Delegado Waldir segue na liderança do partido e Joice Hasselmann cai da liderança do governo no Congresso
A guerra entre as duas facções dentro do PSL, o partido do governo, prossegue. A articulação feita diretamente por Jair Bolsonaro – que foi flagrado ao telefone, segundo áudio divulgado pela revista Crusué, pressionando a favor do filho, Eduardo Bolsonaro – foi derrotada.
Os partidários do grupo ligado a Luciano Bivar, que preside a legenda, arregimentaram mais deputados e conseguiram manter o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir, no cargo.
A Secretaria-Geral da Mesa Diretora da Câmara confirmou na manhã de quinta-feira (17) que ele continua líder do PSL. A lista com seu nome foi a que continha mais assinaturas, sendo que das 31 apresentadas, 29 foram validadas. A bancada do PSL tem 53 deputados.
Com este resultado, o que se comenta no Congresso é que o especialista em frituras, que quase se tornou embaixador nos EUA, foi fritado e tornou-se também um quase líder do PSL na Câmara.
Tudo em função da grande habilidade política demonstrada pela família Bolsonaro. Ao final da “ofensiva” palaciana, o governo não elegeu o “zero três” e ainda perdeu o líder do partido na Câmara.
Como se não bastasse isso, Bolsonaro entrou em guerra contra o líder do partido no Senado, senador Major Olímpio, e perdeu também a líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann, que assinou a lista em apoio ao Delegado Waldir e foi afastada do cargo pelo próprio Bolsonaro.
As perdas não pararam por aí. A decisão de Bolsonaro de acobertar os crimes do filho, Flávio, acusado de lavar dinheiro quando era deputado estadual do Rio, e do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, chefe do laranjal de Minas Gerais e, ao mesmo tempo, demonizar apenas um dos meliantes do partido, o deputado Luciano Bivar, abriu a guerra fratricida dentro do PSL.
E as baixas atingindo a facção chefiada por Bolsonaro prosseguiram. Em represália às pressões do governo sobre a bancada para tirar Waldir, Luciano Bivar destituiu o deputado Eduardo Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro das presidências dos diretórios estaduais do PSL de São Paulo e do Rio de Janeiro respectivamente.
Agora, aqueles que antes eram seguidores do governo, viraram seus inimigos.
A começar pelo próprio líder do PSL, Delegado Waldir, que afirmou, durante encontro de bivaristas: “Eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele. Não tem conversa. Eu implodo ele. Eu sou o cara mais fiel. Acabou, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo. Eu andei no sol em 246 cidades para defender o nome desse vagabundo”, disse o líder do PSL, em áudio feito durante a reunião.
Outra baixa vem da parte da deputada Joice Hasselmann, que até outro dia labutava em defesa das pautas governistas e que afirmou nesta quinta-feira, após ser afastada, que agradecia a Deus. “Minha alforria chegou”, disse ela. “Estava cansada de fazer discursos para consertar as trapalhadas desse governo”, acrescentou a deputada.
A guerra entre bolsonaristas e bivaristas teve início com os ataques, feitos por Bolsonaro contra Luciano Bivar, em 8 de outubro. Bivar é investigado por comandar um esquema de candidatas laranja em Pernambuco, através do qual foram desviados recursos da cota do fundo eleitoral das candidatas femininas para alimentar a candidatura de Bivar.
De um lado ficaram Bolsonaro, os filhos, alguns parlamentares e um grupo de advogados e assessores, e de outro, boa parte da bancada e os dois líderes, da Câmara e do Senado. Bolsonaro chegou a falar que deixaria o partido. “Esquece o PSL”, disse ele a uma apoiador. Deste momento em diante o PSL começa a desmanchar. Começaram a se ouvir vozes dentro do partido questionando. “Onde está Queiroz?”
A coisa azedou mesmo entre o bando de Bivar e o de Bolsonaro, na segunda-feira, com a ação da Polícia Federal de busca e apreensão em endereços de Luciano Bivar, autorizada pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE).
A partir da operação, vários integrantes da bancada do PSL exigiram que a Polícia Federal investigasse também o senador Flávio Bolsonaro, acusado de criar um esquema de lavagem de dinheiro, operado por seu motorista, Fabrício Queiroz, dentro de seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, quando ele era deputado estadual.