Cristina Boner Leo era dona da “B2BR Business To Business Informática”. Foi processada em 2009 por pagar propina no governo Arruda, do DF. Trocou o nome para Globalweb Outsourcing e colocou sua filha na direção. Condenada em junho de 2019, foi proibida de fazer contrato com o poder público até 2022
Reportagem do UOL revelou, no último fim de semana, que a Globalweb, empresa pertencente à ex-mulher de Frederick Wassef, o famoso advogado de Flávio Bolsonaro que escondeu Fabrício Queiroz em sua casa por mais de um ano, recebeu R$ 41 milhões do governo Bolsonaro de janeiro de 2019 até junho deste ano.
Esse valor teria sido pago por serviços de tecnologia da informação e informática para o BNDES e o Ministério da Educação. Curiosamente dois órgãos que não fizeram praticamente nada neste período. O BNDES parou de financiar e o MEC assistiu aos desastres de Ricardo Velez e Abraham Weintraub.
Cristina Boner Leo é fundadora da empresa, que foi criada em 2010. Os serviços com o governo começaram na gestão Dilma Rousseff e continuaram com Michel Temer. O que chamou a atenção é que o valor pago à empresa neste período, desde que Bolsonaro assumiu, R$ 41 milhões, é o que foi gasto durante todo o período de quatro anos de Dilma e Temer.
A dona da empresa foi condenada em junho de 2019 por improbidade administrativa – conforme sentença da 2ª Vara de Fazenda Pública do Distrito Federal – no chamado “mensalão do DF” e proibida de fechar contratos com a administração pública até 2022. A ré recorreu da sentença, mas responde também a outro processo por corrupção ativa com pedido de prisão por 10 anos e pagamento de multa de 43 milhões de reais.
Segundo levantamento feito pelo UOL no portal da Transparência e Diário Oficial, os contratos que a empresa tinha negociado com governos anteriores foram prorrogados e receberam aditivos de R$ 165 milhões na gestão de Bolsonaro.
Além disso, o novo governo fechou novos contratos com a Globalweb Outsourcing no valor de R$ 53 milhões – totalizando um compromisso de R$ 218 milhões a serem pagos pelos cofres públicos nos próximos anos. O crescimento dos contratos com a empresa de sua ex-mulher não teriam nenhuma relação com sua íntima amizade com a família Bolsonaro, garante o advogado que escondeu Queiroz em sua casa.
Cristina Boner foi processada como resultado da Operação Caixa de Pandora, deflagrada pela Polícia Federal em novembro de 2009, e que resultou na queda do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda (2007-2010). Ela foi acusada por Durval Barbosa, pivô das denúncias do Mensalão do DF, de abastecer o esquema de corrupção entre o ex-governador José Roberto Arruda e deputados distritais com propinas em troca de contratos com o governo.
Na época, ela era responsável pela administração da empresa B2BR Business To Business Informática.
Em janeiro de 2019, o Ministério Público do DF pediu a condenação das pessoas envolvidas no caso, entre elas Cristina Boner, que teria repassado a propina. “O conjunto probatório produzido nos autos [depoimentos de Durval Barbosa, laudos periciais de captação ambiental, vídeos, monitoramento de quantias] foi mais que suficiente para comprovar que a ré Maria Cristina Boner Leo ofereceu e efetivamente pagou vantagem indevida aos réus”, disse o MP.
Foi pedida também a condenação de José Roberto Arruda e do ex-vice-governador Paulo Octávio, entre outras pessoas, o que ocorreu em junho do mesmo ano. Cristina ficou proibida de fazer contratos com o poder público atá 2022.
Um fato curioso é que Jair Bolsonaro fez um negócio particular com a ex-mulher de Wassef em 2015, ainda como deputado federal, segundo reportagem do ano passado da revista Veja. Ele comprou dela uma Land Rover blindada, que era avaliada à época em R$ 77 mil, e pagou apenas R$ 50 mil pelo veículo.
A venda da Land Rover foi feita pela Compusoftware, uma empresa então comandada pela ré. Alguns já viram neste episódio o dedo de Frederick Wassef que nesta época já dizia ser íntimo da família Bolsonaro. Foi ele que, na ocasião, indicou um criminalista, e depois participou, da defesa de Bolsonaro no caso do processo movido pela deputada Maria do Rozário.
Wassef foi ganhando espaço na intimidade da família Bolsonaro e assumiria mais tarde a difícil tarefa de tentar livrar Flávio Bolsonaro da Justiça no caso do esquema de lavagem de dinheiro e organização criminosa instalado em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. O caixa da organização era Fabrício Queiroz.
Em julho de 2019, Wassef colheu uma vitória que impressionou o Planalto e aumentou seu prestígio entre os bolsonaros: foi dele o pedido que levou o presidente do STF, o ministro Dias Toffoli, a suspender todos os processos judiciais do país que usavam dados da Receita Federal, do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e do Banco Central sem autorização prévia da Justiça.
Com a queda da liminar de Toffoli, derrubada pelo plenário da Corte, só restou a Wassef esconder Queiroz em sua casa de Atibaia. O plano estava dado certo até quinta-feira (18), quando, depois de um ano escondido na casa de Wassef, Queiroz foi preso.