A comerciante Zuleide Aparecida de Oliveira, candidata do PSL em 2018, reafirmou em depoimento à Polícia Federal (PF) que o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, então presidente da sigla em Minas Gerais, propôs pessoalmente que desviasse parte do dinheiro do fundo eleitoral que receberia para a campanha.
Segundo a comerciante, caso fosse candidata, ela receberia R$ 60 mil do fundo partidário, mas só ficaria com R$ 15 mil.
Zuleide de Oliveira foi ouvida pela delegada Andrea Tsuruta, de Belo Horizonte, por cerca de duas horas na última terça-feira (19). O depoimento ocorreu na cidade de Varginha, na região do Sul do Estado. A investigação está sob sigilo, mas o advogado dela relatou que foram apresentadas provas para a autoridade policial.
“Ela confirmou à delegada a reunião feita, [em] que estavam ela, o deputado [Marcelo Álvaro Antônio] e mais três pessoas no gabinete do deputado, e que o deputado fez a proposta a ela: ‘para o financiamento de campanha, vem do fundo partidário R$ 60 mil e você restitui ao partido R$ 45 mil. Usa R$ 15 mil para sua campanha e mais os santinhos que o partido vai te fornecer’”, afirmou o advogado Renato Delavia.
“Estavam ela [Zuleide], um policial civil aposentado, o marido da Zuleide, o deputado e um assessor do deputado”, completou. A comerciante entregou seu celular à PF para ser periciado em busca de mensagens de texto e de áudio trocadas com assessores do ministro.
A comerciante teve a candidatura indeferida por causa de uma condenação em segunda instância por causa de uma briga com outra mulher. Segundo a defesa da candidata, ela também disse à PF que o partido garantiu que ela conseguiria concorrer na eleição, apesar de ter sido condenada.
“Ela disse à delegada que comunicou o partido da condenação assim que sondada. Em contrapartida, o partido garantiu a ela que a candidatura dela sairia. Que ela estaria ilesa, porque ela havia conseguido a suspensão condicional da pena e os dirigentes disseram a ela que isso serviria para garantir os direitos políticos”, contou o advogado.
Zuleide denuncia que foi induzida pelo atual ministro do Turismo a aceitar a proposta para ser candidata e que, depois de assinar vários documentos, não teve mais respaldo de Marcelo Álvaro Antônio. A comerciante acredita que o partido sabia que a candidatura não iria dar em nada e que ela só foi usada como laranja.
O ministro alega que a acusação é mentirosa e que cumpriu a legislação eleitoral. Até agora, sua permanência no cargo tem sido mantida por Jair Bolsonaro apesar do desgaste que a situação causa ao governo.
TRE
O Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), através da área técnica, identificou gastos não declarados do PSL de Minas a uma candidata laranja e quer esclarecimentos do ministro do Turismo.
A Procuradoria Eleitoral de Minas Gerais instaurou uma investigação para apurar indícios de caixa dois na campanha do PSL-MG. As apurações têm como um dos pressupostos a não declaração, pelo partido, da confecção de cerca de 25 mil santinhos da candidata Zuleide de Oliveira.
Um parecer sobre a prestação de contas do partido na última eleição apontou que o ministro não apresentou documentos que comprovem a regularidade de gastos feitos utilizando dinheiro dos fundos eleitoral e partidário, formados por recursos públicos.
O parecer identificou também que peças obrigatórias não foram apresentadas na prestação de contas, como extratos de contas bancárias destinadas à movimentação de recursos destes fundos. O PSL deixou ainda de declarar o repasse para três das quatro candidatas que depois devolveram recursos para empresas ligadas ao ministro.
Marcelo Álvaro Antônio era presidente da legenda em Minas durante o pleito de 2018 e foi eleito deputado federal.
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