
Na Assembleia Geral da ONU o presidente colombiano acusou ataques de Washington a “barcos de migrantes desarmados”. Os disparos, denunciou Petro, foram “contra jovens que simplesmente queriam escapar da pobreza”. Delegação dos EUA deixou o plenário
O presidente colombiano Gustavo Petro fez uma conclamação à Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira (23), para que rechace a política antidrogas dos Estados Unidos, acusando Washington de usar o combate ao narcotráfico como pretexto para exercer o controle político, econômico e militar da América Latina. Sentindo o dedo na ferida, a delegação estadunidense deixou o plenário.
“A política antidrogas não tem como objetivo impedir que a cocaína chegue aos Estados Unidos; a política antidrogas tem como objetivo dominar o povo do Sul em geral”, afirmou Petro, denunciando o recente destacamento militar dos EUA no Mar do Caribe por ter incluído ataques a “barcos de migrantes desarmados”.
No início de setembro, Donald Trump anunciou ter realizado um ataque militar mortífero no Caribe contra uma embarcação supostamente ligada à gangue venezuelana Trem de Aragua, deixando 11 mortos, sem qualquer comprovação. Segundo Petro, o disparo de rifles foi “contra jovens que simplesmente queriam escapar da pobreza”.
“A terrível situação na Palestina me levou a pensar que o mesmo, ou quase o mesmo, pudesse acontecer no Caribe colombiano, quando disparam mísseis contra jovens desarmados no mar”, explicou.
“WASHINGTON E A OTAN ESTÃO MATANDO A DEMOCRACIA E REVIVENDO A TIRANIA”
“Convido as nações do mundo e seus povos, acima de tudo, como parte da humanidade, a unir exércitos e armas. Precisamos libertar a Palestina”, disse Petro, para que somem forças para “a salvação do mundo, votado pelas Nações Unidas e sem veto”.
Diante da ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza – e ao covarde apoio estadunidense -, que já ceifou a vida de mais de 65 mil civis desde outubro de 2023 e deixou outros 166 mil feridos, milhares deles crianças e mulheres mutiladas, o presidente colombiano defendeu a criação de um “poderoso exército de países que não aceitam o genocídio”, que chamou de “Unidos pela Paz para a Palestina”. No mundo existe uma lógica “de destruição em massa”, alertou Petro, “na lógica das bombas que um criminoso como Netanyahu lança sobre Gaza”.
“Convido os exércitos da Ásia, dos povos eslavos que tão heroicamente derrotaram Hitler, os exércitos latino-americanos de Bolívar, de Garibaldi, que também tinha um na Itália, de Martí, de Artigas, de Santa Cruz. Palavras são desnecessárias. É a hora da espada da liberdade ou da morte de Bolívar. Porque eles não vão bombardear apenas Gaza, não apenas o Caribe, como já fazem, mas também a humanidade, que clama por liberdade, porque Washington e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) estão matando a democracia e revivendo a tirania e o totalitarismo em nível global”, assinalou. Petro levantou a voz contra o destacamento militar dos EUA em águas caribenhas contra o narcotráfico e o presidente Trump, frisando que “a diplomacia cumpriu seu papel”.
“A HUMANIDADE NÃO PODE PERMITIR MAIS UM DIA DE GENOCÍDIO”
Na avaliação do líder colombiano, este “exército para a salvação do mundo” deve ser votado pela Assembleia Geral das Nações Unidas “sem veto” pelos cinco países-membros permanentes do Conselho de Segurança. “A ONU precisa mudar agora. Uma ONU diferente e humana precisa, antes de tudo, pôr fim ao genocídio em Gaza. A humanidade não pode permitir mais um dia de genocídio, nem pode permitir que os perpetradores do genocídio liderados por Netanyahu, nem seus aliados nos Estados Unidos e na Europa, fiquem livres”, sublinhou.
O presidente também instou as Nações Unidas a “imporem respeito aos tribunais internacionais de Justiça, ao direito internacional, que é o fundamento da civilização e a sabedoria da humanidade”.
Diante da covarde ofensiva militar em Gaza, o governo Petro já havia rompido as relações diplomáticas com Israel no ano passado.