De 2007 a 2017 os óbitos por suicídio cresceram 36,3% e desde 2008 já é a 10ª principal causa de morte em todas as idades nos EUA. Mortes por overdose quase dobraram no período
A expectativa de vida nos EUA caiu pelo terceiro ano consecutivo, de 78,7 anos para 78,6 anos, anunciou o Centro de Controle de Doenças (CDC) dos EUA.
“Tragicamente, esta tendência preocupante é em grande parte devido a mortes por overdose de drogas e suicídios”, advertiu o diretor do CDC, Robert Redfield, após registrar a queda na expectativa de vida nos EUA “nos últimos anos”.
Os EUA não viviam um período tão extenso de declínio desse parâmetro primordial desde 1918 – há um século -, quando se combinaram os efeitos letais da I Guerra Mundial e da epidemia de gripe espanhola.
Segundo Redfield, é expectativa de vida que dá “um vislumbre do estado geral de saúde do país”. Ele acrescentou que “essas estatísticas perturbadoras são um aviso de que estamos perdendo muitos americanos, muito cedo, e muitas vezes evitáveis”.
Um vislumbre aterrador. Desde 2007, são um milhão de vidas ceifadas por suicídio e overdose de drogas nos EUA – as chamadas ‘mortes por desespero’.
100 mil por ano!
O que reflete uma agudização sem precedentes da miséria social e espiritual no país mais rico do mundo, sob a salvação dos bancos pós-crash supervisionada por Obama, que concentrou riqueza de uma forma sem precedentes.
Ao mesmo tempo em que a imensa maioria sofria com a precarização, despejos em massa, arrocho, cortes de direitos e na saúde, coroando a desindustrialização em massa em áreas que já conheceram a prosperidade.
É essa a base material na qual fervilha a desesperança, o isolamento, o abandono, o colapso sob as drogas, o suicídio. Não são mais só os negros pobres que morrem de overdose nos guetos, mas também os brancos pobres, na Nova Inglaterra ou na Virgínia Ocidental – nesta a taxa de mortalidade é mais do dobro da média nacional.
O total de mortes anunciado é maior do que todas as perdas de vidas de americanos em guerras, com exceção da Guerra Civil. A expectativa de vida nos EUA já está três anos e meio abaixo da vigente no vizinho Canadá.
As mortes por overdose de drogas aumentaram 9,6 % em um ano – sendo que as por fentanil (o mais notório opióide) chegaram a impressionantes 45%.
Para menores de 55 anos, a overdose de drogas já é a principal causa de morte.
Já as taxas de suicídio aumentaram em 2017 em 3,7%, de 13,5 por 100.000 para 14,0 por 100.000 – o mais alto índice em 50 anos. Desde 2008, o suicídio é a décima principal causa de morte para todas as idades nos EUA.
Em 2016, o suicídio se tornou a segunda principal causa de morte entre pessoas com idades entre 10 e 34 anos, e a quarta causa principal entre 35-54 anos.
Segundo o CDC, a taxa de mortalidade ajustada por idade para a população geral aumentou 0,4 %, de 728,8 mortes por 100.000 pessoas para 731,9 por 100.000. Note-se que entre os jovens na faixa etária 25-34, o aumento foi ainda pior, de 2,9%.
De 2007 a 2017, as mortes por suicídio aumentaram de 34.598 para 47.173, uma alta de 36,3%. Nesse período, as mortes por overdose de drogas quase dobraram, de 36.010 para 70.237.
As medidas cosméticas de Trump auguram ser difícil uma reversão a curto prazo. O dinheiro que falta para a saúde, para o bem estar social, para a sanidade, grassa aos borbotões em Wall Street e no Pentágono. Trump acaba de desviar milhões da saúde para a repressão aos imigrantes.
Estudo publicado este ano pelo American Journal of Public Health responsabiliza “décadas de aumento na desigualdade de renda, choques econômicos decorrentes da desindustrialização e cortes na rede de segurança social” pelo crescimento das diferenças na expectativa de vida entre “ricos e pobres” – que em algumas cidades, como Detroit, já é de 8,2 anos entre os 25% mais pobres e os 25% mais ricos.
“A crise financeira de 2008, conjuntamente com as medidas de austeridade as políticas neoliberais, erodiu ainda mais o bem-estar físico e mental”, concluiu o relatório. 100 mil mortes por desespero não surgem do nada.
ANTONIO PIMENTA