Bernie Sanders, senador e pré-candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, declarou sua solidariedade com os protestos que sucedem em Porto Rico para exigir a renúncia do governador Ricardo Roselló, a maior das quais na semana passada juntou mais de 500 mil pessoas em San Juan, a capital da ilha do Caribe.
«Estou com o povo de Porto Rico que sai às ruas exigir prestação de contas ao governador e o fim da corrupção que vitima milhões de trabalhadores. Depois de sofrer com furacões sem nenhuma assistência por parte do governo e uma década de austeridade, Porto Rico tem direito à democracia e ao pleno apoio federal para sair da crise”, afirmou Sanders, comentando as multitudinárias manifestações que acontecem após ficar público um chat da plataforma Telegram, no qual Rosselló faz troça em conversa com seu círculo íntimo sobre as mortes causadas pelo furação e das exigências de que o governo cumpra com as promessas de atender a população atingida pelo desastre.
O também pré-candidato presidencial e prefeito de South Bend (Indiana), Pete Buttigieg, emitiu uma declaração afirmando seu respaldo às reivindicações do povo de Porto Rico e disse que este merece “um governo em que possa confiar”.
Elizabeth Warren, senadora e pré-candidata presidencial democrata, foi mais uma líder política que apoiou as manifestações e frisou que os insultos do governador contra diversos setores da sociedade porto-riquenha “socavam a confiança pública”.
No Congresso, os parlamentares denunciam o escândalo provocado pelo desvio de 15,5 milhões de dólares dos repasses do governo dos Estados Unidos para a Educação e a Saúde, fato que levou um júri federal a estender as acusações à ex-secretária de Educação Julia Keleher e à ex-diretora da Administração de Serviços de Saúde, Ángela Ávila, assim como a outras quatro pessoas.
Quase dois anos atrás, o furacão Maria deixou expostas as enormes deficiências de Porto Rico e a deterioração de uma infra-estrutura, que depende das migalhas de Washington, desatendida durante anos.
Sob as leis de Washington, Porto Rico é definido como “um ‘território não incorporado dos Estados Unidos’”, situação rejeitada pela população que reivindica sua independência. A ilha do Caribe se declarou em bancarrota em maio de 2017 devido à dívida pública inflada pelos colonizadores, tendo como resultado a perda da ínfima autonomia econômica que possuía.
A seguir, em setembro de 2017, sofreu a enorme devastação causada pelo furacão Maria e os resultados da destruição ainda permanecem em grande parte.
No chat com os amigos, Rosselló ainda se refere a uma funcionária de Nova Iorque de ascendência porto-riquenha como puta; a outra, como filha de uma cachorra.
Líderes de ambas as câmaras do parlamento da ilha declararam que não têm planejado um julgamento político, porém uma influente associação de prefeitos pertencentes ao Partido Novo Progressista, de Rosselló, retirou seu respaldo ao governador que, por sua vez, resiste a renunciar a seu cargo.
ROSSELÓ RENUNCIA À REELEIÇÃO, MAS NÃO AO GOVERNO
No domingo, 21, a polícia atacou com gás de pimenta a manifestação de centenas de pessoas que aconteceu na cidade de Guyanabo, perto da capital, San Juan, onde Ricardo Rosselló, se reunia com alguns prefeitos e legisladores do seu partido, depois que o governador anunciou que não vai concorrer à reeleição, que se afastará do cargo de presidente do seu partido, o Partido Novo Progressista (PNP), mas que não renunciará como governador.
“A única coisa que o senhor acaba de fazer com essa mensagem que acaba de divulgar é brincar com a saúde mental dos porto-riquenhos. Exijo dos presidentes do poder legislativo na ilha que, por favor, comecem o processo de ‘residenciamiento’ (julgamento político). Se não quer sair, essa é a única opção que nós temos”, protestou o cantor porto-riquenho Ricky Martin, que também foi agredido por Roselló,em mensagem publicada em suas redes sociais.
“Vocês têm que escutar o pedido em massa de cada um dos porto-riquenhos, é a única coisa que pedimos, essa é a única opção que temos. Os senhores têm que começar com esse processo já”, acrescentou Martin.
Esta segunda-feira deve acontecer uma greve geral e uma manifestação em San Juan, no que seria o décimo dia de protestos contra o líder do território.
SUSANA LISCHINSKY