Adulteração de vídeo, cometida por Trump, é barrada pelo Twitter e Facebook após reivindicação dos lesados
Anúncio da campanha de reeleição do presidente Donald Trump que exibia um símbolo usado na Alemanha nazista foi removido pelo Facebook na sexta-feira (19).
Como destacou a BBC, a propaganda brecada continha um triângulo vermelho invertido semelhante ao usado pelos nazistas nos campos de concentração para identificar comunistas e demais prisioneiros políticos, que era costurado nos uniformes dos cativos.
Outros tipos de presos dos campos de concentração nazistas recebiam um triângulo invertido de distintas cores, conforme o Museu do Holocausto dos EUA. Triângulos invertidos verdes, para criminosos comuns; pretos, para os chamados “associais”, que incluíam ciganos, indigentes e outros grupos; triângulos rosa, para homossexuais; e roxo, no caso de Testemunhas de Jeová. Em alguns campos os ciganos eram marcados com triângulos marrons. Judeus eram forçados a usar a Estrela de Davi amarela. Prisioneiros não-alemães eram identificados pela primeira letra do nome alemão de seu país de origem.
Segundo o Facebook, as postagens violavam sua política de conter o “ódio organizado”. “Foi o que vimos neste caso com este anúncio e, em qualquer lugar que esse símbolo seja usado, tomaríamos as mesmas ações”, disse o chefe de política de segurança da rede social, Nathaniel Gleicher, na quinta-feira (18).
Ele acrescentou que o Facebook não permitirá “símbolos que representem organizações odiosas ou ideologias odiosas, a menos que sejam contextualizados ou condenados”.
Os anúncios, que foram publicados em páginas pertencentes ao presidente Trump e ao vice-presidente, Mike Pence, permaneceram online por 24 horas e receberam centenas de milhares de visualizações antes de serem retirados do ar.
Para o comitê de campanha de Trump, os anúncios faziam alusão aos ativistas de extrema esquerda ‘Antifa’, que usariam o símbolo.
No auge dos protestos contra o racismo e a impunidade de policiais assassinos, após a morte do cidadão negro George Floyd por asfixia com um joelho, Trump tentou atribuir ao Antifa a repulsa nas ruas. Chegou a ameaçar designar o movimento como “organização terrorista doméstica”.
No início deste mês, funcionários do Facebook repudiaram decisão da gigante de tecnologia de não remover ou sinalizar um post de Trump relacionado aos protestos contra a morte de Floyd que retomava um grito de guerra dos segregacionistas nos anos 1960: “quando os saques começam, os tiros começam”.
O mesmo comentário, quando postado no Twitter por Trump, fora etiquetado com um aviso de “glorificação da violência”. De acordo com a direção do Facebook, a ameaça racista de Trump nesse caso “não violava a política da empresa”. Funcionários do Facebook se disseram “envergonhados”.
‘Mídia manipulada’, alerta Twitter
Já um vídeo da campanha de Trump postado no Twitter, em que é mostrado um clipe de notícias com a mensagem “criança foge aterrorizada de bebê racista”, foi carimbado pela plataforma social como “mídia manipulada”.
O vídeo de Trump é uma tentativa de jogar sobre o campo democrático a pecha de “manipulador” e “disseminador de fake news”, que são, como se sabe amplamente, a especialidade do “gênio estável” de Manhattan e sua trupe. E de negar que o racismo nos EUA é uma chaga aberta.
O vídeo original, que viralizou nas redes sociais em 2019, mostra uma criança negra e outra branca correndo em direção uma da outra e se abraçando. Foi publicado no site da CNN com o título “essas duas crianças estão nos mostrando como melhores amigos parecem na vida real”.
O vídeo compartilhado na conta de Trump primeiro mostra a parte onde uma das crianças (negra) é vista correndo à frente da outra (branca). Em determinado momento, aparece o dizer “Bebê racista, provavelmente eleitor de Trump”.
Só então, o pastiche de Trump volta ao vídeo original, com as duas crianças se abraçando e depois correndo uma da outra, para concluir que “a América não é o problema. Fake news é o problema”.
Como o Twitter esclarece em seu site sobre suas políticas, “nós podemos rotular tuítes que contêm mídia sintética e manipulada, para ajudar as pessoas a entenderem sua autenticidade e para fornecer contexto adicional”.
É a terceira vez em menos de um mês que o Twitter foi forçado a aplicar ao presidente bilionário suas recém aperfeiçoadas normas de convivência e apreço pelos fatos.
Além deste “vídeo manipulado”, houve o episódio da “glorificação da violência” e, antes, o aviso de “enganosa” para postagem de Trump de que a votação pelo correio, que existe nos EUA há anos, “é fraudulenta”. Trump havia escrito que “caixas de correio serão roubadas, as cédulas serão falsificadas e até impressas ilegalmente e assinadas de forma fraudulenta”.
Depois de fazer das redes sociais, robôs, fake news, gabinetes de ódio e manual da Cambridge Analytical seu modo de vida pública – sem o que sua reeleição fica bastante prejudicada -, Trump sai do sério sempre que alguém desmascara, ou pelo menos confere, suas mentiras, difamações, exageros e deformações. E ainda reclama que são as “vozes conservadoras” que estariam sendo “silenciadas” nas redes sociais.
Em um desdobramento posterior, ainda nesta sexta-feira, o Facebook e o Twitter removeram o vídeo postado por Trump que distorcia o encontro das duas crianças, em razão de um dos pais ter apresentado uma reivindicação de direitos autorais através da Jukin Media, empresa que representa criadores de vídeos.
“Nem o proprietário do vídeo nem a Jukin Media deram ao Presidente [Trump] permissão para postar o vídeo, e após nossa revisão, acreditamos que seu uso não autorizado do conteúdo é um exemplo claro de violação de direitos autorais sem uso justo válido ou outra defesa”, enfatizou a Jukin Media, em comunicado à CNN, que mostrara o vídeo original há alguns dias.
O porta-voz do Facebook, Andy Stone, disse o post foi removido após reclamação de direitos autorais. Também o Twitter confirmou a remoção da grosseira burla, após reivindicação dos lesados.