O ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, revelou à Polícia Federal que portou clandestinamente um estojo de joias dado pelas autoridades da Arábia Saudita e admitiu que não informou aos fiscais da Receita Federal do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
Ele declarou no depoimento que só abriu a caixa no dia seguinte (porque já sabia do que se tratava), no ministério, onde os itens ficaram guardados por aproximadamente um ano, em vez de terem sido entregues imediatamente ao acervo do Palácio do Planalto.
Bento liderou uma comitiva que representou o então presidente da República em uma viagem ao país árabe em outubro de 2021.
Ao retornar ao Brasil, um assessor dele, Marcos Soeiro, foi flagrado com um outro pacote de joias, avaliadas em R$ 16,5 milhões. Como não havia sido declarado ao Fisco, o material foi retido pela Receita.
Albuquerque já tinha passado pela alfândega, mas retornou ao local ao ver que seu auxiliar havia sido abordado. Ele tentou interceder para que as joias fossem liberadas, em vão. Na ocasião, de acordo com o Estadão, ele alegou que os bens eram um suposto “presente” para a então primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
A Polícia Federal abriu um inquérito para apurar o ocorrido, segundo o jornal O GLOBO que teve acesso à integra do depoimento de Albuquerque, prestado no último dia 14 de março.
O ex-ministro disse no depoimento que explicou as circunstância do recebimento aos auditores, mas um deles disse que as joias ficariam apreendidas até que se comprovasse que seriam destinadas ao acervo público.
Bento diz ter argumentado que os procedimentos formais exigidos pela Receita seriam adotados. O ex-ministro, entretanto, admitiu aos policias federais que “não chegou a comentar que teria outra caixa na sua bagagem”.
No entanto, Bento Albuquerque alegou que não avisou Bolsonaro sobre os presentes. Mas o próprio ex-presidente, ao retornar dos Estados Unidos, na semana passada, admitiu que tentou reaver as joias apreendidas em Guarulhos.
Normalmente, presentes entre governos são despachados como bagagem diplomática, sobre a qual não há cobrança — já que se trata de um bem do governo brasileiro. Não foi o caso destas joias que o ex-ministro trouxe os objetos em sua bagagem pessoal. Não explicou por que. No caso dos bens trazidos por Bento Albuquerque, o recibo de entrega ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal do Presidente da República, consta que a caixa contém itens “destinados ao Presidente da República Jair Messias Bolsonaro”.
Bolsonaro fez nada menos que 8 tentativas desesperadas para ficar com as joias apreendidas pela Receita. Felizmente os funcionários da Receita Federal foram íntegros e não se submeteram às pressões palacianas.
TCU
Por determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), Bolsonaro teve que devolver as joias de um segundo estojo que escapou da fiscalização da Receita. Teve que devolver duas armas que recebeu dos Emirados Árabes e ele se apropriou indevidamente.
Mesmo depois do escândalo com o recebimento e entrada ilegais dos dois pacotes de joias, Jair Bolsonaro escondeu que havia um terceiro.
Esse terceiro foi entregue pela Arábia Saudita a Jair Bolsonaro em 2019, quando ele visitou o país. O estojo tinha um relógio da marca Rolex de ouro branco cravejado de diamantes, cujo valor chega a R$ 364 mil.
As outras peças, como a caneta da Chopard, um par de abotoaduras em ouro branco, um anel em ouro branco e um rosário árabe, também carregavam diamantes e pedras preciosas. Ao todo, o conjunto foi avaliado pelo Estadão em, no mínimo, R$ 500 mil.
O relógio e as outras peças do terceiro estojo foram escondidas por Bolsonaro na “Fazenda Piquet”, de propriedade do ex-piloto Nelson Piquet, aliado de Bolsonaro, em Brasília.
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Nelson Piquet, dono da fazenda onde parte das joias do Bolsonaro, que recebeu da Arábia Saudita, foi escondida vai ter que explicar a justiça, isto é uma vergonha Piquet.