A abertura do inquérito militar foi uma consequência de uma sindicância aberta por determinação do comandante do Exército, general Tomás Paiva
O Exército Brasileiro abriu nesta terça-feira (27) um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar quatro militares por crimes relacionados à elaboração do manifesto golpista intitulado “Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro”. O grupo queria implantar uma ditadura entreguista no Brasil, sob o comando de Bolsonaro, e tentou convencer o comando do Exército a aderir ao golpe.
É sabido hoje que, na ocasião desses acontecimentos, o Comandante do Exército, general Freire Gomes, se recusou a participar da trama golpista da trupe bolsonarista, ameaçou prender o chefe do golpe e impediu a sua concretização. Ao perceber que não teriam o apoio das Forças Armadas para seus planos, Jair Bolsonaro e seu grupo, numa ridícula macaqueação do fascismo trumpista, insuflaram a invasão e depredação do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto.
Segundo investigações da Polícia Federal, a carta foi utilizada como instrumento de pressão ao comandante do Exército para que ele aderisse a um golpe de Estado em 2022. O militares golpistas que serão investigados são os coronéis Alexandre Castilho Bitencourt da Silva e Anderson Lima de Moura (ambos da ativa) e os coronéis Carlos Giovani Delevati Pasini e José Otávio Machado Rezo Cardoso (os dois da reserva). O Exército tem 30 dias prorrogáveis por mais 30 para concluir o inquérito.
A abertura do inquérito foi uma consequência de uma sindicância aberta por determinação do comandante do Exército, general Tomás Paiva. A sindicância investigou a participação de 37 militares na produção, assinatura ou disseminação da carta. Desses, segundo o Exército, 26 foram punidos com base no Regulamento Disciplinar do Exército (RDE), incluindo 12 coronéis, 9 tenentes-coronéis, 1 major, 3 tenentes e 1 sargento.
A sindicância concluiu que havia indícios de crime na confecção da carta, o que levou o comandante do Exército, general Tomás Paiva, a determinar a instauração do inquérito sobre os quatro coronéis para aprofundar as investigações. Os quatro militares inicialmente citados no IPM já haviam sido ouvidos durante a sindicância.
A carta golpista entregue ao comando do Exército foi encontrada no celular do tenente-coronel e ex-ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid. Os investigadores suspeitam que o documento tenha sido produzido em uma reunião de militares em novembro de 2022. Em depoimento à PF no início de março, o general Freire Gomes, então comandante do Exército confirmou que tomou conhecimento da carta através do setor de Comunicação Social do Exército.
Ao ser questionado sobre se o documento foi elaborado para pressioná-lo a aderir ao golpe de Estado, Freire Gomes respondeu afirmativamente, destacando que ordenou investigações em todos os comandos de área para identificar os envolvidos e adotar as medidas necessárias. O ex-comandante enfatizou que considera inapropriada a participação política de oficiais da ativa das Forças Armadas, como ocorreu com o documento em questão. Para a PF, a carta é um elemento central nas investigações sobre o envolvimento de militares em uma tentativa de golpe contra o governo democrático.