“Resolva esse problema que é do seu Estado, negocie e chegue a bom termo nessa questão. Porque a GLO minha, não é ad eternum”, disse o presidente, em resposta ao pedido de prorrogação do governo do Ceará
O presidente Jair Bolsonaro afirmou, em live divulgada na quinta-feira (27), que o governador do Ceará tem que resolver o problema dos policiais que se amotinaram no Estado e que o reforço das tropas federais não poderá ficar lá “ad eternum, como era em outros governos”.
A fala foi em resposta ao pedido do governo do Ceará de prorrogação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), medida que permitiu o envio de tropas federais para o estado já que parte da PM cearense está amotinada. O prazo inicial da GLO vence na sexta-feira (28).
“Resolva esse problema que é do seu Estado, negocie e chegue a bom termo nessa questão. Porque a GLO minha, não é ad eternum, com outros presidentes passados era, comigo não é. Espero que o governador, que tem responsabilidade, que pelo que estou sabendo está buscando a solução, mas que se empenhe ao máximo possível para buscar uma solução para esse caso, de modo que os policiais possam voltar a cumprir o seu trabalho normalmente no Estado do Ceará”, declarou.
O governo do Estado está enfrentando uma situação gravíssima criada com a radicalização do motim patrocinada por bolsonaristas com influência na PM do Ceará.
A proposta do governo do Estado, que elevou o salário de entrada de soldado de R$ 3.154,00 para R$ 4.500,00, colocando o Estado entre os cinco maiores salários de PMs do país, havia sido aceita pela categoria, mas um grupo, incitado por estes mesmos setores bolsonaristas da política local, apostaram todas as fichas no impasse e na crise.
Neste período de motim 195 pessoas foram assassinadas no Estado, um número muito superior ao que ocorre em períodos normais.
Bandos de homens encapuzados e armados tomaram as ruas de Fortaleza e do interior e inutilizaram viaturas, arrancaram policiais de dentro dos carros, apontaram armas para moradores e comerciantes e obrigaram-nos a fecharem as portas de suas lojas.
Na cidade de Sobral, a população, aterrorizada pelo vandalismo dos milicianos encapuzados, pediu socorro ao senador Cid Gomes (PDT), que já foi governador do Estado e é de Sobral. Este se deslocou para sua cidade natal e tentou mediar a situação. Cid enfrentou o motim sendo baleado com dois tiros no peito pelos milicianos infiltrados no movimento.
O envio de Moro ao Estado durante o carnaval já havia deixado a desejar em termos de solução para o problema, já que o ministro não criticou em nenhum momento, durante toda a sua visita, os excessos cometidos pelos amotinados que aterrorizaram a população cearense. Ele disse que as forças federais “não estavam ali para acirrar os ânimos”.
O senador major Olímpio (PSL-SP), que esteve no Ceará para ajudar a encontrar uma solução par a crise, foi no sentido contrário. Ele disse, em vídeo, que “os policias não terão anistia e serão expulsos”. Isso não é polícia”, afirmou o senador. “Não posso concordar com movimento como eu vi, policiais encapuzados feito bandidos black blocs, viaturas arranhadas e depredadas, viaturas de corporações policiais e bombeiros sendo arrebatadas na rua por pseudo policiais mascarados armados”, lamentou. “Isso não é conduta de Polícia”, destacou o parlamentar.
A fala de Bolsonaro, que não deixou claro se aprova ou não o pedido de prorrogação da GLO, ao mesmo tempo que pressiona o governador do Ceará para que “negocie e chegue a bom termo nessa questão”, aponta para a intenção do presidente de respaldar a radicalização dos amotinados que, por conta disso, já haviam até ampliado sua pauta de reivindicações.
Como se não fosse uma emergência para a população do Ceará, Bolsonaro disse que as tropas não vão ficar muito tempo no Estado. “GLO do Ceará vence amanhã (28) e a gente espera que o governador resolva esse problema da polícia militar do Ceará e bote um ponto final nessa questão, porque GLO não é pra ficar eternamente atendendo um ou mais governadores, é para questão emergencial”, afirmou Bolsonaro.
No mesmo momento em que Bolsonaro faz esse tipo de fala, seu preposto no Estado, o ex-deputado Cabo Sabino, expulso da PM por comportamento inadequado e incompatível com a corporação, anuncia, também em live, que agora, depois do carnaval, a população vai ver uma grande onda de violência que vai tomar conta do Ceará.
Num linguajar típico de facção criminosa, o bolsonarista infiltrado no movimento dos PMs cearenses, parece estar dando a senha para os criminosos de fora atacarem a população. Ele estaria trabalhando por dentro, impulsionado agora pela fala do presidente, pela continuação do motim.