“Como sempre, o presidente dos Estados Unidos tem uma dupla moral: na Assembleia da Organização das Nações Unidas falou de soberania, dignidade, paz e respeito mútuo, no entanto, se sente como o dono do mundo”, condenou o presidente da Bolívia, Evo Morales.
Parafraseando o líder venezuelano, Hugo Chávez, que identificou Bush com o inferno, Evo disse que com a passagem de Trump pela assembleia, a “ONU ainda cheira a enxofre”, com o “fiel representante do imperialismo e do capitalismo” e seu discurso de agressão e violência. “Os EUA continua com o diabo na casa, pretendendo instaurar uma ditadura mundial, porém os povos do mundo não permitiremos, seguiremos lutando”.
O presidente boliviano sublinhou que existe um rechaço latino-americano por cada uma das intervenções feitas pelos sucessivos governos estadunidenses e que há uma tomada de consciência contra essas intromissões. “Só há paz com justiça social e soberania. Enquanto os EUA siga com suas políticas intervencionistas, nunca haverá paz”, frisou.
Para Evo, um exemplo do crescente isolamento da política belicista é o posicionamento dos povos em favor dos cubanos, submetidos a um criminoso bloqueio econômico de quase seis décadas pelos EUA: “Todo mundo após a Cuba, o bloqueio deve ser retirado”.
Na avaliação do líder boliviano, o consumismo e a exploração desenfreada são os motores da crise atual e causam inúmeros danos não só à economia, como ao meio ambiente, e é preciso que os governos ajam rapidamente em relação a estes temas, da mesma forma que “tomem medidas em relação à distribuição da riqueza”
Em sua participação na última terça-feira na Assembleia da ONU, Evo expôs uma série de questionamentos aos desmandos da administração Trump, como a política de perseguição de migrantes e construção de muros, como o da fronteira com o México. Evo defendeu a adoção de uma visão humanista, que permita acolher, proteger, promover e integrar estas pessoas, uma vez que estão fragilizadas, e lembrou que o papa Francisco dedicou um documento pastoral à sua proteção.
A situação dos migrantes, destacou o líder boliviano, é consequência da crise humanitária, uma vez que atualmente 128 milhões de pessoas necessitam atenção em 33 países. Neste momento, acrescentou, mais de 65 milhões de pessoas foram deslocadas e 22 milhões são refugiadas, “o número mais alto da história da Humanidade”. Além disso, frisou, “mais de 10 milhões não têm Estado”.
“A Bolívia condena a construção de muros e de leis que pretendam criminalizar a migração”, enfatizou Evo, propondo que a exploração e o tráfico de pessoas sejam declarados como delitos de lesa-humanidade.
LEONARDO SEVERO