“Eu conheço Jeff há 15 anos. Cara fantástico… um bocado divertido. Diz-se que ele gosta de belas mulheres tanto quanto eu, e muitas delas são do lado mais jovem. Nenhuma dúvida disso – Jeffrey curte sua vida social” (Donald Trump à revista New Yorker em 2002, sobre o pedófilo Jeffrey Epstein)
Alex Acosta, o ex-promotor que favoreceu escandalosamente em 2007 o pedófilo bilionário de Wall Street, Jeffrey Epstein, não aguentou a pressão e renunciou na sexta-feira (12) ao cargo de secretário do Trabalho do governo Trump.
Sua renúncia vinha sendo exigida por parlamentares e entidades, após a prisão, no domingo passado, de Epstein, de 66 anos, em Nova Iorque, acusado de abusar de dezenas, talvez centenas, de meninas de 13 a 16 anos, entre 1999 e 2006, cuja pena pode chegar a 45 anos de cárcere.
O círculo de amizades do especulador em fundos hedge, Epstein, incluía o agora presidente Trump, o ex-presidente Bill Clinton, o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, o príncipe Andrews e outros figurões. Na época, o Boeing 727 particular de Epstein ficou conhecido como “Lolita Express”.
OPERAÇÃO ABAFA
Há 12 anos atrás, então promotor federal no sul da Flórida, Acosta encabeçou a operação abafa que permitiu que Epstein apenas pernoitasse por 13 meses na ala privada de uma prisão municipal, após fechar “acordo de não-acusação”, secreto, que garantiu imunidade a quatro cúmplices não identificados e a todos os “possíveis co-cúmplices”, isto é, outros pedófilos e recrutadores de menores. 41 vítimas haviam impetrado ação contra o pedófilo.
Série de reportagens do Miami Herald em novembro passado trouxe a questão à tona, ao entrevistar vítimas de Epstein e revelar o conluio encabeçado pelo procurador federal Acosta. A reportagem identificou 80 vítimas e localizou 60; oito aceitaram dar entrevistas.
Eram meninas pobres da oitava, nona série, atraídas para a mansão dele em Palm Beach, com ofertas de duzentos dólares por massagem.
“Jeffrey atacava garotas que estavam mal, garotas que basicamente eram desabrigadas. Ele foi atrás de garotas que ele achava que ninguém iria ouvir e ele estava certo”, disse Courtney Wild, que tinha 14 anos quando conheceu Epstein. As sessões de pedofilia chegavam a acontecer três vezes ao dia.
O ex-promotor estadual Bradley Edwards, que representa algumas das vítimas de Epstein, denunciou que Acosta “basicamente permitiu que o réu criminal escrevesse o acordo”. O pedófilo respondeu por apenas por uma acusação de prostituição e se declarou ofensor sexual, além de pagar indenização.
Para facilitar o acordo secreto, o caso foi deslocado de Palm Beach, onde fica a mansão de Epstein e onde estavam as vítimas, para o tribunal de Miami.
“Perversão da Justiça”, estampou o Herald.
“ASSUNTO DE INTELIGÊNCIA”
Segundo o Daily Beast, durante os procedimentos de averiguação para sua indicação ao cargo de Secretário do Trabalho, Acosta esclareceu que havia sido informado na época que Epstein estava “fora da alçada dele”, era “assunto da inteligência”.
A ação dos promotores de Nova Iorque foi desencadeada após o Departamento de Justiça ter barrado tentativa de juiz de Miami de reabrir o caso, e logrado manter o acordo espúrio.
De acordo com o procurador Geoffrey Berman, além de atrair e coagir dezenas de meninas a praticar atos libidinosos, Epstein buscava torná-las recrutadoras de novas vítimas oferecendo pagamento, para mais abusos por parte dele e seus associados.
As relações entre Epstein e os altos círculos do poder e das finanças são demonstradas esplendidamente por duas declarações de 2002. “Cara fantástico”, que gosta de mulheres “do lado mais jovem”, garantiu Trump, depois de dizer que o conhecia há “15 anos”.
“Financista bem sucedido e filantropo comprometido”, asseverou o ex-presidente Clinton, que com ele viajara à África numa das primeiras incursões da Fundação Clinton “pela democratização e empoderamento dos pobres”. Ele freqüentou o “Lolita Express” pelo menos mais 25 vezes.
Agora, andam todos correndo atrás do prejuízo e garantindo que mal o conheciam. Mas, com tanto rabo preso, não é propriamente fácil. O Daily Mail inglês afirma que os Clintons convidaram para o casamento de sua filha Chelsea a Ghislaine Maxwell, ex-namorada de Epstein, e tida como seu braço direito na criação da sua “rede sexual”.
A.P.
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