região do Atlântico Médio dos Estados Unidos, que solicita que elas relatem atividades, incluindo remessas, novos pedidos e emprego.
Um número mensal abaixo de zero indica que a atividade nessas áreas diminuiu em vez de crescer no último mês, e o WSJ observa que o índice vem registrando números negativos há cinco meses consecutivos. No conjunto do país, os números negativos na manufatura se acumulam há quatro meses.