A denúncia formulada pela esposa do embaixador é corroborada por lideranças e organizações, entre elas a Unidade Nacional Azul e Branca
O ex-embaixador sandinista da Nicarágua na OEA, Edgard Parrales, crítico do governo de Daniel Ortega, foi sequestrado na segunda-feira (22) em frente à sua casa em Manágua, denunciou sua esposa, Carmen Dolores Córdova. “Meu marido foi sequestrado porque (seus captores) não apresentaram um mandado de prisão nem se identificaram”, disse ela.
“Eles o capturaram em sua casa, não eram policiais uniformizados, mas duas pessoas em trajes civis que o levaram de carro”, confirmou a presidente do Centro de Direitos Humanos da Nicarágua, Vilma Núñez, reforçando a denúncia. “A OEA tem muitos problemas, o governo tem todo o direito de retirar o país da Organização, mas prender alguém por discordar de sua posição é criminoso, o desqualifica”, afirmou.
“Edgard Parrales, ex-diplomata, (foi) sequestrado hoje pelo regime de Ortega-Murillo, mais um cidadão privado de liberdade por expressar sua opinião”, insistiu no Twitter a organização Unidade Nacional Azul e Branca (UNAB).
Até o momento, nem a polícia nem o Ministério Público confirmaram a prisão de Parrales, como aconteceu com os demais oponentes de Ortega presos antes das eleições de 7 de novembro em que obteve o quarto mandato consecutivo.
Antes de ser capturado, Parrales, que ocupou o cargo de embaixador junto à OEA de 1982 a 1986, quando Ortega exerceu o poder pela primeira vez, analisou a saída da Nicarágua da OEA na emissora de televisão “Canal 10”. No programa, ele declarou que o governo de Ortega deveria cumprir os compromissos assumidos com a organização antes da retirada. O governo nicaraguense anunciou a saída da organização na última sexta-feira, após a 51ª Assembleia Geral da OEA ter advertido que as recentes eleições, que prolongaram o mandato de Ortega por cinco anos, “não foram livres, justas, nem transparentes e carecem de legitimidade democrática”.
A prisão do ex-diplomata fez subir para 42 o número de cidadãos críticos ou opositores políticos do presidente nicaraguense que foram detidos desde maio, incluindo sete importantes personalidades que aspiravam a concorrer à presidência durante o pleito de 7 de novembro.
Também ex-sacerdote, o diplomata foi um dos quatro religiosos sancionados em 1983 pelo falecido Papa João Paulo II por apoiarem a Revolução Sandinista. Os outros três foram o poeta Ernesto Cardenal, seu irmão Fernando Cardenal e o chanceler Miguel D´ Escoto, todos já falecidos.
Nos últimos anos, ele se dedicava a fazer análises sobre a crise que atravessa a Nicarágua desde os protestos de 2018 contra o governo, cuja repressão deixou 355 mortos e mais de 103 mil exilados, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Em entrevista que concedeu, disse que da revolução sandinista “não sobrou nada”, e que lamenta os rumos que o país tem tomado.
“Da revolução como tal, não sobrou nada. Com o passar do tempo, o que permaneceu é uma imagem absolutamente adversa, negativa. É uma espécie de antítese do que poderia ter sido a revolução ”, afirmou em entrevista que concedeu poucos dias antes do seu sequestro.
Carmen Córdova, expressou sua preocupação com o estado de saúde do marido que é muito delicado, incluindo “uma hérnia que não foi operada por falta de dinheiro”.