
O Bureau de Estatísticas do Trabalho (BLS) divulga revisão na estimativa do número de empregos criados nos EUA nos 12 meses até março deste ano, que revela 911.000 empregos a menos do que relatado anteriormente
A gigantesca revisão apresentada pelo BLS vem se somar à débil geração de empregos em agosto, apenas 22.000, enquanto nos últimos quatro meses o número de empregos adicionados foi de 27.000 – bem abaixo dos níveis de 2024. Registre-se que, para agosto, as “expectativas” dos economistas consultados eram de um resultado entre 40.000 e 100.000 empregos.
A revisão para baixo nos últimos 12 meses se deu em quase todos os setores da economia. Sobre o resultado dos serviços — 13.000 por mês a menos do que as estimativas anteriores — Bradley Saunders, economista da Capital Economics, disse: “Como os serviços são o último bastião do crescimento do emprego, isso não é um bom presságio para a saúde geral do mercado de trabalho”.
Na produção industrial, o BLS registrou o quarto declínio mensal consecutivo em agosto, com o emprego no setor agora negativo no ano. Assim, o aumento de empregos que Trump alegou que resultaria das tarifas não se materializou.
TARIFAÇO GERA CORTES
Na verdade, as tarifas estão dando origem a cortes de empregos, à medida que os empregadores buscam cortar custos devido ao impacto nos seus resultados financeiros causado pelos aumentos nos preços de seus insumos.
Ao FT, Bob Schwartz, da Oxford Economics, assinalou que “se as tarifas visam impulsionar a economia industrial nacional, os benefícios não estão aparecendo na frente de contratações. … Parece que os custos mais altos dos insumos vinculados às tarifas estão tendo um efeito imediato, enquanto o incentivo para as empresas trazerem operações — e empregos — para os EUA ainda não deu frutos.”
Segundo o BLS, desde que Trump proclamou seu dia da libertação em abril – isto é, o tarifaço – o setor manufatureiro perdeu 42.000 empregos, derrubando suas promessas de que isso traria a reindustrialização.
Ainda quanto a outros maus sinais, o total de empregos de junho foi revisado de +27 mil para -13 mil, inaugurando o primeiro número negativo de empregos desde 2020.
Embora a taxa de desemprego geral haja subido ligeiramente de 4,2% para 4,3%, quando observado os componentes da força de trabalho, verifica-se que o desemprego entre os negros chega a 7,5%, a maior taxa desde 2021, e entre os latinos, a 5,3%. A medida mais ampla do desemprego (U6, na metodologia do BLS), e que expressa de forma mais acurada ao descartar – ainda que parcialmente – o subemprego, está em 8,1%.
O número de desempregados de longa duração (aqueles sem emprego há 27 semanas ou mais) variou pouco, chegando a 1,9 milhão em agosto, mas aumentou em 385 mil ao longo do ano. Em agosto, os desempregados de longa duração representavam 25,7% de todos os desempregados.
Os números do emprego haviam sido o pretexto de Trump para demitir a chefe do BLS, Erika McEntarfer, no início do mês passado. Em uma declaração sobre a grande revisão, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karolin Leavitt, disse: “É exatamente por isso que precisamos de uma nova liderança para restaurar a confiança nos dados do BLS em nome dos mercados financeiros, empresas, formuladores de políticas e famílias que dependem desses dados para tomar decisões”.
Os novos dados desmoralizam as razões alegadas para demitir a chefe do BLS, a de que os números do emprego teriam sido “manipulados” para baixo.
Segundo os especialistas, a explicação para as grandes revisões nos números da geração de emprego reside nas dificuldades de coleta rápida de dados mensais com base em pesquisas. A superestimação do número de empregos criados se deve, pelo menos em parte, ao fato de que apenas 43% dos empregadores respondem à pesquisa mensal, em comparação com os 60% que respondiam antes da pandemia.
Os esforços do BLS para melhorar seus métodos de coleta de dados, têm sido prejudicados por cortes orçamentários realizados durante as administrações republicana e democrata anteriores e pelos cortes adicionais durante o segundo regime de Trump. “Com financiamento suficiente, as agências podem modernizar a coleta de dados e melhorar a precisão das primeiras estimativas”, assinalou a Associação Nacional dos Economistas Empresariais.
Os números em queda aumentam a pressão, sobre o Fed, para que reduza as taxas de juros, a que a gestão de Jerome Powell vem resistindo diante do que vê como ameaça inflacionária. Mas, depois do relatório sobre o mês de agosto e a mega revisão para baixo recém anunciada, a única discussão que persiste é se o corte dos juros será na faixa de 0,25 pontos percentuais, ou 0,50.
Chris Kempczinski, CEO do McDonald’s, diz que os americanos agora vivem em um “cenário de consumo dividido” criado por “uma economia de dois níveis”: “Se você tem uma renda alta e ganha mais de US$ 100.000, as coisas estão boas, os mercados de ações estão perto das máximas históricas… O que vemos com os consumidores de renda média e baixa é, na verdade, uma história diferente”.