Os ex-ministros de Relações Exteriores de Collor, Itamar Franco, FHC, Lula e Temer fizeram conferência e criticaram a política externa de Jair Bolsonaro e Ernesto Araújo de alinhamento automático a Donald Trump e de ataques a “inimigos imaginários”.
Através de videoconferência, os ex-ministros Celso Lafer, Celso Amorim e Aloysio Nunes, o ex-ministro da fazenda e referência nos estudos internacionais Rubens Ricupero e o ex-secretário de Assuntos Estratégicos, Hussei Kalout, participaram da Brazil Conference, organizado pela Universidade Harvard e MIT, ambas dos Estados Unidos, com mediação da jornalista Vera Magalhães.
Para Celso Lafer, que foi chanceler nos governos de Collor e Fernando Henrique Cardoso, a política externa de Bolsonaro “não tem nenhuma relação com a realidade e vem levando ao nosso isolamento no mundo”. “No lugar de afirmar a presença brasileira internacionalmente, combatemos inimigos imaginários”, completou.
O ministro das Relações Exteriores de Itamar Franco e Lula e da Defesa do governo Dilma, Celso Amorim, afirmou que “hoje existe uma total ausência de razão no Itamaraty. Nesse meio século como diplomata e ministro nunca vi nada igual. Estamos vendo um ataque à razão, é um desastre. O dano sendo feito à reputação do Brasil não poderia ser pior”.
Amorim acredita que há uma unidade entre os ex-ministros que participaram da reunião. “Todos partimos de um discurso racional, a partir do qual é possível debater. Hoje em dia, não há nenhum”.
Aloysio Nunes, que foi chanceler de Temer e ministro da Justiça de FHC, afirmou que “a situação só não é pior porque o Brasil tem uma diplomacia muito competente que contém os estragos”.
“O alinhamento primário não é com os EUA, mas com o governo Trump”, criticou o ex-ministro. Bolsonaro e Ernesto Araújo seguiram Trump, por exemplo, no reconhecimento de Juan Guaidó como presidente da Venezuela, ao invés do eleito Nicolás Maduro, e retiraram os membros da embaixada brasileira de Caracas.
“Coisa horrorosa a retirada de todos os representantes de lá, deixando nossos cidadãos a ver navios”, disse Aloysio.
Rubens Ricupero, reconhecido nacionalmente como grande estudioso das Relações Internacionais, afirmou que “hoje existe praticamente uma unanimidade na condenação da política externa do Brasil, e só mesmo nas franjas lunáticas pode haver alguém que defenda essa política”.
“Esta política é como o próprio Bolsonaro, que disse que não veio para construir, mas para desconstruir e destruir o que já tinha sido feito”, continuou.
Ricupero brincou que Bolsonaro tem “dedo podre”. “Esse governo só escolhe as alianças erradas: Mauricio Macri [ex-presidente da Argentina], Matteo Salvini [ex-vice premiê da Itália], Viktor Orban [primeiro-ministro da Hungria]”, avaliou.
Hussei Kalout, que é pesquisador em Harvard, acredita que o apoio de Bolsonaro a Trump “não é mais um alinhamento automático, é uma subserviência cega que tende a prejudicar gravemente interesses do Brasil. O Brasil está fazendo concessões reais em troca de migalhas políticas que não agregam nada ao nosso interesse nacional”.
“Há uma completa ausência de estratégia. Hoje só ocorrem movimentos táticos conjunturais que não configuram uma estratégia integrada e coesa e nos colocam em uma posição extremamente vulnerável. O Brasil não sabe como desenvolver a região, não tem um projeto para liderar a América do Sul”, avaliou.
“O Brasil está se impondo uma autoisolamento, agindo de forma beligerante contra o mundo”, completou.