O ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, foi beneficiado por uma reforma no valor de R$ 50 mil paga pela estatal na mansão em que mora em Brasília, no Lago Paranoá.
Guimarães, que foi indicado para o cargo por Jair Bolsonaro, pediu demissão depois que funcionárias da Caixa denunciaram diversos casos de assédio sexual praticados por ele.
O jornal Folha de S.Paulo confirmou, com funcionários da estatal e da EMIBM Engenharia, que a obra foi realizada e teve acesso a imagens dela em andamento.
Um funcionário contratado pela EMIBM Engenharia disse que foram instalados 11 postes no quintal da mansão. Segundo ele, a casa tinha uma cerca que a separava do Lago Paranoá, mas foi retirada.
“Antigamente tinha uma cerca, retiraram a cerca e ela ficou aberta pro lago. Quem me contratou foi a EMIBM, nós prestamos serviços para ele. Para mim, nada com Caixa. Eu nem sabia que era da Caixa”, disse Elizário Filho.
No entanto, a obra de R$ 50 mil é justificada, nos registros da Caixa, para aprimorar a segurança de Pedro Guimarães, que recebeu ameaças pela internet. O que não se entende: se era para aprimorar a segurança, em vez de colocar e reforçar a cerca, qual o motivo para retirá-la?
Depois de retirada a cerca, o quintal da mansão de Pedro Guimarães passou a se estender até a beira do Lago Paranoá. A região é a mais valorizada de Brasília.
A casa tem um campo de futebol e foi alugada por Guimarães depois que ele saiu de um hotel de luxo que era pago pela Caixa em Brasília. É comum as mansões do Lago Paranoá terem um píer para barcos, embora ilegais.
Pedro Guimarães tentou, antes da reforma para instalação dos postes, passar o custo da retirada da cerca para a estatal, mas não conseguiu. Na época, não era Simone Benevides de Pinho Lima a diretora executiva de Logística e Segurança da Caixa.
A Folha obteve mensagens de Simone Benevides autorizando o deslocamento da empresa terceirizada EMIBM para a instalação dos postes no quintal da casa de Pedro Guimarães.
Ela alega que permitiu que a estatal pagasse a reforma por questão “de segurança”. “Foi na época da ameaça do auxílio emergencial, dos falsários, que publicaram a ameaça na internet”.
A EMIBM é contratada pela Caixa Econômica Federal há 25 anos via licitações. O último contrato, de junho de 2020, tem um valor de R$ 16,3 milhões, dos quais já foram executados R$ 4,9 milhões.
SALÁRIO DE R$ 180 MIL
Gravações de reuniões da diretoria da Caixa Econômica Federal obtidas pelo site Metrópoles mostram Pedro Guimarães tendo acessos de raiva e xingando os funcionários da estatal por terem mudado uma regra que permitia que ele tivesse um aumento salarial de R$ 130 mil.
Pedro Guimarães, enquanto presidente do banco, indicava ele mesmo para o máximo de conselhos que conseguia, para, assim, receber aditivos ao seu salário. Ele já chegou a integrar 18 conselhos, que lhe garantiam R$ 130 mil a mais por mês e se somavam aos R$ 56 mil regulares.
Em uma reunião, ele xingou os funcionários da Caixa por terem estabelecido que uma pessoa só poderia ser membro de dois conselhos por vez. Para ele, a regra foi instalada para “foder” com ele.
“Estão querendo me f*. Eu não acredito que isso daí é incompetência. Eu acredito no que eu já falei para vocês dois: está chegando a eleição e nego está querendo fazer hedge [se proteger], e eu vou tirar todo mundo que eu achar que está fazendo hedge. Porque, deixa eu falar para todos vocês: ou vocês estão comigo ou vão buscar Haddad e o Lula. Não tem essa de querer ficar comigo e com o Lula. Bem claro isso. Porque isso eu não acho que é um erro. Nego não pode ser tão ruim assim, a ponto de querer me expor dessa maneira. E ninguém viu?”, falou sem saber que estava sendo gravado.
“Todas as pessoas que leram isso vão explicar por que aprovaram isso. Porque isso aí não existe. Se não, fico eu sozinho, e o pessoal falando que eu quero ganhar dinheiro em cima do banco. Então, assim…”, continuou Pedro Guimarães, que tinha quase R$ 200 mil de salário.
“É muita coisa acontecendo ao mesmo tempo agora que está próximo da eleição, que o PT parece que está crescendo e nego, na minha opinião, querendo fazer hedge. Só que isso, para mim, é traição” acrescentou.
ASSÉDIO SEXUAL
Pedro Guimarães e o vice-presidente da Caixa, Celso Leonardo, que são amigos pessoais, pediram demissão depois das denúncias de assédio sexual feitas por funcionárias da estatal a jornais.
Guimarães passava a mão no corpo das funcionárias e as constrangia com convites inapropriados durante viagens de trabalho. Celso Leonardo estava na Caixa para acobertar os crimes de Pedro Guimarães.
“Ele passou a mão em mim. Foi um absurdo. Ele apertou minha bunda. Literalmente isso”, denunciou uma delas. “Ele disse: ‘A gente vai fazer um carnaval fora de época (…) Ninguém vai ser de ninguém. E vai ser com todo mundo nu’”, disse outra vítima.
“Ele dizia, apontando para nós: ‘nessa viagem fulano vai pegar você, beltrano vai pegar você’. Foi nojento”, relatou outa funcionária.