A decisão dos EUA de se retirar da UNESCO, braço da ONU para a educação, ciência e cultura, é um exemplo de seu desprezo pela idéia de igualdade entre as nações – princípio sob o qual a ONU foi fundada.
Os EUA não pagam um centavo à UNESCO [desde 2011, após seu retorno em 2002 depois de sua saída em 1984, somando uma divida de US$ 550 milhões em atraso].
O anúncio da saída – que entrará em vigor em de 31 de dezembro de 2018 – é significativo por duas razões. Ao sair, os EUA (e Israel, que anunciou sua saída pouco depois dos EUA ter tornado pública a sua decisão), esperam exercer pressão para que a UNESCO mude de direção.
O estado atual da política no Oriente Médio – particularmente em relação à Síria – é outro fator importante para os eventos desta semana. Israel está frustrado pelo fato do presidente Bashar Assad (aliado do Hezbollah e Irã) não estar apenas no poder em Damasco, mas ganhando a guerra. No início do mês, o ministro da Defesa israelense, Avigdor Lieberman, exortou os EUA a “serem mais ativos na guerra síria”.
Sabemos o que isso quer dizer. Porém, Trump não pode entregar na Síria o que Israel quer, ou seja, uma mudança de regime, porque os sírios e seus aliados são muito fortes, mas pode agradar Tel Aviv e o lobby pró-Israel presente nos EUA em outras áreas. Ou seja, desautorizando o acordo nuclear iraniano e deixando a UNESCO.
Os EUA citaram o chamam de viés “anti-Israel” da UNESCO como motivo para sair. Mas, o fato é que o órgão da ONU apenas refletiu as opiniões da maioria de seus membros sobre Israel e Palestina. A votação sobre a admissão da Palestina como membro, em outubro de 2011, foi quase consensual, 107 estados a favor e apenas 14 contra. Apenas um anti-democrata diria que os pontos de vista dos 14 deveriam prevalecer – o problema é que essa era a política dos EUA.
A noção de que a UNESCO persegue uma agenda anti-israelense ou anti-semita foi desafiada até mesmo em Israel. Escrevendo no Haaretz, o arqueólogo Yonatan Mizrahi declarou: “Podemos afirmar que a UNESCO não é uma organização anti-semita e sua decisão de declarar Hebron como Patrimônio Mundial não é anti-semita e não ignora a conexão judaica com a Tumba dos Patriarcas”.
O problema com o orgão, assim como com a ONU em geral, é que seus ideais de internacionalismo genuíno e igualdade entre as nações estão em desacordo com o excepcionalismo dos EUA, obrigados a trabalhar nas estruturas da ONU durante a maior parte do pós-guerra. Após a dissolução da União Soviética, os falcões de Washington não viram mais nenhuma necessidade real para o apoio dos EUA a qualquer organismo que não fizesse exatamente o que eles precisavam. A falsa doutrina do “intervencionismo humanitário” foi inventada como meio de ignorar o Conselho de Segurança da ONU, o único órgão que poderia tornar a guerra legal – caso o país não esteja agindo em legítima defesa.
Arrogância imperial vociferada pela democrata, secretária de Estado, Madeline Albright, em 1998, ao falar sobre a guerra do Iraque: “Se devemos usar a força, é porque somos a América; somos a nação indispensável. Nós permanecemos de pé e do alto vemos o futuro mais longe do que outros países”.
O que está por trás da saída de Washington da UNESCO e de sua frustração com a ONU em geral baseia-se na crença de que a “Nação Excepcional” não deveria aceitar uma decisão que não aprova, por mais democrática que seja. As organizações devem cumprir exatamente o que a política externa dos falcões dos EUA desejam.
* O autor da matéria, da qual publicamos os principais trechos escreve para os jornais Guardian, Morning Star, Daily Express, Daily Telegraph
O link para a íntegra em inglês é:
httpd://www.rt.com/op-ege/406695-unesco-trump-us-israel/
NEIL CLARK