
Ninguém sabe a que novas consequências ataque ao Irã pode levar, alerta a representação russa no Conselho de Segrurança
Em caráter de urgência, o Conselho de Segurança da ONU se reuniu neste domingo (22), poucas horas após o traiçoeiro bombardeio pelos EUA de três instalações nucleares do Irã sob custódia da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e sob as salvaguardas do Tratado de Não Proliferação, com a Rússia advertindo que esse ataque abre a caixa de pandora e ninguém sabe a que “a que novas consequências isso pode levar”.
O embaixador russo Vassily Nebenzia denunciou que mais uma vez Washington demonstrou “seu total desprezo pela posição da comunidade internacional e confirmou que, em prol dos interesses de seu aliado israelense”, está disposto não apenas a fechar os olhos para o assassinato de mulheres, crianças e idosos palestinos, como também a “colocar em risco a segurança e o bem-estar de toda a humanidade”.
“Com suas ações, os EUA abriram a caixa de Pandora. E ninguém sabe a que novas consequências isso pode levar”, afirmou.
A reunião foi pedida pelo Irã, que solicitou que o CS “aborde este ato de agressão flagrante e ilegal, condenando-o nos termos mais fortes possíveis”. Rússia, China e Paquistão – que condenaram a agressão – apresentaram uma proposta de resolução, que pede um cessar-fogo imediato e incondicional, que irá à discussão na noite de segunda-feira.
Na abertura, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que “o bombardeio de instalações nucleares iranianas pelos Estados Unidos marca uma reviravolta perigosa em uma região que já está cambaleando”, acrescentando que se corre o risco “de cair em um turbilhão de retaliações”.
“Devemos agir – imediata e decisivamente – para interromper os combates e retomar negociações sérias e sustentadas sobre o programa nuclear iraniano”, ele convocou.
O Tratado de Não Proliferação Nuclear está “em risco”, alertou o diretor da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Rafael Grossi. Ele reiterou que o TNP “garantiu a segurança internacional por mais de meio século”.
Além dos cinco membros permanentes com direito a veto – EUA, Reino Unido, França, Rússia e China -, são membros rotativos Argélia, Coreia do Sul, Dinamarca, Eslovênia, Grécia, Guiana, Panamá, Paquistão, Serra Leoa e Somália. Para ser aprovada, uma resolução precisa de pelo menos nove votos a favor e nenhum veto.
CONTOS DE FADAS DOS EUA SOBRE ARMAS DE DESTRUIÇÃO EM MASSA
Em seu pronunciamento, o embaixador russo Nebenzya lembrou-se do ex-secretário de Estado americano, Colin Powell, defendendo no Conselho de Segurança da ONU, em 2003, que o presidente iraquiano Saddam Hussein representava um perigo iminente para o mundo devido aos estoques de armas químicas e biológicas do país.
“Mais uma vez, somos solicitados a acreditar nos contos de fadas dos EUA, para mais uma vez infligir sofrimento a milhões de pessoas que vivem no Oriente Médio. Isso reforça nossa convicção de que a história não ensinou nada aos nossos colegas americanos”, disse ele.
Nebenzia também enfatizou que, com essa ofensiva, o país norte-americano confirma que “para preservar sua hegemonia no mundo, está disposto a cometer qualquer crime e a violar o direito internacional”, acrescentando que “ninguém autorizou” Washington a realizar tais ações.
“Mais uma vez, nossos colegas norte-americanos ignoraram a posição de toda a comunidade internacional e seguiram o exemplo de Israel em vez de colocá-lo em seu devido lugar e obrigá-lo a interromper a espiral de escalada. Hoje voltaremos a ouvir as declarações cínicas dos representantes dos EUA sobre sua disposição para retomar as negociações, como se nunca tivesse ocorrido uma série de ataques noturnos com munições pesadas contra o Irã”, denunciou.
Em sua intervenção, o embaixador da China na ONU, Fu Cong, sublinhou que “a paz no Oriente Médio não pode ser alcançada pelo uso da força. O diálogo e a negociação são a saída fundamental no momento”. Ele acrescentou que “os meios diplomáticos para abordar a questão nuclear iraniana não foram esgotados e ainda há esperança de uma solução pacífica.”
Logo após o bombardeio do Irã pelos EUA, governo da China havia condenado “veementemente” o ataque lançado pelos Estados Unidos durante a madrugada às instalações nucleares do Irã. “Esta medida viola gravemente os propósitos e princípios da Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) e do direito internacional, e exacerba as tensões no Oriente Médio”, afirmou o comunicado de Pequim.
BRUTAL AGRESSÃO NÃO PROVOCADA
O embaixador do Irã nas Nações Unidas, Amir Saeid Iravani, condenou com veemência o que chamou de “brutal agressão” de Israel contra seu país, seguida pelos bombardeios de sábado perpetrados pelos Estados Unidos.
“O Irã é uma nação que busca a paz, mas não hesitará em defender sua soberania e integridade territorial”, declarou Iravani, que disse ainda que as alegações para a agressão “carecem de base legal e são motivadas politicamente”.
O representante iraniano acusou diretamente o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de ter “sequestrado a política externa dos Estados Unidos” e arrastado o país norte-americano para uma nova “guerra custosa e infundada”.
Netanyahu, enfatizou Iravani, é “um criminoso de guerra procurado internacionalmente”.
Iravani disse, ainda, que Washington optou por colocar sua própria segurança em risco ao apoiar incondicionalmente o governo israelense. “Mais uma vez, os EUA sacrificam seus interesses apenas para proteger Netanyahu”, declarou. “O mundo testemunha, novamente, a corrupção flagrante do sistema político americano e de sua liderança.”
“A história não esquecerá esses dias trágicos”, afirmou Iravani, reiterando que o direito internacional dá a Teerã seu “direito legítimo” de agir contra a “agressão flagrante dos EUA e de seu representante israelense”. “O momento, a natureza e a escala da resposta proporcional do Irã serão determinados por suas forças armadas”, acrescentou.
Ele também chamou a atenção para o fato de que o Irã — um país que não possui armas nucleares — foi atacado por um país que possui armas nucleares.
“Os Estados Unidos, membro permanente deste Conselho de Segurança, depositário do Tratado de Não Proliferação Nuclear e o único Estado a usar armas nucleares, matando milhões de pessoas em duas cidades, recorreram mais uma vez à força ilegal, travando uma guerra contra o meu país sob um pretexto inventado e absurdo: impedir o Irã de obter armas nucleares. Que ironia amarga e trágica!”, disse Iravani.
A CAUDA ABANA O CACHORRO
Os rasgadores da Carta da ONU, Danny Danon (Israel) – este, um notório ladrão de terras palestinas a quem o Brasil recusou agrément e acabou na ONU – e a interina norte-americana Dorothy Shea (aquela que em ato falho admitiu que “Israel espalha o terror no Oriente Médio”), basicamente alegaram a excepcionalidade de seus respectivos países, para prosseguirem cometendo crimes contra a humanidade.
O representante do país sob investigação da Corte Internacional de Justiça por cometer genocídio em Gaza e agora acusado de usar a fome como arma para impor limpeza étnica aos palestinos, chegou às raias do absurdo ao dizer em um comunicado no domingo que os EUA e Israel “não merecem nenhuma condenação, mas sim uma expressão de apreço e gratidão por tornarem o mundo um lugar mais seguro”.
Madame Shea, cujo presidente, no primeiro mandato, rasgou um acordo com o Irã negociado pelo antecessor Obama, que propiciava o fim das sanções em troca do mais rígido regime de inspeção das instalações nucleares a que a AIEA já submeteu um país, o mesmo Trump que aos olhos do mundo enganou Teerã dizendo que “queria negociar” só para facilitar ao ataque traiçoeiro do regime Netanyahu do dia 13, teve a desfaçatez de dizer que “o Irã obstruiu nossos esforços de boa-fé em negociações recentes”.
E repetiu o mantra de que o Irã “não pode ter armas nucleares”, quando é o Irã que tem como doutrina não ter armas nucleares e que há décadas propõe o Oriente Médio como uma região sem armas nucleares, enquanto Israel, como revelou o heróico Mordechai Vanunu, há décadas tem dezenas de bombas nucleares, sob a cobertura de Washington.