A deputada Susana Rivero, que presidiu a Comissão Especial de Investigação Conjunta que investigou o caso Odebrecht e Camargo Corrêa na Assembléia Legislativa Plurinacional da Bolívia, pediu aos candidatos da aliança “Cidadãos”, formado por Carlos Mesa e Gustavo Pedraza que expliquem suas ligações com os subornos milionários na construção da rodovia Roboró-Puerto Suárez.
“Aqui há questões pendentes que devem ser explicadas, muitas perguntas que estes dois devem responder ao país, antes de iniciar sua campanha eleitoral”, declarou Rivero, para quem Mesa e Pedraza são a “dupla Lava Jato”. A parlamentar lembrou que Gustavo Pedraza era ministro do Desenvolvimento Sustentável do governo de Carlos Mesa (outubro de 2003 a junho de 2005) quando os contratos para a rodovia Roboré-El Carmen foram acertados com as empreiteiras brasileiras vinculadas a propinas de funcionários.
Após analisar mais de dez mil páginas de documentos, grande parte deles relativos a investigações realizadas no Brasil, a Comissão Especial fecha o cerco contra as ex-autoridades bolivianas implicadas.
“Estamos falando de cinco milhões de dólares somente em subornos e de 42 milhões de dólares de sobrepreço”, declarou a deputada Sônia Brito, do Movimento Ao Socialismo (MAS), lembrando que “foi encontrado o mesmo modus operandi (dos demais países em que a Lava Jato descobriu a corrupção), a forma em que se subornou a altos funcionários do Estado para que sejam favorecidos”.
De acordo com Susana Rivero, chama a atenção o fato das mesmas pessoas que tomaram as decisões mais importantes sobre a rodovia tenham registrado movimentos irregulares em suas contas bancárias, além de viagens aos mesmos destinos com dois dos principais acusados de negociar o pagamento dos subornos: Marcos de Moura e Jorge Barata.
“Há coisas inexplicáveis, demasiadas coincidências. As mesmas pessoas sempre fazendo as coisas nos mesmos tempos”, frisou Susana Rivero, apontando uma lista com nove nomes: Carlos Mesa, ex-presidente; Carlos Eduardo Mario Morales Landívar, ministro de Obras Públicas do governo de Gonzalo Sánchez de Lozada; Carlos Silvestre Alarcón Mondonio, vice-ministro de Justiça e ministro interno de Obras Públicas na gestão de Carlos Mesa; Luis Carlos Jemio Mollinedo, ministro da Fazenda de Carlos Mesa; Calos Silvestre Romero Mallea, vice-ministro de Energias Alternativas e interino de Obras Públicas de Carlos Mesa; José Antonio Galindo Neder, ministro da Presidência de Carlos Mesa; Luis Humberto Landivar Pereira, ex-gerente de Construção do Serviço Nacional de Estradas; Jorge Nicolás Peredo Flores, ex-gerente geral do Serviço Nacional de Estradas e Mario Avelino Moreno Viruez, ministro de Obras Públicas do governo de Eduardo Rodríguez Veltzé.
Rivero descreveu que em 2007, quando foram realizados o décimo terceiro e o décimo quarto pagamentos de propinas, dos mais de 20 acordados, houve oito coincidências de movimentos “inusuais e suspeitos” de Carlos Mesa; cinco de José Galindo, Jorge Nicolás Peredo e Mario Avelino Moreno; e um de Carlos Silvestre Romero, Carlos Alarcón, Luis Humerto Landivar e Luis Carlos Jemio.
Com base nas investigações da Comissão Especial, explicou Susana Rivero, o governo de Mesa instruiu a licitação da construção da rodovia e sua divisão por decreto. “O senhor Pedraza é advogado e sabia que uma rodovia não pode ser entregue por Decreto Supremo, que isso cabe ao Serviço Nacional de Estadas. Por que esse empenho a entregar a estas duas empresas?”, questionou.
Membro da Comissão que estuda há seis meses a corrupção da Odebrecht e da Camargo Corrêa na Bolívia, o deputado Edgar Montaño Rojas, disse que todos os indícios que se encontraram e envolvem a ex-autoridades, entre elas do governo de Carlos Mesa, serão investigados pela Procuradoria, instância a que foram enviados todos os documentos encontrados pela comissão legislativa.
“É o binômio Lava Jato porque foram identificados indícios sérios. Hoje um governador brasileiro foi preso pelo mesmo caso e ficou estabelecido que é a mesma maneira de operar, em 17 vezes a Bolívia é mencionada, diz-se que cerca de 5 milhões de dólares foram dados a funcionários com iniciais CM, CC e GG. Então a Procuradoria tem essa informação e irá apontar a quem esse dinheiro foi entregue “, disse Montaño.
Conforme Montaño, “os funcionários da gestão do senhor Eduardo Rodríguez (junho de 2005 a janeiro de 2006) e do presidente Evo Morales se aproximaram desta Comissão, abriram suas contas, mostraram seus atos administrativos em cada uma das instituições”. “Os únicos que se negaram a fazê-lo são os da gestão do senhor Mesa”, sublinhou.
Além da participação nefasta da Odebrecht em associação a Lula e setores sob sua influência no comando do PT para assaltar a Petrobrás, a principal estatal brasileira, também em diversos outros países da América Latina se constatou o processo de suborno em troca de contratos para obras governamentais. Assim, com parceiros em postos de mando – devidamente propinados – na Colômbia, México, Peru, Equador, Argentina, Venezuela, Guatemala, República Dominicana e Panamá foram obtidos contratos bilionários a favor da empreiteira.