Crise se expande por todo o país. Apenas na cidade do Rio de Janeiro, entre janeiro e setembro deste ano, 3,9 milhões de procedimentos deixaram de ser realizados
A atual condição do sistema de saúde pública no nosso país é de extrema gravidade. A crise instalada pelo governo federal vem provocando incontáveis prejuízos à saúde da população. A começar pela absurda Proposta de Emenda Constitucional número 55, a “PEC da maldade”, que prevê congelar por 20 anos os recursos de áreas essenciais como saúde e educação. Uma afronta direta e muito perversa ao direito básico de Saúde, onde quem paga é o povo. Os efeitos desta política de arrocho já podem ser vistos por todo o país. Com uma brutal redução de profissionais, leitos remédios e acesso aos serviços de saúde, o que já podemos ver com intensidade na cidade do Rio de Janeiro.
A crise na rede municipal do Rio se mostra ainda mais dramática após a divulgação das estatísticas do desempenho da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Com R$ 550 milhões do orçamento bloqueados e no mínimo 120 leitos fechados nos últimos meses por falta de recursos, o cenário é muito grave. Entre janeiro e setembro deste ano, foram 3,9 milhões de procedimentos a menos, em comparação ao mesmo período de 2016, segundos dados do Ministério da Saúde. Entre esses procedimentos estão incluídos exames, consultas e cirurgias.
No total, a secretaria realizou, entre janeiro e setembro do ano passado, 44,8 milhões de procedimentos. Este ano, nos nove primeiros meses, foram 40,9 milhões, o equivalente a 8,6% a menos. Enquanto isso, segundo estimativas do IBGE, a população do Rio aumentou de 6,4 milhões para 6,5 milhões (1,5%), de 2016 para 2017. O número de exames realizados foi o item que mais caiu: de 13,1 milhões para 8,8 milhões, 32,8% a menos. As consultas recuaram de 20,6 milhões para 18,8 milhões, 8,7% a menos, e as cirurgias passaram de 506 mil para 407 mil no período, uma queda de 19,56%.
Em outubro, segundo a subsecretária de Regulação da SMS, Cláudia da Silva Lunardi, 244 mil pacientes aguardavam consultas, exames ou cirurgias na rede municipal. Um número 80% maior do que o registrado no fim de 2016, quando 134 mil pessoas esperavam atendimento. A greve nas clínicas da família, que já dura um mês, por atrasos nos salários, pode piorar esse quadro. “As clínicas da família têm a função de ser o alicerce da saúde. Não temos, hoje, condição de tratar uma pneumonia, porque não há antibióticos. É preciso mandar o paciente para um hospital”, diz o presidente da Associação de Medicina de Família e Comunidade, Moisés Nunes.
A greve dos médicos de família e comunidade teve início em 26 de outubro, entre outros motivos, pelo desabastecimento crônico de remédios nas unidades de saúde do município. E ela segue porque a Prefeitura, além de não resolver os problemas, parece ignorá-los. Vale lembrar, que outras categorias também seguem paralisadas, como psicólogos, odontólogos, fonoaudiólogos, assistentes sociais, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários. Ainda de acordo com Moisés, de uma lista de 220 medicamentos, 175 estão zerados nos estoques da Prefeitura do Rio de Janeiro. “A situação é bastante dramática”, diz.
A falta de recursos e o programa de arrocho de Crivella estão na origem dos problemas enfrentados pela rede de saúde da prefeitura. Na semana passada, um relatório do Tribunal de Contas do Município (TCM) mostrou que a despesa com a pasta caiu 10,77% em comparação a 2016.
MINAS
Em Minas Gerais a falta de medicamentos também deixa a população em estado de preocupação constante. A dificuldade é encontrar alguns medicamentos distribuídos de graça pelo estado pela Farmácia de Minas. Segundo eles, a busca é constante, mas nem sempre a reposta é positiva e a falta de prazo para o recebimento dos remédios é motivo de muita angústia.
No Rio Grande do Sul, a situação também não é nada favorável. O governo de José Ivo Sartori (PMDB) tem total compromisso com a privatização. Em que, constantemente, vem atrasando e até mesmo diminuindo repasses financeiros para os municípios gaúchos. O mesmo exemplo segue a prefeitura de Porto Alegre. É a lógica de ataque ao trabalhador do Sistema Único de Saúde (SUS), como forma de mostrar uma “ineficiência” do SUS, e assim abrir o caminho para as privatizações e parcerias público-privadas.
A política do governo Michel Temer, levada a cabo pelo seu ministro Ricardo Barros (PP), é a de uma forte expansão da privatização e do desmonte do serviço público em benefício das operadoras de saúde e de Organizações Sociais (OS). Ao mesmo tempo em que o serviço público se deteriora, o governo desregulamenta o setor privado, deixando os usuários à mercê do mercado.
Usuários relatam falta de medicamentos para transplantados em sete estados
A Associação Brasileira de Transplantados lançou um alerta para a constante falta de pelo menos um dos três medicamentos principais contra rejeição de órgãos. O micofenolato, o tacrolimo e o everolimo, estão em falta em sete estados brasileiros.
“Começou em janeiro. Começou a falta esporádica. Agora, nesses últimos quatro meses, a falta está constante. Não é mais esporádica. Você vai na farmácia de alto custo, e eles nunca têm. Ou um ou outro”, contou Dorca Lemes ao Jornal Nacional, que há dois anos e meio realizou um transplante de rins e hoje encontra dificuldades na obtenção dos medicamentos.
Cerca de 50 mil brasileiros são transplantados. Pessoas que passaram anos na fila à espera de um órgão que, mesmo sendo compatível, faz com que seja necessário o uso, para o resto da vida, de imunossupressores, medicamentos específicos para evitar que o organismo rejeite o órgão transplantado.
“Se eles pararem de tomar por um período de semanas, eles perdem o órgão transplantado. No caso do rim, volta para a diálise; no caso de coração, pulmão, fígado, eles morrem”, explica o nefrologista José Medina Pestana. Somente no estado de São Paulo, vivem 40% dos transplantados.