Michael Cohen, que foi durante uma década advogado e quebra-galhos de Donald Trump, disse no Congresso norte-americano em depoimento transmitido por vários canais de TV, na quarta-feira (27), que seu ex-cliente é “racista, vigarista e trapaceiro”.
Dirigindo-se ao Comitê de Supervisão e Reforma da Câmara, Cohen – que foi condenado à prisão por crimes relacionados em parte com seu trabalho para Donald Trump – se disse arrependido por ter sido leal ao presidente.
“Estou envergonhado por ter escolhido participar dos atos ilícitos de Trump em vez de ouvir minha própria consciência”, asseverou Cohen.
“O senhor Trump é um racista. O país viu Trump cortejar os supremacistas brancos e os intolerantes. Vocês o ouviram chamar os países mais pobres de ‘buracos de merda’”, acrescentou o advogado.
E enfatizou em seguida: “na vida privada, é ainda pior. Uma vez me perguntou se podia nomear um país dirigido por uma pessoa negra que não fosse um ‘buraco de merda’. Isto foi quando Barack Obama era o presidente dos Estados Unidos”. E continuou: “enquanto estávamos passando de carro por um violento bairro de Chicago, ele comentou que só os negros podiam viver dessa maneira…e me disse que os negros nunca votariam porque eram estúpidos demais”.
SUBORNO
Cohen disse também que estava apresentando provas “irrefutáveis” dos erros de Trump, incluindo um cheque de “suborno” pago a duas mulheres pouco antes da eleição de 2016 e assumiu a culpa no escândalo envolvendo a compra do silêncio de duas mulheres que supostamente tiveram relações com Trump. Ele (Cohen) pagou a atriz pornô Stormy Daniels e a ex-modelo da “Playboy” Karen Mcdougal para manterem silêncio sobre supostos relacionamentos com o presidente e por evasão de divisas.
Cohen apresentou ainda durante o depoimento uma carta na qual, como advogado, ameaçava a Universidade Fordham para que não publicasse o histórico escolar de Trump. Ele também estava encarregado das informações negativas sobre sua suposta dispensa médica para não lutar no Vietnã, justamente na época em que zombou do senador John McCain como veterano de guerra. Quando Cohen lhe pediu os relatórios médicos, ele disse que não existiam. “Acabou a conversa dizendo: ‘Você acha que sou idiota? Eu não iria para o Vietnã”, relatou.
“O senhor Trump é um fraudador… Me pediu que pagasse a uma estrela de cinema pornô com quem teve um caso, e que mentisse à sua esposa a respeito, o que fiz. Mentir à primeira-dama é um dos meus maiores arrependimentos. É uma pessoa amável e boa. Eu a respeito muito e não merecia isso”, declarou Cohen.
O advogado também disse que Trump dirigiu as negociações, ocorridas durante a campanha eleitoral de 2016, para construir uma Trump Tower em Moscou. Cohen, porém, negou qualquer vínculo comercial com os russos. A respeito das acusações dos democratas ligados à candidata derrotada, Hillay Clinton, sobre suposta relação da equipe de campanha de Trump com russos ligados ao governo de Vladimir Putin, que é objeto de investigação, Cohen disse que não tem provas, mas que suspeita de um conluio.
“Foi perguntado se sabia de provas diretas que demonstrassem que Trump ou sua equipe de campanha haviam conspirado com a Rússia. Não tenho. Quero ser claro. Mas tenho suspeitas”, disse sem especificar ou detalhar.
Cohen ainda afirmou que seu ex-chefe sabia que um de seus colaboradores estava em contato com o WikiLeaks para a publicação de milhares de e-mails do Partido Democrata.
“Trump era um candidato presidencial que sabia que Roger Stone (colaborador da campanha) estava conversando com Julian Assange (fundador do WikiLeaks) sobre um vazamento dos e-mails do Comitê Nacional Democrata”, disse.
A esse respeito, o próprio Roger Stone já negou que tenha conversado com Julian Assange e admitiu ter inventado essa história para se valorizar na campanha de Trump em 2016. Stone chegou a gabar-se de que teria jantado com Assange. Nessa época o australiano já encontrava-se exilado na embaixada do Equador em Londres, sob rígido controle da polícia. Ou seja, o último lugar do mundo para manter uma reunião discreta. O WikiLeaks e Assange já negaram qualquer envolvimento com a campanha de Trump. Portanto, essa parte do depoimento de Cohen não se sustenta em fatos, bem como sua “suspeita” de conspiração com os russos – como ele mesmo reconhece – não se baseia em indícios.
Cohen disse ainda estar a par de outras irregularidades relacionadas com o presidente, sobre as quais não poderia falar porque são alvo de uma investigação em andamento.
Ao ser perguntado pelo legislador democrata Raja Krishnamoorthi, “há algum outro ilícito ou [ato] ilegal do qual tenha conhecimento com relação a Donald Trump que ainda não tenhamos discutido hoje?”, Cohen respondeu: “Sim”, explicando que o que sabe é parte da investigação realizada pelo tribunal federal do Distrito Sul de Nova York.
A corte federal do Distrito Sul de Nova York, que sentenciou a Cohen em dezembro a três anos de prisão por fraude e evasão fiscal e por dar falso testemunho no Congresso, esteve investigando o comportamento da Organização Trump com relação a impostos, aos bancos e possíveis violações das normas de financiamento eleitoral.
Ao mencionar a investigação em curso sobre irregularidades não especificadas, Cohen se negou a responder as perguntas de Krishnamoorthi sobre o conteúdo de suas últimas conversas com Trump ou seus representantes.
“Infelizmente, este tema é na verdade algo que está sendo investigado neste momento pelo Distrito Sul de Nova York, e me pediram que não discutisse, nem falasse sobre estes temas”, declarou Cohen.