O pedido de extradição do ex-líder guerrilheiro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), Jesús Santrich, para os Estados Unidos, por quem é acusado de “tráfico de drogas” – sem que haja nenhuma denúncia ao dirigente em qualquer tribunal colombiano -, é uma clara violação aos acordos de paz de Havana, que puseram fim a mais de 50 anos de confronto, que custaram mais de 200 mil vidas.
Preso e em greve de fome, Santrich lembra que o pedido de extradição, “foi emitido por um tribunal do Estado de Nova Iorque, após uma investigação da DEA, através da Interpol, e que só foi servido aqui através da cooperação”. “O que prevaleceu foi o interesse incontrolável do procurador-geral, Nestor Humbero Martinez, de agir contra mim. Não tenho processos na Colômbia sobre este assunto, nem qualquer pedido formal de extradição no momento da minha captura”, declarou Santrich, frisando que “além da intriga do procurador, há o poder onipotente da embaixada dos EUA na Colômbia, que é a que realmente governa as determinações desse Estado sob intervenção, completamente subordinado”.
“Há muitos inimigos da paz, não apenas fora da institucionalidade, mas também dentro dela. O interesse dos grandes latifundiários e dos partidos claramente identificados com o ex-presidente Álvaro Uribe é o fracasso do processo. Este procurador que colocar obstáculos para desfigurar o acordo, por isso dificultou a implementação da unidade de investigação e desmantelamento do paramilitarismo e, entre outras coisas, fixou-se na tarefa de buscar, a qualquer custo, a acusação de membros das FARC – hoje Força Alternativa Revolucionária do Comum”. Enquanto isso, no escritório do procurador Martinez, apontou Santrich, “há cerca de 15.000 cópias de documentos referentes ao fenômeno paramilitar que permanecem intocáveis”. “Os financiadores dos paramilitares parecem ser vacas sagradas, incluindo Uribe”, frisou.
O ex-líder guerrilheiro lembrou ainda que “mais de 600 companheiros permanecem detidos depois de mais de um ano da implementação da Lei da Anistia”, “mais de 40 veteranos e mais de 200 líderes comunitários já foram mortos após a assinatura dos acordos de paz”, numa situação que “atropela todos os princípios da institucionalidade, que se soma à insegurança jurídica, pessoal e econômica e se agrava agora ao somar-se à estigmatização escandalosa, que nos coloca como párias da terra”.