A Polícia Federal identificou transferências da empresa Cedro do Líbano Comércio de Madeiras para o sargento Luis Marcos dos Reis, da Ajudância de Ordem do Planalto, que fazia os pagamentos das despesas pessoais de Michelle Bolsonaro
A Polícia Federal encontrou, no celular do “faz-tudo” de Jair Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, mensagens sobre pagamentos e depósitos em dinheiro vivo em favor de Michelle Bolsonaro e de parentes dela. Uma empresa que tinha contrato com governo federal, a Cedro do Líbano Comércio de Madeiras e Materiais para Construção, empresa com sede em Goiânia, está ligada aos pagamentos irregulares.
A empreiteira fazia repasses a um militar da Ajudância de Ordens da Presidência da República. O segundo-sargento Luis Marcos dos Reis fez diversos saques e usou dinheiro vivo para pagar despesas de um cartão de crédito usado por Michelle Bolsonaro. Segundo a PF, foram identificados depósitos de pelo menos R$ 25.360 na conta do sargento Marcos dos Reis. As informações foram reveladas pelo site UOL.
A PF identificou que o dinheiro foi depositado por Vanderlei Cardoso de Barros, pai de um sócio da Cedro do Líbano, nas contas do sargento Luis Marcos dos Reis. Em pelo menos uma ocasião, o dinheiro foi transferido da conta bancária da própria empresa. A Polícia Federal concluiu que “Dos Reis” era o responsável por efetuar pagamentos a pessoas ligadas à ex-primeira-dama e a outros militares da Ajudância de Ordem do Palácio do Planalto.
A investigação começou em 2021, depois da quebra de sigilo de mensagens de Mauro Cid no inquérito que apura o vazamento de dados sigilosos de Bolsonaro para atacar o sistema eleitoral. A PF confirmou que o segundo-sargento Luis Marcos dos Reis, que trabalhava na Ajudância de Ordens da Presidência da República, recebeu repasses da empresa Madeireira Cedro do Líbano e seus sócios.
Em trocas de mensagens, Giselle da Silva, que era assessora da então primeira-dama, pediu, em nome de Michelle Bolsonaro, que Mauro Cid fizesse pagamentos mensais a Rosimary Cardoso Cordeiro. Segundo a Polícia Federal, Rosimary emitiu um cartão de crédito adicional em nome de Michelle e os gastos eram pagos com depósitos em dinheiro da Ajudância de Ordens da presidência.
Ao analisar os dados, a Polícia Federal encontrou recibos de depósitos enviados em um grupo de aplicativo de mensagens usado por ajudantes de ordem que atendiam Jair Bolsonaro e Michelle. As mensagens mostram que os pagamentos eram feitos sempre da mesma forma: em dinheiro vivo e de forma fracionada. Essa prática, de acordo com a PF, dificulta a identificação de quem repassou o dinheiro.
As mensagens revelam que o segundo-sargento Luis Marcos dos Reis recebeu diversos repasses da empresa Madeireira Cedro do Líbano e seus sócios. A PF identificou depósitos de, ao menos, R$ 25 mil na conta do sargento. Esse dinheiro era usado para o pagamento de despesas de Michelle. A empresa tinha contratos no governo Bolsonaro com a Codevasf – Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba.
Depois que o dinheiro caia na conta, o sargento sacava as notas em um caixa eletrônico. Ao todo, ele fez três depósitos para pagar gastos do cartão de crédito de Michelle, além de 12 depósitos em dinheiro na conta da tia de Michelle. Três dos depósitos do sargento Dos Reis foram para a conta de Rosimary Cardoso Cordeiro, amiga de Michelle Bolsonaro, que na época trabalhava como assessora parlamentar do gabinete do senador Roberto Rocha (PTB-MA).
Chamou a a atenção da Polícia Federal a movimentação de recursos entre o sargento e várias empresas, em especial a Cedro do Líbano. Os levantamentos realizados até o presente momento não permitiram identificar qualquer vínculo formal e/ou informal entre Luis Marcos dos Reis (e familiares) e a referida empresa que justificasse a movimentação financeira identificada.
A empresa Cedro do Líbano, que depositou recursos na conta do ajudante do Planalto, participa de licitações do governo federal. Um outro dado que também estranhou a PF é que essas licitações tenham como objeto bens diversos de sua atividade primária, que é a comercialização de madeiras.
Procurada, a defesa de Bolsonaro declarou que todas as despesas do dia-a-dia da família foram pagas com recursos próprios. Disse também que os depósitos na conta da tia de Michelle, Maria Helena Braga, eram destinados a pagar o trabalho como babá da filha mais nova do casal. Explicou, também, que a ex-primeira-dama usava o cartão adicional da amiga Rosimary Cardoso Cordeiro para pequenas compras e fazia o pagamento dessas despesas mês a mês.