A Polícia Federal declarou nesta quinta-feira (4) que o incêndio que destruiu o Museu Nacional iniciou em um dos aparelhos de ar condicionado, mas não houve esclarecimento se o motivo do incêndio foi uma ação culposa, de negligência da administração, ou dolosa, quando se tem a intenção de provocar danos.
O superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, adiantou hoje pela manhã que não seria respondida à pergunta se houve ação criminosa no incêndio, pois a investigação ainda está em curso e não há data prevista para divulgação da conclusão do inquérito.
A conclusão do trabalho pericial foi apresentada pelo delegado responsável, Paulo Telles, e três peritos, um especialista em audiovisual, outro em incêndios e outro em eletricidade.
No início da investigação os peritos focaram em descobrir onde teve início o fogo que destruiu o prédio. Após controladas as chamas, eles imediatamente registraram imagens do museu.
“Foram feitas centenas e centenas de imagens”, destacou o perito José Rocha, especialista em audiovisual. De acordo com Rocha, um drone fez uma ortofoto, uma imagem que sobrepõem, segundo o perito, mais de mil fotografias de alta resolução que permitiram preservar a imagem do museu logo após o incêndio. Câmeras que estavam funcionando no interior do museu também ajudaram os peritos a identificar parte do trajeto percorrido pela fumaça. Sendo esse o ponto de partida para se chegar ao foco inicial das chamas.
Segundo Carlos Alberto Trindade, perito especialista em incêndio, o primeiro sinal de fumaça foi registrado pelas câmeras às 19h13 no segundo pavimento. Com a ajuda de outras imagens, foi possível perceber que a fumaça partia do andar térreo. “O fogo começou no auditório e no pavimento térreo”, afirmou Trindade.
A perícia passou a se concentrar, então, na parte elétrica do auditório. Segundo o perito Marco Antônio Isaac, especialista em eletricidade, no principal da rede elétrica do museu, não foi identificado nenhum sinal de curto ou falha provocada por agente externo.
Os equipamentos elétricos encontrados no auditório foram periciados, a fim de se identificar se algum deles tinha sinais de ter originado as chamas. Caixas de som, projetor e outros aparelhos não apresentavam nenhum sinal suspeito. Análises mais detalhadas passaram a ser feitas nos três equipamentos de ar-condicionado que havia na sala.
“Nós identificamos logo no início que havia o rompimento de um fio no aparelho que ficava mais próximo do palco do auditório”, disse.
De acordo com o perito, um curto circuito rompeu um cabo do aparelho. “Típico de um evento de uma sobre corrente, uma corrente maior que o aparelho pode suportar sem queda do disjuntor”, disse.
Trindade enfatizou que foi identificada falha na instalação do sistema de ar condicionado do auditório. Um dos três equipamentos não possuía aterramento externo e não havia disjuntor individualizado para cada um dos três aparelhos.
Questionado se houve negligência na instalação do aparelho, Issac se limitou a dizer que ela “não estava seguindo a recomendação do fabricante”. Segundo ele, o fabricante do ar condicionado recomenda um disjuntor para cada aparelho para que, em caso de falha do equipamento, ele seja desligado imediatamente.
“Pode ser que o disjuntor não o identificou devido à sobrecarga dos três aparelhos”, ressaltou.
PERDA DE ACERVO
O incêndio do Museu Nacional, que completou 200 anos em 2018, iniciou-se por volta das 19h30 do domingo, 2 de setembro, e só foi controlado no fim da madrugada de segunda-feira (3). A maior parte do acervo, de cerca de 20 milhões de itens, foi totalmente destruída. Fósseis, múmias, registros históricos e obras de arte viraram cinzas. Pedaços de documentos queimados foram parar em vários bairros da cidade.
Leia mais: