Na exposição “Os desastres da guerra”, Dora Longo Bahia exibe com rara sensibilidade e compromisso um conjunto de imagens que estampam os crimes do imperialismo e do nazi-fascismo. Na Pinacoteca do Estado de São Paulo, as 80 pinturas reproduzem – em tinta acrílica sobre pergaminho – denúncias impactantes da repressão, crueldade e violência cometidas contra a Humanidade ao longo do século 20.
Com um traço próprio, são relembradas covardias como a do chefe de polícia de Saigon que, subalterno dos invasores estadunidenses, atira sumariamente na cabeça de um “vietcong” suspeito (1º de fevereiro de 1968) ou das crianças vietnamitas que fogem dos terríveis efeitos das bombas de napalm (8 de junho de 1972) lançadas contra seu vilarejo pelos aviões ianques. Junto à determinação do povo vietnamita, a repercussão destas fotografias teve papel-chave na mobilização da opinião pública internacional e na derrota dos EUA, que amargou um saldo de mais de 58 mil mortos no conflito.
Empregando o mesmo nome utilizado pelo espanhol Francisco de Goya, que reuniu oito dezenas de figuras entre 1810 e 1815 para mostrar os efeitos tenebrosos da guerra, a artista brasileira faz uma releitura da denúncia, mostrando e demonstrando toda a sua atualidade. Assim, com fino traço, as Guerras Mundiais, a Guerra Civil Espanhola, a Guerra do Vietnã e do Afeganistão saltam das telas, como a pomba da paz.
“Dora Longo Bahia trabalha temas como dor e morte, e tem sua prática artística informada pelo registro fotográfico”, assinala Amanda Moreira Arantes, do núcleo de pesquisa e curadoria. Conforme aponta Amanda, “mesmo difíceis de suportar, as imagens revelam certo poder de sedução e apontam para o ato intolerável de registrar – e não agir sobre – a dor dos outros”.
Incorporada ao acervo da Pinacoteca, em frente à Estação da Luz, a obra está numa das salas expositivas do segundo andar até o dia 5 de março..A visitação custa R$ 6 a inteira e R$ 3 a meia. Menores de 10 anos e maiores de 60 são isentos de pagamento.