
Mas negou que esse monitoramento tivesse a ver com o do plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato do ministro do STF e de outras autoridades. Cid confirmou a versão de Marcelo Câmara
Em acareação no STF (Supremo Tribunal Federal), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), manteve, nesta quarta-feira (13), os depoimentos prestados à Corte e à PF (Polícia Federal).
Todavia, ele esclareceu detalhes que confirmam a versão apresentada pela defesa do coronel Marcelo Câmara — ex-assessor do ex-chefe do Executivo —, a respeito da minuta golpista e do esquema de monitoramento de autoridades.
Segundo a ata da acareação, “a defesa do réu Marcelo Câmara solicitou que fosse esclarecido que, em relação ao segundo momento, monitoramento no final de dezembro, não há nenhuma relação com a citada operação ‘Punhal Verde e Amarelo’, e esse monitoramento foi solicitado diretamente pelo ex-presidente Jair Messias Bolsonaro”.
O documento registrou ainda que Marcelo Câmara expôs que “o monitoramento que realizava sempre era pontual com finalidade de ‘acertar agendas’ e que jamais esses monitoramentos foram realizados para qualquer operação”.
Ambos são réus na ação penal que apura plano de golpe de Estado no País, no contexto das eleições de 2022.
“MINUTA DO GOLPE”
No que se tratou da chamada “minuta do golpe”, Cid esclareceu que, ao falar sobre o conhecimento de Câmara, a respeito da tramitação de decreto no Palácio do Planalto, não se referia ao documento apresentado pelo ex-assessor Filipe Martins ao então presidente Jair Bolsonaro, que previa medidas de exceção.
O tenente-coronel reforçou que, durante a colaboração premiada, já havia afirmado não poder confirmar que Câmara soubesse do conteúdo da minuta. Câmara, por sua vez, reiterou que nunca teve conhecimento da proposta apresentada por Filipe Martins.
MONITORAMENTO DE AUTORIDADES
Sobre o monitoramento de autoridades, Cid manteve o relato de que pediu a Câmara para acompanhar a agenda do ministro Alexandre de Moraes, do STF, a pedido de Bolsonaro, que temia reunião do magistrado com o então vice-presidente Hamilton Mourão.
Ele reafirmou, porém, que não sabe se Câmara teve relação com outro monitoramento, ligado ao chamado “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato de Moraes, Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSB).
Câmara disse que o acompanhamento que fazia era pontual e tinha como objetivo acertar agendas, negando qualquer envolvimento em operações de vigilância.
DILIGÊNCIAS COMPLEMENTARES
A acareação, autorizada por Moraes, integra a fase de diligências complementares do núcleo 2 da suposta trama golpista.
O encontro presencial entre os militares foi solicitado pela defesa de Marcelo Câmara, após Moraes estabelecer prazo de 5 dias para a apresentação de pedidos referentes às últimas diligências complementares no caso.
Ao deixar o Supremo, o advogado de Câmara, Eduardo Kuntz, afirmou que a acareação foi “super importante” para esclarecer mal-entendidos.
ESCLARECIMENTOS
Kuntz afirmou nunca teve a intenção de dizer que Cid mentiu, mas que os depoimentos prestados pelo delator foram mal interpretados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) e pela PF (Polícia Federal).
Durante a acareação, a defesa de Cid também pediu que ficasse registrado nos autos não haver qualquer contradição entre os relatos de Cid e Câmara.
Durante o procedimento, Kuntz também fez novo pedido a Moraes sobre revogar a prisão preventiva de Câmara. O ministro deu prosseguimento ao pedido, e solicitou a manifestação da PGR.
ALEGAÇÕES FINAIS
Kuntz pediu ainda que o ministro autorizasse o advogado a entrar na prisão com computador, vez que isso facilitaria, segundo a defesa, a produção das alegações finais de Câmara. Moraes permitiu, e alegou a necessidade de garantir ampla defesa.
O coronel está preso preventivamente e participou da acareação presencialmente, usando tornozeleira eletrônica. Ele também é investigado por obstrução de Justiça, acusado de tentar contato com Cid.
NÚCLEOS GOLPISTAS CRUCIAL E DOIS
Cid pertence, na divisão da trama golpista elaborada pela PGR, ao chamado “núcleo crucial”. Como o nome diz, este núcleo, segundo a PGR, comandava e coordenava os demais núcleos:
- Ex-presidente Jair Bolsonaro;
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil;
- Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin;
- Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
- Augusto Heleno, ex-ministro do GSI; e
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa.
Câmara pertence ao chamado “núcleo 2”, cujo papel, segundo a PGR, era “gerenciar as ações” da organização criminosa. Fazem parte deste núcleo:
- Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da PRF (Polícia Rodoviária Federal);
- Marcelo Costa Câmara, ex-assessor de Bolsonaro;
- Marília Ferreira de Alencar, delegada da PF, e ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça;
- Fernando de Sousa Oliveira, delegado da PF, e ex-diretor de Operações do Ministério da Justiça, e ex-secretário-adjunto de Segurança Pública do DF;
- Mario Fernandes, ex-secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência; e
- Filipe Garcia Martins, ex-assessor da Presidência da República.