O ex-comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Carlos Almeida Baptista Júnior, contou à Polícia Federal que Augusto Heleno, ex-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), ficou “atônito” ao ouvir a rejeição da Força em participar do golpe de Estado arquitetado por Bolsonaro.
O ex-comandante declarou à PF ter afirmado “de forma categórica ao general Heleno que a Força Aérea Brasileira não anuiria com qualquer movimento de ruptura democrática”.
Conforme o depoimento de Carlos Baptista à PF, após a negativa, “Heleno ficou atônito e desconversou sobre o assunto com o depoente”.
O tenente-brigadeiro relatou que a conversa se deu no dia 16 de dezembro de 2022, quando Heleno pediu para voltar a Brasília no avião da FAB, depois de participarem de uma cerimônia de formatura no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica). Heleno alegou que iria participar de uma reunião urgente convocada por Bolsonaro para o dia seguinte.
O ex-comandante da Aeronáutica perguntou a Heleno se ele questionou Bolsonaro o fato de que o neto do então chefe do GSI se formava naquele dia. Heleno disse que a reunião foi mantida mesmo assim.
Depois os dois foram para uma sala reservada. Baptista Júnior, então, deixou claro o posicionamento contra o fracassado plano de golpe. “Por não ter sido convidado para a referida reunião, solicitou ao general Heleno que reafirmasse ao então presidente, Jair Bolsonaro a posição do depoente e da Aeronáutica”.
O ex-comandante da Aeronáutica prestou depoimento à PF no dia 17 de fevereiro.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou, na sexta-feira (15), o sigilo dos depoimentos sobre a tentativa de golpe bolsonarista no país. A decisão liberou os depoimentos dos ex-comandantes das Forças Armadas, ex-ministros de Estado e ex-auxiliares de Jair Bolsonaro.
No depoimento à PF, Carlos Baptista revelou que o ex-comandante do Exército, Freire Gomes, advertiu Bolsonaro que, caso ele tentasse um golpe, teria que prendê-lo. O ex-comandante da FAB disse, ainda, que, se Freire Gomes tivesse concordado, teria acontecido o golpe para impedir a posse de Lula (PT).
Nos depoimentos à PF, os ex-comandantes da FAB e do Exército disseram que o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e o ex-chefe da Marinha, Almir Garnier Santos, apoiaram o plano de golpe.