O II Ato Internacional pelo Dia da Democracia, organizado pelo movimento Direitos Já!, está realizando neste final de semana uma vigília virtual, de mais de 30 horas, com personalidades políticas, religiosas, da área cultural, empresarial e intelectuais nacionais e internacionais, que segue a pauta da defesa da democracia e do impeachment de Bolsonaro.
O Direitos Já! realizou a abertura presencial do evento no último dia 15, e reuniu lideranças políticas e representantes de 16 partidos unidos em defesa da democracia e pelo “Fora Bolsonaro”.
EX-MINISTROS
A vigília foi aberta pelo coordenador do Direitos Já!, o sociólogo Fernando Guimarães, que entrevistou os ex-ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim e Aloysio Nunes.
“É urgente unirmos todos, da esquerda e da direita democrática, para combatermos o Bolsonaro e, sobretudo, para pensarmos no futuro do Brasil, no que vem depois, em um programa de recuperação do país”, afirmou Aloysio Nunes.
No sábado, diversas personalidades falaram sobre democracia, o seu significado para o país e, sobretudo, o quanto ela é importante na vida de cada um dos cidadãos brasileiros.
Seja para promover o desenvolvimento, com emprego e renda, na promoção do livre pensamento e ideias, no respeito à diversidade religiosa, no combate às desigualdades sociais, no desenvolvimento cultural e educacional, no combate às discriminações raciais, às mulheres, aos indígenas, e defesa do meio ambiente, tudo que vem sendo arrasado por Bolsonaro.
MARTA
Como afirmou a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, “democracia é tudo, é com ela que fazemos todas as lutas, a luta das mulheres, dos negros, dos oprimidos”. Para Marta, o momento é de união. “Temos que dar as mãos, deixar de lado as diferenças, pacificar o país. Todos juntos pela democracia”, disse a ex-prefeita.
“De um lado a democracia, e, de outro, o obscurantismo, a cultura da violência e do terror. Tenho certeza que vamos optar pelo bem, pelo futuro, pela valorização do mundo do trabalho, com emprego e renda para a juventude, investimento nas áreas periféricas, na ciência, na engenharia e na educação”, afirmou Allen Habert, que é engenheiro de produção, mestre pela USP, e ex-presidente do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo.
MAIS DE 100 ARTISTAS
Além de falas das mais diversas lideranças, como do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo, afirmando que apesar das ameaças bolsonarista, “o Brasil nasceu destinado à democracia, e ela é o destino do país”, até o início da noite de sábado, o evento contou com blocos de participações, como de lideranças da Frente Inter-Religiosa por Justiça e Paz Dom Paulo Evaristo Arns, de empresários do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais), e de artistas, em participações isoladas, ou no belíssimo vídeo produzido em parceria com a Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro – APTR.
“Somos de diferentes tradições religiosas, mas temos em comum o apreço pela paz, pela justiça e pela democracia”, afirmou o Cônego José Bizon, que abriu a participação dos religiosos.
Assim como ele, em suas falas, representantes de religiões católicas, afro-descendentes, evangélicas, budistas, judaicas, árabes e indígenas, entre outras, lembraram o quanto o ato em que participavam servia como uma homenagem a Dom Paulo Evaristo Arns, que dedicou sua vida à defesa da democracia e dos direitos humanos no Brasil.
Falaram também do quanto a luta pela democracia, com justiça, paz e trabalho em prol do país e dos mais pobres, se conecta com os preceitos religiosos verdadeiros.
A participação dos artistas, além de vários depoimentos isolados, foi um momento à parte de beleza e arte em defesa da democracia, pelo “Fora Bolsonaro”, e em defesa da cultura, que vê suas instituições sendo destruídas e desrespeitadas por Jair Bolsonaro.
O vídeo produzido pela Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro (APTR) teve a participação de mais de cem artistas, entre atores, compositores, cantores, poetas, cineastas e produtores culturais, etc.
Mesclando pequenas cenas teatrais, ou declamação dos atores, com textos da dramaturgia mundial como Sófocles, Brecht, Anton Tchekhov, ou brasileiros como Oduvaldo Viana Filho, o Vianinha, os atores trouxeram à cena a defesa da democracia, e o repúdio ao autoritarismo e à ditadura.
“Não há Estado algum que seja pertença de um homem só”, declamou o ator Fabrício Boliveira ao contracenar com Ailton Graça um trecho da peça “Antígona”, de Sófocles.
As falas e cenas de atores, performances musicais, declamação de poemas de artistas como Marco Nanini, Renata Sorrah, Julia Lemmertz, Marisa Person, Emiliano Queiroz, Paulo Betti, Elisa Lucinda, Fábio Porchat, Jéssica Ellen, Laís Bodanzky, entre outros, eram entremeadas com imagens de artistas como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Marieta Severo, Cassio Scapin, Zeca Baleiro, Marisa Orth, Chico Cesar e Nando Reis, entre dezenas de outros, que gestuavam com as mãos na boca, ouvidos e olhos, a representação da censura, da privação da liberdade, da ditadura.
DESTRUIÇÃO
Os artistas denunciaram o desastre que o governo Bolsonaro vem causando na cultura do país. Eduardo Barata, presidente da APTR, fez um apanhado dos ataques do governo às políticas culturais e das perdas do setor.
“É uma governança que mata mais desejos e sonhos que o coronavírus. Um governo que destrói as políticas culturais tão duramente conquistadas, que tem um Secretário de Cultura que anda armado, ameaçando e promovendo assédio moral aos funcionários”, denunciou, referindo-se ao secretário da pasta, Mário Frias, constantemente acusado de racismo e de intimidar os funcionários dos órgãos de cultura, entre outras atitudes fascistas.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), autora da Lei Aldir Blanc, de ações emergenciais de financiamento do setor cultural, falou ao lado dos artistas.
“Como imaginar a arte e a cultura sem democracia? A cultura é o que dá organicidade aos valores da civilização. E, nesse momento, a cultura pode fazer frente à estupidez instalada no poder do país”, disse.
A vigília, que continuou ao longo da noite e madrugada, e continua neste domingo, teve e terá ainda a participação de centenas de personalidades e representantes da sociedade civil, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Confederação das Mulheres do Brasil (CMB) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), além de lideranças nacionais e internacionais.