
Mais de dez mil manifestantes marcharam pela avenida Paulista neste domingo contra o golpe na Bolívia e em defesa do retorno da democracia e do presidente Evo Morales ao país andino. Evo e seu vice, Álvaro García Linera, encontram-se asilados no México, de onde têm denunciado toda a barbárie promovida pelos golpistas.
Identificados como “instrumentos do governo norte-americano” para pôr fim ao “processo de mudanças” em curso desde 2006, a autoproclamada presidenta Jeanine Añez, o fascista Luis Camacho e o candidato derrotado e ex-presidente Carlos Mesa foram rechaçados como “inimigos do povo”.
“Evo, amigo, o Brasil está contigo”, “Añez, golpista, fora da Bolívia” e “Camacho e Mesa, queremos suas cabeças”, foram algumas das palavras de ordem entoadas ao longo da marcha que saiu do MASP e foi até a Consolação, em meio ao tremular de um mar de bandeiras da Bolívia, Whipalas (símbolo da participação e do avanço indígena na sociedade e na nacionalidade boliviana) e também do Brasil.
“A Whipala é uma bandeira milenar, um símbolo pátrio que foi queimado pelos fascistas que deram o golpe de Estado para demonstrar que tudo podem. Estão errados, porque nosso povo tem tomado as ruas mesmo sendo perseguido, tem enfrentado as balas da repressão e sendo assassinado, mas vem elevando a voz e não calará até a renúncia da senhora Añez”, declarou Gualberto Mamani, da Organização da Juventude Boliviana. Trabalhador da área da costura, Mamani destacou que a massiva participação da comunidade boliviana na “marcha pacífica” amplia a pressão para que “Evo volte para pacificar o país”. Na sua avaliação, “tem sido um lixo o comportamento da imprensa” do seu país, “mentindo ou ocultando os fatos, dando respaldo aos crimes dos golpistas”.

Também trabalhador da costura, o jovem Gruter Toledo levantava um cartaz com os dizeres “Añez assassina”. “Racista, ela está mandando matar nossos irmãos indígenas, nossos irmãos camponeses, porque acha que o Estado deve estar a serviço de uma pequena minoria. Estamos mobilizados exigindo sua renúncia”, acrescentou.
A participação de muitas famílias de bolivianos, com crianças de mãos dadas ou sendo levadas nos ombros pelos pais, estampava a autoestima recuperada por Evo, que entre outras conquistas erradicou o analfabetismo, nacionalizou os hidrocarbonetos, redistribuindo renda e recursos para o desenvolvimento, a educação e a saúde públicas. Uma participação de um significado que emocionava a todos os manifestantes.
O evento foi convocado por organizações da comunidade boliviana, com apoio do Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Boliviano e Contra o Golpe.
LEONARDO WEXELL SEVERO