A ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, Marília Alencar, admitiu à PF que produziu um mapa para o ex-ministro Anderson Torres dos locais onde Lula obteve mais votos no primeiro turno das eleições.
O mapa foi usado por Anderson Torres na tentativa de impedir que eleitores de Lula chegassem aos locais de votação no segundo turno, fraudando uma vantagem para Jair Bolsonaro.
Marília confirmou que produziu o mapa em depoimento à Polícia Federal. A PF já tinha encontrado o documento em seu celular, apesar da tentativa de apagá-lo.
A ex-diretora também confirmou que foi Torres quem mandou que ela fizesse o mapeamento.
O depoimento está sob sigilo, uma vez que a investigação ainda está ocorrendo, mas o jornal O Globo conversou com pessoas que acompanham o caso.
O ex-ministro Anderson Torres deverá ser chamado para depor sobre esse documento e o plano de fraudar as eleições na próxima semana.
A Polícia Federal encontrou indícios de que esse mapa foi usado para as ações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no dia 30 de outubro, quando foi realizado o segundo turno das eleições.
Também a mando de Torres, a PRF realizou blitz nas regiões de predominância de eleitores de Lula para atrapalhar a chegada deles nos locais de votação.
O então ministro da Justiça de Bolsonaro viajou para a Bahia, acompanhado do então diretor da PF, Márcio Nunes, para pressionar o superintendente regional do órgão, Leandro Almada, a fim de conseguir seu apoio para o plano.
Na Bahia, Lula recebeu 69,7% dos votos no primeiro turno, enquanto Bolsonaro obteve 24,3%.
Ainda durante a manhã do dia 30 de outubro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) agiu impedindo a fraude nas eleições. O presidente da Corte, Alexandre de Moraes, determinou que haveria multa e suspensão do diretor da PRF, Silvinei Vasques, que pediu votos ilegalmente para Bolsonaro, do cargo.
GOLPE E PRISÃO
Anderson Torres está preso por ter participado da tentativa de golpe do dia 8 de janeiro. Na época, ele era secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, após exercer o cargo de ministro da Justiça de Bolsonaro.
Dois dias antes do ataque, Torres viajou para os Estados Unidos, deixando a Secretaria acéfala e sem capacidade de resposta imediata à tentativa de golpe.
Na investigação sobre o caso, a PF descobriu que Anderson Torres mantinha em casa a minuta de um decreto presidencial para instalar um “estado de defesa” sobre o TSE e falsificar o resultado das eleições.
Em depoimento, Torres falou que recebeu o documento através de sua secretária e, por isso, sequer sabia quem era o autor.
A secretária, no entanto, negou. “Nunca entreguei nada”, disse ela à PF.