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Deputado federal bolsonarista publicou foto do então candidato do PT com boné que exibia as iniciais CPX dizendo que significam “cupinxa, parceiro do crime”. Na verdade, CPX significa Complexo, referente a “complexo de favelas”
O deputado federal bolsonarista Mario Frias (PL-SP) se tornou réu na Justiça Eleitoral de São Paulo pelo crime de divulgar fake news contra o presidente Lula (PT), na campanha de 2022. Caso seja condenado, o parlamentar pode perder o mandato e ficar inelegível por 8 anos.
A denúncia oferecida pelo MPE (Ministério Público Eleitoral) aceita pela Justiça Eleitoral de São Paulo diz respeito a post feito pelo parlamentar na rede social X. Na ocasião, Frias republicou uma foto de Lula usando o boné com a sigla CPX e afirmou que o significado da abreviação seria “parceiro do crime”.
CPX é a sigla de Complexo, referente a “complexo de favelas”. Lula ganhou o boné com as iniciais CPX, em outubro de 2022, durante visita ao Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
O acessório foi presente de moradores daquela comunidade.
“CUPINXA” E CUPINCHA
Incultos e ignorantes, até quando divulgam mentiras erram a grafia das palavras. É o caso do termo “cupinxa”, cuja escrita ou grafia correta é cupincha. Não é à toa que ele foi ministro da “Cultura” de Bolsonaro.
O termo “cupincha” é uma gíria, que significa amigo, camarada, companheiro ou parceiro. Pode também ser usada para se referir a alguém que é parceiro de outra pessoa em algo, como comparsa.
Cupincha pode ser usada ainda em contextos de amizade ou para se referir a alguém que é parceiro de outra pessoa em algo.
BOLSONARISTA MENTIROSO
Na conta dele no X, o deputado Mario Frias publicou foto de Lula usando o boné e escreveu: “Gíria utilizada pelo crime CPX = cupinxa, parceiro do crime”.
A publicação teve mais de 43 mil curtidas e 10 mil compartilhamentos.
No mesmo post, Frias comparava o petista a Jair Bolsonaro (PL), com imagem do então presidente e candidato à reeleição usando boné, na cor azul, com PRF, a sigla da Polícia Rodoviária Federal.
ATAQUE DE BOLSONARO
O próprio Bolsonaro atacou Lula pelo uso do boné. “Esse ladrão, no BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social], fez obras fora do Brasil. E para aqui, não fez nada. Não olhou para o povo. Olhou apenas para os seus amigos, os seus ‘cupinchas’, os seus CPX”, afirmou o ex-presidente em discurso, durante o segundo turno da campanha, em outubro de 2022.
Bolsonaro usou o episódio do boné, e distorceu, na ocasião, o significado de CPX, para atacar Lula em outras ocasiões, incluindo debates com o então presidenciável na TV.
Para o Ministério Público Eleitoral, Mario Frias teve clara intenção de associar Lula à facção criminosa, ao distorcer o significado de CPX, e, certamente, causou prejuízos à imagem do então candidato a presidente da República, em meio à campanha eleitoral, que Lula venceu, no segundo turno, por margem apertadíssima de votos.
DENÚNCIA DO MPE
“O denunciado, assim, agiu com a intenção de ligar a figura de Luiz Inácio Lula da Silva a facções criminosas que atuam no município do Rio de Janeiro e, com isso, influenciar os eleitores a não votarem no referido candidato”, está escrito trecho da denúncia do MPE.
O órgão reforçou, na denúncia, que a sigla CPX é abreviatura da palavra “complexo” e que o boné foi produzido por moradores da região do Complexo do Alemão, sendo doado ao petista na ocasião.
Para o MPE, então — Frias infringiu o artigo 323 do Código Eleitoral — “divulgar, na propaganda eleitoral ou durante período de campanha eleitoral, fatos que sabe inverídicos em relação a partidos ou a candidatos e capazes de exercer influência perante o eleitorado”.
DECISÃO DA 6ª ZONA ELEITORAL DE SP
Ao acatar a denúncia do MPE, a juíza Cecília Pinheiro da Fonseca, da 6ª Zona Eleitoral de São Paulo, considerou haver “prova da materialidade delitiva e indícios suficientes da autoria”.
Na última terça-feira (18), a magistrada mandou oficial de Justiça notificar Mario Frias para apresentar a defesa por escrito em até 10 dias.
TENDÊNCIAS E DESDOBRAMENTOS
A tendência do juízo da Zona Eleitoral, considerando situações semelhantes em que os réus foram julgados culpados, é que o veredito aponte Frias como culpado. Daí, ele poderá recorrer ao TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo).
Do mesmo modo, considerando julgamentos da Corte Eleitoral estadual, em situações semelhantes, a Justiça Eleitoral tende a manter a decisão da Zona Eleitoral.
Assim, a defesa do deputado deverá recorrer ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a instância máxima da Justiça Eleitoral no Brasil.
O julgamento na Corte Superior, por sua vez, é uma incógnita.