O cantor e compositor Sérgio Ricardo morreu na manhã desta quinta-feira (23), aos 88 anos, no Hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio. Sua filha, Adriana, informou que a causa oficial da morte foi insuficiência cardíaca.
Sérgio Ricardo estava com sua saúde fragilizada desde outubro do ano passado quando fraturou o fêmur. Internado há quatro meses, o compositor chegou a contrair a Covid-19 no hospital, mas se recuperou deste quadro e já estava completamente curado da doença.
O enterro deve acontecer na tarde desta sexta-feira (24), no Cemitério da Cacuia, na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro.
Nascido em 18 de junho de 1932, em Marília, no interior de São Paulo, João Lutfi, como foi batizado, começou a estudar música ainda menino. Anos mais tarde, ele adotou o nome artístico de Sérgio Ricardo e participou de vários movimentos culturais importantes do país como a Bossa Nova e o Cinema Novo. É autor de músicas memoráveis como “Calabouço”, “Esse mundo é meu” e “A praça é do povo”.
Em 1960, gravou o LP “A Bossa Romântica de Sérgio Ricardo”. Em 1962, participou do histórico Festival de Bossa Nova, no Carnegie Hall de Nova York (EUA), ao lado de Carlos Lyra, Tom Jobim, Roberto Menescal, João Gilberto e Sergio Mendes, entre outros.
Ao lado de Chico de Assis, Sérgio Ricardo participou do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC-UNE) e do Teatro de Arena.
Em 1964, lançou o filme “Esse Mundo é Meu”, com atuação do próprio Sérgio em paralelo a Antonio Pitanga, e com montagem de Ruy Guerra. O filme foi considerado como um dos mais importantes do ano pelo crítico Luc Moullet, da revista francesa especializada Cahiers du Cinéma.
Responsável pela trilha sonora de “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964), de Glauber Rocha, um dos mais importantes filmes do cinema nacional, o trabalho lhe rendeu o prêmio de melhor trilha para cinema pela Comissão Estadual de Cinema de São Paulo. Em 1966, compôs sobre piano a trilha de Terra em Transe, também de Glauber.
Em 1967, lançou o disco “A Grande Música de Sérgio Ricardo” (Philips), contendo composições inéditas e trilhas que fizera para Glauber Rocha, Chico de Assis e Joaquim Cardozo.
O músico também ficou conhecido por um episódio polêmico. Durante sua participação no 3º Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record de São Paulo, em 1967, Sérgio Ricardo quebrou seu violão e jogou na plateia após ser vaiado pelo público, cantando “Beto Bom de Bola”. “Vocês não estão entendendo nada”, criticou Sérgio sob as vaias do público.
A cena é mostrada no documentário “Uma Noite em 67” (2010).
Em 1968, estreou a peça “Sérgio Ricardo na Praça do Povo”, dirigida por Augusto Boal.
Já em 1969, Sérgio trabalhou na trilha do filme “O Auto da Compadecida” (George Jonas), baseado na peça de Ariano Suassuna, e no ano seguinte, lançou o EP “Terra dos Brasis” com músicas criadas para o filme homônimo de Maurice Capovilla. No mesmo ano, ele iniciou os trabalhos para o seu segundo longa-metragem, “Juliana do Amor Perdido”. O filme venceu duas Corujas de Ouro por melhor música e melhor fotografia. concedidas pelo Instituto Nacional do Cinema, em 1970.
Veja uma breve seleção da obra de Sérgio Ricardo da Rádio Batuta, do Instituto Moreira Salles: