
Indústria liderou o ranking de recuperações judiciais no primeiro trimestre de 2025
A indústria liderou o ranking de recuperações judiciais no primeiro trimestre de 2025. Dados do Monitor RGF, divulgados pelo Valor Econômico, nesta terça-feira (6), revelam que das 4.881 companhias em dificuldades financeiras, o setor industrial conta com 1.112 empresas nesta condição. O principal motivo tanto pelas indústrias como para as empresas em geral entrarem em processo de reestruturação é a política de juros altos do Banco Central (BC), que mantém a taxa Selic em 14,25% ao ano, estrangulando o crédito e o consumo no país.
Para a indústria, dependente de financiamentos de longo prazo, o peso da Selic é ainda mais devastador, como destaca o economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Mário Sérgio Telles.
“A indústria tem uma necessidade forte de financiamentos para investimentos e isso compromete o endividamento das empresas”, explica o diretor da CNI. “Grande parte das empresas tem financiamento, então elas são muito dependentes, mais que outros setores”, acrescenta.
Sérgio Telles observa que as linhas de crédito direcionadas à indústria (como Mais Produção – BNDES e Nova Indústria Brasil do governo federal) seguem caras e inferiores ao crédito direcionado para o agronegócio, como no Plano Safra.
“São taxas de mercado e grande parte é para investimento em inovação, máquinas e equipamentos, mas a empresa da indústria é praticamente totalmente ligada à Selic. Então, se há aumento da Selic, se faz sentir imediatamente”, critica.
O economista também avalia que o desaquecimento da economia, impulsionado pela política monetária restritiva, contribui ainda mais para o agravamento das condições financeiras das empresas.
“Por conta dos juros, desaquecimento do mercado de trabalho e mesma política fiscal com impulso menor, a demanda vai desacelerar mais, eventualmente pode ter reduções no consumo, então a dificuldade para as empresas vai ser maior”, disse. Desta forma, Telles prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve crescer 2%, o que é menor que os 3,5% registrados em 2024.
O contingente de 4.881 empresas em recuperação judicial é o maior volume da série histórica da pesquisa, iniciada em 2023. Este número é um sinal claro de que a estratégia de juros altos, longe de controlar a inflação, está asfixiando as empresas produtivas do país.
Depois da indústria, as empresas ligadas ao setor de serviços são as que mais demandam por recuperações judiciais (1.105 casos), em seguida o comércio (996), infraestrutura, energia e saneamento (992), agropecuário (341) e outros (335).