No continente latino-americano, além da recente prisão do ex-presidente Lula, já estão detidos mais dois ex-presidentes; com prisão decretada, mas foragidos, outros dois, e na cadeia um vice-presidente.
O que há de comum entre eles, que articularam a corrupção em cinco países, são condenações por tais crimes tendo o PT (muitas vezes o próprio Lula) e empreiteiras, a exemplo da Odebrecht e OAS, como pivôs, distribuindo propinas em troca de obras bilionárias.
No Peru, por exemplo, além de dois ex-presidentes com prisão decretada, outros dois respondem por crimes ligados ao recebimento de propina da Odebrecht.
O esquema bilionário envolvia farta distribuição de verba advinda do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar as obras acertadas no estrangeiro. Ao todo, foram destinados US$ 50,5 bilhões de dinheiro do BNDES para obras no exterior, quase sempre realizadas pelos monopólios do cartel que manipulava o esquema.
Segundo dados levantados até agora, nas investigações divulgadas pela operação Lava Jato, Lula recebeu, como provável retribuição a estas tramas no Brasil e no exterior, apenas da Odebrecht, cerca de R$ 30 milhões.
Uma das formas que viraram rotina, era composta de visitas do ex-presidente, para tornar os países latino-americanos em contratantes da Odebrecht, seguidas de repasses através de palestras do ex-presidentes, agendadas pela empresa LILS, criada pelo petista em 2011. As palestras eram pagas a peso de ouro.
PERU
O ex-presidente peruano, Ollanta Humala, está preso preventivamente sob a acusação de receber US$ 3 milhões em propinas da Odebrecht. A prisão preventiva, que incluiu sua esposa, Nadine Heredia, foi solicitada pelo procurador German Juárez Atoche, em 13 de julho de 2017, buscando evitar a fuga do casal para outro país, a exemplo do ocorrido com o ex-presidente Alejandro Toledo, que fugiu entre o final de 2016 e início de 2017.
A propina paga pela construtora a Humala foi recebida durante as eleições presidenciais de 2006, quando derrotado por Alan García, e em 2011, eleito ao disputar contra Keiko Fujimori. Ele permaneceu no cargo até 2016. No dia 15 de maio de 2017, Marcelo Odebrecht afirmou aos investigadores peruanos que a propina foi encomendada por Palocci: “Chamei diretamente o Jorge Barata, [chefe de operações da Odebrecht no Peru] e lhe disse: Veja, o pessoal do Partido dos Trabalhadores me pediu para apoiar a campanha de Humala”.
Os contratos da Odebrecht no Peru, somam US$ 12 bilhões. Conforme as delações de executivos da empresa, entre os anos de 2005 e 2014, foram pagos ao menos US$ 29 milhões em subornos aos políticos do país.
De toda a propina paga pela Odebrecht, ao menos US$ 20 milhões foram para o bolso do ex-presidente Alejandro Toledo, conforme as investigações dos promotores peruanos. Toledo ocupou o cargo entre os anos de 2001 e 2006, e contra ele pesam uma ordem internacional de captura emitida pela Justiça peruana, que também oferece US$ 30 mil em troca de informações sobre o seu paradeiro.
Toledo recebeu propina da Odebrecht para garantir a vitória fraudulenta na licitação da Rodovia Interoceânica, que liga o Peru ao Brasil. Também conhecida como Estrada do Pacífico, a rodovia tem 2,6 mil quilômetros, a maior parte construída por um consórcio liderado pela Odebrecht. Para a mesma obra, Toledo recebeu da Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão outros US$ 6 milhões.
Seu sucessor, o ex-presidente Alan Garcia, que ocupou o cargo pela segunda vez de 2006 a 2011, responde pelo financiamento ilegal de sua campanha e a construção da Linha 1 do metrô de Lima. Em novembro do ano passado, Marcelo Odebrecht confirmou o pagamento de propinas a Garcia.
Um pouco antes, no dia 15 de dezembro de 2016, Barata confessou que o esquema do metrô foi firmado junto ao então vice-ministro das Comunicações, Jorge Cuba, que fechou acordo com o diretor de Contratos de Construção da Odebrecht, Carlos Nostre.
“Ele disse que poderia criar uma série de condições técnicas, incluindo algumas condições subjetivas, para nos beneficiar na licitação. Cuba fez uma proposta, afirmando que poderia garantir nossa vitória se recebesse uma contrapartida de US$ 1,4 milhão. Carlos Nostre me informou e eu autorizei”.
O último escândalo de corrupção envolvendo o Peru levou o ex-presidente, Pedro Pablo Kuczynski (PPK), a renunciar dia 21 de março para evitar o impeachment. PPK recebeu US$ 5 milhões em propinas da Odebrecht, entre os anos de 2004 e 2013. Partes destes recursos foram pagos enquanto ele era ministro de Economia de Toledo.
Embora tenha escapado do primeiro pedido de impeachment, votado em dezembro de 2017, ao firmar um acordo com o deputado Kenji Fujimori, filho do ditador Alberto Fujimori e irmão da deputada Keiko Fujimori, onde, para salvar seu mandato, deu perdão aos crimes do ex-ditador, despertando a ira popular que tomou as ruas, durante dias, exigindo a anulação do indulto.
EQUADOR
No Equador, o ex-vice-presidente, Jorge Glas, eleito na chapa do atual presidente Lenín Moreno, foi condenado no dia 13 de dezembro a seis anos de prisão. De acordo com os promotores equatorianos, Glas recebeu US$ 13,5 milhões em subornos da Odebrecht para favorecê-la em cinco projetos públicos, durante os anos de 2010 e 2012, enquanto ministro do ex-presidente, Rafael Correia.
O Equador foi o segundo país em volume de empréstimos do BNDES, totalizando US$ 3,3 bilhões, atrás apenas da Argentina. Entre as obras realizadas pela construtora, destacam-se a hidrelétrica de Toachi Piláton, orçada em US$ 1,2 bilhão, em construção há cerca de 10 anos, e o metrô de Quito, ao custo de US$ 2 bilhões. Para obter os contratos, a empresa admitiu subornos milhões a agentes públicos da ordem de US$ 33,5 milhões.
EL SALVADOR
O ex-presidente de El Salvador, Maurício Funes (2009-2014), também foi considerado culpado das acusações de enriquecimento ilícito, e encontra-se foragido na Nicarágua. “O presidente Lula me pediu fortemente, dizendo que era um interesse estratégico, ajudar a ele, o Maurício” na eleição de 2009, disse o marqueteiro João Santana à Lava Jato. Na ocasião, a esposa de Funes, Vanda, que figurou entre os fundadores do PT no Brasil, antes do casamento com o ex-presidente Maurício, procurou Palocci buscando propinas para campanha do marido.
Os recursos ilegais foram repassados pela Odebrecht, segundo Santana. Suas declarações convergem com as de Marcelo Odebrecht, que assumiu o pagamento de R$ 5,3 milhões em propinas a Funes em resposta ao pedido petista. Pouco depois, em 25 de fevereiro de 2010, Lula concedeu um empréstimo US$ 500 milhões ao governo de El Salvador, através de financiamento do BNDES. Como pagamento, Funes repassou US$ 2,8 milhões ao esquema de Lula, por intermédio da empresa de publicidade de João Santana.
PANAMÁ
O ex-presidente panamenho, Ricardo Martinelli, encontra-se preso nos EUA, após condenação pelo uso de ilegal de verba pública. Ele recebeu da Odebrecht US$ 59 milhões em subornos pelos contratos públicos. O suborno foi feito nas contas dos filhos de Martinelli, que respondem as acusações do Ministério Público, junto a outras 17 pessoas.
Entre as obras feita no país, duas foram financiadas pelo BNDES, à rodovia Madén-Colon, orçada em US$ 152,8 milhões, construída pela Odebrecht, e o metrô da Cidade do Panamá, com preço total de US$ 1,2 bilhão, sob responsabilidade da OAS, a mesma empreiteira que doaria o triplex a Lula não fosse a eclosão do escândalo que o envolveu.
Os trambiques da Odebrecht incluem também US$ 18 milhões pagos em propinas na Guatemala por obras de revitalização de estradas; US$ 92 milhões pagos na República Dominicana; US$ 98 milhões na Venezuela; US$ 2 milhões pagos ao presidente Macri, na Argentina; superfaturamento de US$ 46 milhões em obras na Pemex, no México; e US$ 28 milhões em subornos na Colômbia.
GABRIEL CRUZ