“O alegado uso de cloro como arma na Síria retorna ao noticiário nos EUA e Inglaterra com incidentes recentes informados pelo secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson, que usou a oportunidade para condenar o presidente sírio Bashar Al Assad na questão”, afirma Charles Shoebridge, ex-oficial do exército inglês, ex-detetive da Scotland Yard e ex-funcionário dos serviços de inteligência antiterror da Inglaterra.
Shoebridge, hoje analista para questões de segurança, advogado, radialista e escritor acrescenta que “de forma não usual Tillerson admite que pode haver alguma dúvida – mas assegura, em qualquer caso, que ‘quem quer que seja que conduziu os ataques a responsabilidade é da Rússia”.
No seu artigo, “Quem está usando armas de cloro na Síria?”, Shoebridge relata que alguns anos atrás já apontara para a “correlação entre os momentos dos incidentes com cloro e encontros internacionais sobre a Síria, a exemplo de encontros do Conselho de Segurança da ONU”.
“Se as denúncias fossem verdadeiras”, prossegue o articulista inglês, “parece que Assad por alguma razão estava promovendo seus ataques de forma deliberada para entregar da melhor forma a seus oponentes vantagem de propaganda para mobilizar o mundo contra ele”.
“Outra explicação”, diz Shoebridge, “talvez mais plausível, mas nunca mencionada pela mídia predominante, é a de que, com o objetivo de difamar Assad, estes incidentes eram na verdade de bandeira trocada que seus oponentes estavam fabricando”.
“Assim que as alegações recentes parecem similares a este respeito, coincidindo exatamente com o encontro de muitos lídres internacionais, incluindo o próprio Tillerson, em Paris, para discutir armas químicas, [tais denúncias foram formuladas dias antes do encontro denominado Diálogo Nacional Sírio, em Sochi, matéria nesta página] e quando está em curso uma operação para desalojar de Ghouta leste as forças ‘rebeldes’ bancadas pelos EUA e Inglaterra aliados à Al Qaeda ou grupos associados a esta.
“Independente de base factual, denúncias de uso de cloro, assim como as de bombas em barril, ataques a hospital, tornaram-se clichés de propaganda na guerra da Síria”.
Os governos e a mídia citam informes como o exarado pela ONU junto com a Organização pela Proibição de Armas Químicas (OPCW), como o que sugere que forças governamentais sírias foram responsáveis por ataques com cloro que aconteceram em 2014 e 2015, acrescenta Shoebridge.
Mas o próprio informe traz mais dúvidas que certezas, “por exemplo, reconhece que as evidências eram ‘suficientes’ em três de nove casos para permitir tirar a conclusão que as forças sírias usaram cloro, também confirma que até nestes casos as evidências não são ‘conclusivas’ ou mesmo ‘fortes’”.
“Tais evidências”, prossegue, “incluem o testemunho de médicos que viram sintomas do cloro mas não sabiam como a substância havia sido lançada”.
Sobre o suposto lançamento de bombas por helicóptero ele questiona que “por tantos anos e com um grande número destas bombas sendo supostamente lançadas não há nenhum vídeo que mostre um helicóptero lançando estes artefatos com cloro”.
Por fim há a questão das fontes de infomação utilizadas pelo citado informe que não mostra qualquer “cadeia de estocagem até a coleta para o lançamento” e ainda se vale de fontes que distorcem as informações “na ausência de testemunhas independentes”.
“A fragilidade destas bases e a possibilidade de fabrico de evidências estavam mais que aparentes durante anos mas foram menosprezadas pelo Ocidente e por ONGs entusiastas em promover uma narrativa anti-Assad”.
Mesmo este informe não consegue esconder fatos que apontam o uso deste tipo de substância por parte dos terroristas: “A OPCW nota que os ‘rebeldes’ Al Nusra tomaram e ocuparam por um longo período uma grande unidade química síria, de onde muito do cloro originalmente estocado desapareceu e nunca ninguém o localizou”.
Há também o apoio em testemunhas financiadas por fundos do serviço secreto inglês como é o caso dos Capacetes Brancos (White Helmets) como testemunhas centrais de ataques, falando desde containers de socorro, “testemunhas que nunca poderiam ser consideradas imparciais, objetivas ou críveis”.
“Da perspectiva da integridade de uma investigação, é difícil imaginar algo mais destruidor do que a base em fontes externas alicerçadas em uma organização que tem relações próximas e de trabalho com os rebeldes incluindo alguns ligados à Al Qaeda, com claro interesse em não apenas culpar Assad, mas acaba sendo uma investigação que é um claro incentivo ao fabrico de tais incidentes e, de fato, os Capacetes Brancos têm sido amplamente acusados do fabrico destes ‘fatos’ relacionados ao cloro”.
“Os alegados ataques com cloro”, conclui o autor, “como mostra agora Tillerson, são úteis instrumentos não só para favorecer intervenção militar, como também para reforçar afirmações de que Assad não deve ser um futuro líder da Síria e ainda para desacreditar os esforços de solidariedade e pela negociação de paz por parte da Rússia”. O artigo na íntegra pode ser lido em inglês através do link:
www.rt.com/op-edge/417181-chlorine-attacks-syria-responsibility/