Faleceu na manhã deste domingo (16), o prefeito da cidade de São Paulo, Bruno Covas (PSDB). Aos 41 anos, ele não resistiu ao câncer no sistema digestivo com metástase nos ossos e no fígado contra o qual lutou desde 2019.
Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês, no centro da capital paulista, desde 2 de maio, quando se licenciou da Prefeitura. Na sexta-feira (14), teve uma piora no quadro de saúde e a equipe médica informou que seu quadro havia se tornado irreversível. O prefeito recebeu sedativos e analgésicos para não sentir dores e permaneceu acompanhado de familiares até a manhã de domingo.
Advogado e economista, Bruno Covas é neto do ex-governador de São Paulo, Mário Covas (1930-2001). Foi pelas mãos de seu avô que iniciou sua trajetória política desde muito jovem. Em 2006, foi eleito para o cargo de deputado estadual pela primeira vez.
Em 2010, foi novamente candidato a deputado estadual, sendo o mais votado do Estado com 239.150 votos. Bruno Covas foi convidado então pelo governador Geraldo Alckmin para assumir a Secretaria do Meio Ambiente a partir do início de 2011.
Em 2014, foi eleito deputado federal, mantendo-se no cargo até 2016, quando se licenciou da Câmara dos Deputados para disputar a eleição à Prefeitura de São Paulo, como vice de João Dória.
Na gestão municipal, Covas acumulou, além da vice-prefeitura, as secretarias de Prefeituras Regionais e da Casa Civil.
Em 2018, com a renúncia de Doria para disputar o governo do Estado, Bruno Covas assumiu em definitivo como prefeito da maior cidade do país. Em novembro de 2020, Covas foi reeleito com 59,38% dos votos apurados, ultrapassando Guilherme Boulos, do PSol com 40,62%.
Defesa da Democracia
Após Bolsonaro iniciar seus ataques às instituições brasileiras, Bruno Covas se colocou ao lado da democracia. Segundo ele, foi justamente a defesa do golpe de 64 e da ditadura que o fez se afastar de Bolsonaro.
“São manifestações como essa que me afastaram dele”, explicou Bruno Covas em entrevista à BBC Brasil em abril de 2019. “Não dá para agora a gente querer passar uma borracha na quantidade imensa de pessoas que foram presas, que foram cassadas, que foram torturadas, que sumiram”.
Com o início da pandemia de coronavírus, as contradições com o negacionismo bolsonarista ficaram ainda mais evidentes. Ao defender as medidas de isolamento social, Bruno Covas destacou que a postura de Bolsonaro atrapalhou o combate à pandemia.
“Fazemos aqui o que apontam os médicos, cientistas e pesquisadores. Você sabe o que significa em meu currículo, como prefeito, fechar o parque do Ibirapuera, um cartão postal da cidade? As falas do presidente confundem. Há confusão dentro do próprio governo dele, o presidente fala uma coisa, ministro fala outra. Ele deveria reforçar a importância das pessoas colaborarem com o isolamento social”, sustentou.
“Giuseppe Sala reconheceu o seu erro ao apoiar uma iniciativa do setor privado em apoiar a campanha de que Milão não deveria parar. A lição de humildade do prefeito é de reconhecer os erros e eu espero que o presidente Jair Bolsonaro reconheça o seu erro de estimular as pessoas a saírem de casa”, avaliou o prefeito paulistano, que se mudou para a Prefeitura junto com seu filho de 14 anos, durante o primeiro período da crise em São Paulo.
Combate à pandemia
O enfrentamento à pandemia por Bruno Covas foi marcado pela postura de respeito à ciência, em contraponto à gestão negacionista do governo Bolsonaro.
“Nosso compromisso mais importante é exercer o direito constitucional à vida. Que a preocupação das mães com seus filhos nos inspire. Usem máscaras, protejam uns aos outros e fiquem em casa”, defendeu Covas há um ano, no dia das mães de 2020.
Sua gestão organizou também um grande inquérito sorológico em São Paulo, medida fundamental para entender o comportamento do vírus e o avanço das infecções na população da cidade. Além de medidas de apoio à população mais vulnerável, como a doação de cestas básicas e a contratação de mães de família para trabalharem nas escolas municipais.
Em abril de 2021, Bruno Covas assumiu o Departamento de Relações Internacionais do Consórcio de Prefeituras para a Compra de Vacinas “Conectar”, indicando a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, como sua representante para negociar alternativas para ampliar a imunização dos brasileiros. “A Prefeitura de São Paulo fica feliz de participar deste consórcio para levarmos vacina à população. É um sonho de todos os prefeitos ter vacina para imunizar a sua população”, disse Bruno no lançamento do Conectar.
União
Em seu discurso de posse, após a vitória nas eleições municipais de 2020, Covas defendeu a unidade para combater o vírus e defender a democracia.
“Prevalecerá o diálogo, a conversa, a construção coletiva, a compreensão de que há mais em comum entre nós do que as nossas visões distintas nos separam. No caso da pandemia, o inimigo é um só: o vírus. E o momento exige união. O vírus do ódio e da intolerância também precisam ser banidos da sociedade”.
“As crises sociais e econômicas provenientes da pandemia são profundas. Por isso é fundamental conversar de forma generosa e aceitar as diferenças. Ninguém pode ser dono da verdade”.
“A maioria de nossa população vem tendo comportamento exemplar no enfrentamento da pandemia. Mas há uma minoria que insiste em colocar seus interesses e desejos em primeiro plano, ao invés de pensar no coletivo. Mas eu insisto mais uma vez: já há alguma luz no fim do horizonte. As vacinas vão chegar. Nossa cidade está pronta para vacinar em massa, mas ainda precisamos manter os cuidados”.
“Minha doença permitiu que eu me reencontrasse comigo mesmo. Obrigou a selecionar o que realmente importa, o que faz valer a pena. Hoje, posso dizer que me tornei um político melhor”, enfatizou.
“A democracia não está garantida. Ela é tão forte quanto a nossa vontade de lutar por ela, de protegê-la e de nunca considerá-la como dada. E proteger a nossa democracia exige luta”, disse Bruno Covas em um dos seus principais discursos.
O país perde um grande democrata com a morte de Bruno Covas.