O ex-chefe de campanha presidencial de Donald Trump, Paul Manafort, costeou o alambrado e já fechou acordo de cooperação com o advogado especial Robert Mueller, o piloto da farsa do “Russiagate” – a suposta “intromissão russa na eleição” -, prometendo responder “de forma completa, sincera, completa e franca” sobre “todo e qualquer assunto”.
Na semana anterior, a postura tida como corajosa de Manafort havia merecido até um elogio de Trump pelo Twitter. Manafort esteve presente na famosa reunião na Trump Tower com uma advogada russa, que dizia ter podres de Hillary, em que também participaram Trump Jr e o genro Kushner, e que obviamente é um prato feito para tentar dar aparência de realidade à farsa do “complô russo para derrotar Hillary” e para espremer agora politicamente Trump, ao enfocar sua família.
Também foi para “preservar a família”, que Manafort explicou seu acordo. O comentarista da Mother Jones, David Corn, observou que Manafort “não tinha boas opções”. “Você faz um acordo com Mueller ou faz um acordo com Trump. Em quem realmente confiar?”, tuitou. E concluiu: “parece que ele tomou sua decisão”.
Assim, parece que a tática de Mueller de condenar Manafort por crimes que nada têm com a campanha de Trump, mas poderiam arruiná-lo ou deixá-lo uma longa temporada na cadeia, surtiu efeito. O acordo inclui ele se declarar culpado de todas as acusações, sendo que no máximo seria sentenciado a 10 anos – mas com todo mundo apostando que voltará para sua mansão bem mais cedo.
O Russiagate é o cúmulo do cinismo, primeiro, porque o único complô que houve foi da direção nacional democrata para impedir que o desafiante Bernie Sanders derrotasse a preferida de Wall Street, Hillary Clinton, nas primárias, como o WikiLeaks provou. Segundo, os EUA acusarem quem quer que seja de “intromissão nos seus assuntos internos” – depois da infindável lista de golpes de estado, invasões e sanções – é piada. Terceiro, por dizer que alguns supostos impulsionamentos – infinitesimais em termos de rede e de grana – decidiram uma campanha em que os monopólios e bancos despejaram bilhões para manter o status quo.
Que Manafort era um picareta com relações com oligarcas corruptos ucranianos e também russos, nunca foi segredo, embora a deixa para cair na teia de Mueller foi a óbvia ocultação de dinheiro recebido dos seus serviços de marketagem, o não pagamento ao imposto de renda e outros pecados veniais cometidos praticamente por todos os lobistas de Washington.
Aliás, era uma picaretagem bipartidária. Manafort era sócio do irmão do chefe da campanha presidencial de Hillary, Tony Podesta, num esquema que abrangia o Mercury Group, o Podesta Group e outras arapucas, criadas para faturar com a “consultoria” a Yanukovich – aquele que foi derrubado pelo golpe da CIA em Kiev – e oligarcas amigos.
Depois que isso veio a público, a parceria público-privada republicana-democrata fechou, pelo menos oficialmente, as portas, com Mueller dizendo que eles deveriam ter se registrado como “agentes de governo estrangeiro” e estes asseverando que foram mal aconselhados por advogados e se registraram conforme a lei americana de lobby.
Outra figura que participava do esquema era o advogado de defesa durante o impeachment de Bill Clinton, Gregory Craig, e conselheiro da Casa Branca sob Obama. Sem esquecer que foi o governo de Bill Clinton a mãe de todas as operações fraudulentas na ex-União Soviética, para privatizar tudo, e antes de deixar a presidência ele até indultou um amigão que havia se lambuzado todo na operação.
Pela devolução de bens que Manafort aceitou fazer, dá para avaliar o quanto ele está afundado na lama até o pescoço. Está entregando quatro residências em Nova Iorque, avaliadas em US$ 15 milhões, uma mansão com dez quartos, piscina e quadra de tênis, em Long Island, de mais de US$ 7 milhões, e mais depósitos em bancos, no total de US$ 46 milhões. O advogado de Trump, e ex-prefeito de Nova Iorque, Rudy Giuliani, asseverou que a virada de casaca de Manafort não muda nada. Não se sabe se “os adultos na sala” na Casa Branca, apresentados ao mundo pelo NY Times, têm a mesma opinião.
A.P.