«Irmãs e irmãos, é imprescindível falar das causas estruturais das crises, as empresas transnacionais controlam os alimentos, a água, os recursos não renováveis, as armas, a tecnologia e nossos dados pessoais, se pretende mercantilizar tudo para acumular mais capital», afirmou o presidente boliviano Evo Morales, na terça-feira, 24, durante o 74º período de sessões da Assembleia Geral das Nações Unidas que se realiza em Nova Iorque, em intervenção que marcou o evento.
Desde o pódio da ONU, manifestou que «só um punhado de multimilionários define o destino político-econômico da humanidade, 26 pessoas têm a mesma riqueza que 3,8 bilhões de pessoas. Isso é um insulto, isso é imoral e é inadmissível». Ele ainda denunciou os sistemas financeiros injustos que privilegiam os paraísos fiscais e submetem os países mais frágeis economicamente a aceitarem condições que perpetuam sua dependência.
NACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS ESTRATÉGICAS
“Quando chegamos ao Governo nacionalizamos nossos recursos naturais e nossas empresas estratégicas, tomando o controle de nosso destino, construímos um modelo econômico social comunitário produtivo que reconhece os serviços básicos como direito humano e não um negócio privado. Hoje podemos dizer com orgulho e otimismo que a Bolívia tem futuro», assinalou, diferenciando-se da subserviência ao império de outros que, como Jair Bolsonaro, envergonhou nosso país na ONU. (Ver matéria: https://horadopovo.com.br/um-dia-na-onu-a-india-de-direita-o-trump-de-pacotilha-e-outros-lacaios/ )
«A responsabilidade de nossa geração é entregar à que vem após um mundo mais justo e mais humano. Isso somente se conseguirá se trabalharmos juntos para consolidar um mundo multipolar (…), defendendo o multilateralismo, os princípios e propósitos da Carta das Nações Unidas e o direito internacional», disse.
O MAIOR DESENVOLVIMENTO
«Na Bolívia demos passos muito importantes, somos o país com maior crescimento econômico na América do Sul, com uma média de 4,9% nos últimos seis anos. Entre 2005 e 2019 o Produto Interno Bruto subiu de 9,574 para 40,885 bilhões de dólares, temos o desemprego mais baixo da região: foi reduzido de 8,1% em 2005 para 4,2% em 2018», mostrou.
Também informou que o índice de extrema pobreza baixou de 38,2% para 15,2% em 13 anos, enquanto que a esperança de vida aumentou em nove anos; disse que o salário mínimo subiu de 60 para 310 dólares e que o fosso de gênero foi reduzido, entre outros fatores com a distribuição e legalização de terras, 138.788 mulheres receberam terras até 2005 e 1.011.249 até 2018.
Acrescentou que a Bolívia é o terceiro país do mundo com maior participação de mulheres no parlamento (mais de 50%), um território livre de analfabetismo desde 2008 e com una taxa de mortalidade infantil que diminuiu em 56%.
AVANÇOS NA SAÚDE PÚBLICA
«Estamos em processo de implementação de um sistema universal de saúde que garante que 100% dos bolivianos acessem um serviço gratuito, digno, com qualidade e solidariedade; aprovamos uma lei de atenção gratuita para os doentes de câncer», complementou Morales.
O presidente atribuiu essas conquistas à revolução democrática cultural que a Bolívia vive com estabilidade política, econômica e social «graças à consciência do povo, dos movimentos sociais, dos indígenas, camponeses, operários, técnicos, de homens e mulheres do campo e das cidades». Ponderou que ainda há muito para ser feito, que não se pode relaxar no enfrentamento dos problemas e na contribuição que todos devem dar. “Esse é o nosso desafio e ele é totalmente viável”, disse.
Morales, que se converteu em 2006 no primeiro presidente indígena na história da Bolívia, pronunciou este discurso na ONU a poucas semanas das eleições gerais do país. Se for reeleito em 20 de outubro estenderá seu mandato até 2025.