
Ele liderou espionagem contra autoridades do Judiciário. Marcelo Câmara teria se comunicado com Mauro Cid, colaborador do inquérito da tentativa de golpe de Estado — o que desrespeita as medidas cautelares impostas pelo STF
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou, nesta quarta-feira (18), a prisão de Marcelo Câmara, ex-assessor de Jair Bolsonaro (PL), e um dos réus da investigação da tentativa de golpe de Estado pós-eleições de 2022.
Por meio do próprio advogado, Câmara teria se comunicado com Mauro Cid, colaborador do inquérito da tentativa de golpe de Estado — o que desrespeita as medidas cautelares impostas por Moraes.
O militar — ele é coronel da reserva do Exército — integrava parte essencial da gestão Bolsonaro e foi um dos primeiros alvos das operações deflagradas pela PF (Polícia Federal) para apurar a trama golpista, desencadeada em 2022.
Segundo os policiais, o coronel liderou equipes de espionagem contra autoridades do Judiciário.
CÂMARA NO EXÉRCITO SOB BOLSONARO
O coronel da reserva Marcelo Costa Câmara atuou na gráfica do Exército e no gabinete de Enzo Peri, então comandante da corporação.
A partir de 2019, início do mandato de Bolsonaro, o militar migrou para a sala da Presidência da República e integrou a equipe de ordens ao lado de Mauro Cid, trabalhando como “assessor especial” do chefe do Executivo.
Desde o início das investigações sobre a trama golpista, Câmara foi considerado responsável pelo “núcleo de inteligência” paralelo no governo. Esse grupo arquitetou complexo sistema de monitoramento que tinha Alexandre de Moraes como alvo principal.
Sob comando do coronel, o núcleo monitorava agenda e deslocamentos aéreos do magistrado. As investigações acreditam que o objetivo final da vigilância seria planejar a prisão de Moraes — plano descrito na versão final da minuta golpista.
CENTRO DA TRAMA GOLPISTA
Em 30 de dezembro de 2022, às vésperas do final do mandato, Bolsonaro viajou para os Estados Unidos em avião oficial, que também transportou Câmara. Nenhum dos passageiros precisou apresentar passaporte, vez que utilizaram a aeronave oficial da Presidência da República.
No mês de maio de 2023, o coronel foi um dos alvos de operação da PF para apurar suspeita de fraude nos cartões de vacina de Bolsonaro, familiares e assessores.
No mesmo ano, Câmara foi um dos assessores contratados para amparar o ex-presidente e, por isso, chegou a receber salário de R$ 11 mil para a função. Ele só saiu do cargo no ano seguinte, quando já fazia parte do grupo de investigados pela trama golpista.
Em fevereiro de 2024, a PF deflagrou a Operação Tempus Veritatis, derivada da colaboração de Mauro Cid.
CONCURSO MATERIAL DE DELITOS
Com essa, o coronel e outros aliados foram presos preventivamente por suspeita de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, associação criminosa e concurso material de delitos.
A primeira espécie de concurso de crimes prevista no CPP (Código de Processo Penal) é o concurso material, que diz no artigo 69: “quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido”.