
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi duramente criticado por historiadores no Brasil e no exterior, por ter afirmado que o “fascismo e o nazismo são fenômenos de esquerda”. A declaração do ministro foi dada em uma entrevista ao canal do YouTube “Brasil Paralelo”, que divulga as ideias de Olavo de Carvalho, o guru de Bolsonaro.
“É uma coisa que eu falo muito e é muito uma tendência da esquerda. Ela pega uma coisa boa, sequestra e perverte, transforma em uma coisa ruim. Acho que é mais ou menos o que aconteceu sempre com esses regimes totalitários. Por isso que eu digo também que… quer dizer, isso tem a ver com o que eu digo, que fascismo e nazismo são fenômenos de esquerda, não é?”, declarou Araújo.
A entrevista repercutiu dentro e fora do país. Segundo o historiador da Universidade de Brasília (UnB), Antonio Barbosa, falar que o nazismo é um fenômeno de esquerda é uma “fraude”.
“Uma fraude intelectual e uma releitura completamente equivocada da própria história. É como se fosse negar o fato histórico que aconteceu na Alemanha nos anos 1930, nos anos 1940. Esse é o primeiro ponto. O segundo é que o nazismo se justifica como a oposição mais vigorosa ao socialismo, à esquerda, ao comunismo. […] No caso da política externa, isso é extremamente perigoso porque mostra ao mundo uma visão sectária, radicalmente sectária no Brasil, o que não é bom para o país”, afirmou o historiador ouvido pelo Jornal Nacional, da TV Globo.
A historiadora Ruth Bem-Ghiat, especializada em fascismo e autoritarismo pela universidade NYU, de Nova York (EUA), disse que o ministro tem que reler os livros de história. Ela acrescentou que faz parte de determinadas correntes políticas adotar uma versão que seja mais adequada aos seus interesses e que dizer que esses movimentos são de esquerda é simplesmente um “absurdo”.
Peter Carrier, autor de um relatório da Unesco sobre o holocausto, destacou que é historicamente incorreto associar o nazismo como um movimento de esquerda e que a fala do ministro contribui para falsificar a história.
Pesquisador na Alemanha, ele lembra que, na própria fundação do movimento nazista, nos anos 1920, seus seguidores se declaravam contra o marxismo e contra a União Soviética.
Ernesto Araújo acumula declarações e atitudes alopradas desde que assumiu o Itamaraty. Parece que nem mesmo a Família Bolsonaro o leva em conta. Na recente visita aos EUA ele foi preterido na reunião entre Bolsonaro e Trump no salão oval da Casa Branca. Quem apareceu no seu lugar, com direito a sorriso e pose na foto, foi o filho de Bolsonaro, Eduardo, que parece ser o chanceler de fato, recebendo embaixadores e ditando regras na política externa.
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