Em artigo publicado no jornal The New York Times no dia 14, Bernie Sanders repele a postura do governo de Biden que faz vista grossa para o morticínio na Faixa de Gaza causado pelo inclemente bombardeio israelense.
Seguem os principais trechos do artigo do senador democrata pelo Estado de Vermont.
“Israel tem o direito de se defender”. Estas são as palavras que escutamos tanto dos governos de democratas como de republicanos sempre que o governo de Israel com seu enorme poderio militar responde a ataques de Gaza.
Vamos deixar claro. Ninguém está contestando que Israel, ou qualquer governo, não tenha o direito à autodefesa ou de proteger seu povo. Então porque estas palavras repetidas ano após ano, guerra após guerra?
E porque há uma questão que nunca é formulada: “Quais são os direitos do povo palestino?”
E porque parece que só tomamos consciência da violência em Israel e na Palestina quando foguetes caem sobre Israel?
Neste momento de crise, os Estados Unidos deveriam exigir com urgência um imediato cessar-fogo. Deveríamos entender também que, enquanto o disparo, pelo Hamas, de foguetes para dentro de comunidades em Israel é absolutamente inaceitável, o conflito atual não começou com estes foguetes.
O DESPEJO EM SHEIKH JARRAH
Famílias palestinas no bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém, têm vivido sob ameaça de despejo por muitos anos, navegando em sistema legal montado para facilitar o deslocamento forçado. E durante as últimas semanas colonos fanáticos intensificaram seus esforços para despejá-las.
E, tragicamente, estes despejos são só uma parte de um sistema mais amplo de opressão política e econômica. Por anos a fio temos visto o aprofundamento da ocupação israelense na Cisjordânia e a continuidade do bloqueio a Gaza que torna a vida crescentemente intolerável para os palestinos. Em Gaza, que tem cerca de dois milhões de habitantes, 70% dos jovens estão desempregados e têm pouca esperança de futuro.
SABOTAGEM DA SOLUÇÃO DOS DOIS ESTADOS
Além disso, temos visto o governo de Benjamin Netanyahu trabalhar para marginalizar e demonizar os cidadãos palestinos de Israel, levar adiante políticas de assentamentos destinados a bloquear por antecipação a possibilidade da Solução dos Dois Estados e criar leis que fortalecem a desigualdade sistemática entre cidadãos israelenses judeus e palestinos.
Nada disso desculpa os ataques por parte do Hamas, que foi uma tentativa de explorar os distúrbios em Jerusalém. Mas o fato que importa é que Israel permanece a única autoridade soberana no território de Israel e da Palestina e, ao invés de se preparar para a paz e justiça, entrincheira esse controle desigual e antidemocrático.
Por mais de uma década deste governo de direita em Israel, o senhor Netanyahu tem cultivado um tipo de nacionalismo racista cada vez mais intolerante e autoritário. Em seu frenético esforço para se manter no poder e evitar os processos por corrupção, ele tem legitimado estas forças, incluindo Itamar Ben Gvir e seu partido extremista, Poder Judaico, trazendo-o para o parlamento. É chocante e entristecedor ver que aquelas turbas, que atacam palestinos nas ruas de Jerusalém, agora tenham cadeiras no Knesset [o parlamento israelense].
Estas tendências perigosas não são exclusivas de Israel. Mundo afora, na Europa, Ásia, América do Sul e aqui, nos Estados Unidos, temos visto o despontar de movimentos nacionalistas autoritários similares. Tais movimentos exploram ódios étnicos e raciais para construir poder para uns poucos corruptos no lugar da prosperidade, justiça e paz para muitos. Nos últimos quatro anos, estes movimentos tinham um amigo na Casa Branca.
Ao mesmo tempo, temos visto o surgimento de uma nova geração de ativistas que querem construir sociedades baseadas nas necessidades humanas e na igualdade política. Vimos estes ativistas as ruas da América no último verão logo após o assassinato de George Floyd. Vemos a eles e Israel, os vemos nos territórios palestinos.
Com um novo presidente, os Estados Unidos agora têm a oportunidade de desenvolver uma nova abordagem ao mundo – uma que seja baseada na justiça e na democracia. Seja ajudando os países pobres a obter as vacinas que necessitam, seja liderando o mundo no combate às mudanças climáticas ou lutando por democracia e direitos humanos através do planeta, os Estados Unidos devem promover a cooperação ao invés do conflito.
No Oriente Médio, onde nós fornecemos cerca de US$ 4 bilhões ao ano em ajuda a Israel, não podemos mais ser apologistas do governo de direita de Netanyahu e seu comportamento antidemocrático racista. Temos que mudar o curso e adotar uma abordagem balanceada, que sustente e fortaleça a lei internacional com respeito à proteção dos civis assim como da legislação existente que determina que a provisão de ajuda militar dos EUA não deve permitir abusos dos direitos humanos.
Esta abordagem deve reconhecer que Israel tem o absoluto direito de viver em paz e segurança, mas também os palestinos. Eu acredito firmemente que os Estados Unidos têm um papel destacado na ajuda a israelenses e palestinos a construírem seu futuro. Mas, se é para os Estados Unidos se tornarem uma voz crível em termos de direitos humanos no palco global, devemos aderir aos padrões de direitos humanos de forma consistente, mesmo que isto seja politicamente difícil. Devemos reconhecer que os direitos palestinos importam. Vidas palestinas importam.