
E tenta dar explicações fajutas ao STF para minimizar a gravidade do ato, como dizer que foi apenas um “pensamento digitalizado”
O general Mário Fernandes, que tinha cargo de confiança no governo de Jair Bolsonaro, admitiu em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) que foi o autor do plano “Punhal Verde e Amarelo”, mas falou que era apenas um “pensamento” sobre assassinar Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.
Fernandes tentou minimizar, entretanto, e disse que o documento era um “pensamento que foi digitalizado”, um “compilar de dados”, um “estudo de situação” e uma “análise de risco”.
O documento descrevia de forma detalhada o planejamento para que fossem realizados os assassinatos da chapa vitoriosa nas eleições presidenciais, Lula e Alckmin, e o ministro Alexandre de Moraes.
Mário Fernandes imprimiu dentro do Palácio do Planalto três cópias do plano no dia 9 de novembro de 2022. Cerca de 40 minutos depois, esteve no Palácio da Alvorada, a residência oficial do presidente da República.
No depoimento ao STF, ocorrido na quinta-feira (24), Fernandes tentou se esquivar diante da gravidade do documento e criar um cenário no qual todos os demais réus, principalmente Jair Bolsonaro, sequer sabiam de sua existência.
“Por um costume próprio, decidi, inadvertidamente, digitalizar. Não foi mostrado a ninguém. Não foi compartilhado com ninguém. Me arrependo de ter digitalizado isso. Não passa de um compilamento de dados”, falou.
“Imprimi por um costume pessoal de evitar ler documento na tela. Imprimi para mim. Logo depois, rasguei”, continuou. O réu chegou a falar que imprimiu para “não forçar a vista”.
Questionado sobre o motivo de ter feito três cópias do planejamento, falou que não se lembra e sugeriu que a investigação cometeu um erro. “Não me lembro de ter impresso em três cópias. Acho que foram três folhas, não três cópias. Se foram três cópias, acredito que seja relativo à configuração da impressora que estava em uma impressão anterior. Não me lembro de ter impresso três cópias, respondeu.
Já sobre sua ida ao Palácio da Alvorada imediatamente depois de ter feito o plano, Mário Fernandes falou que era apenas coincidência. “Esse horário, foi uma coincidência em relação à função, à atribuição administrativa e logística minha, como secretário-executivo [da Secretaria-Geral da Presidência]. Mas eu não levei, não apresentei, não compartilhei esse arquivo, seja digital ou impresso, com ninguém”, disse.
A Polícia Federal encontrou, ao longo das investigações, mensagens trocadas entre Mário Fernandes e o coronel Mauro Cid, à época ajudante de ordens de Bolsonaro, que corroboram com a hipótese de que o planejamento foi produzido e levado até Jair Bolsonaro.
Em áudio, Fernandes falou: “durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12 [de dezembro de 2022], pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo”.
Após Mário Fernandes planejar os assassinatos, um grupo de militares com cargo no governo Bolsonaro começou a execução. Os militares com formação nas Forças Especiais, os chamados “kids pretos”, se organizaram em um grupo chamado “Copa 2022”.
Como destacou a Procuradoria-Geral da República (PGR) na denúncia, os materiais utilizados pelos militares coincidem com os descritos por Mário Fernandes no plano “Punhal Verde e Amarelo”. “A mesma convergência foi observada na previsão sobre o quantitativo de pessoas necessárias para executar a ação – seis indivíduos com formação em Forças Especiais”, disse a PGR.