No Pará, sete pessoas de uma mesma família morreram em menos de 24 horas
Pela total inoperância e irresponsabilidade do Ministério da Saúde do governo Bolsonaro, um verdadeiro morticínio acomete o Amazonas e já se estende pela Região Norte do país.
O colapso no sistema de saúde pública e a falta de oxigênio para atender os pacientes com Covid-19 têm motivado acontecimentos de tempos de guerra. De acordo com defensores públicos que atuam no interior do Amazonas, entre os dias 15 e 19 de janeiro, foram registradas pelo menos 30 mortes de pacientes com Covid-19. As vítimas teriam morrido por falta de oxigênio ou falta de remoção para cidades com condições de atendê-las.
No município de Coari, há 450 Km de Manaus, sete pessoas morreram em um único dia (19), e em uma única unidade de saúde, por falta de oxigênio. Houve ainda registro de mortes em Tefé, que contabilizou seis óbitos por tempo de espera de remoção; em Itacoatiara, onde duas morreram por falta de oxigênio e três mortes de pacientes que estavam aguardando leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e em Maués, que registrou uma morte por ausência de remoção.
Também no município de Fato, na zona rural do Pará, sete pessoas de uma mesma família morreram em menos de 24 horas por falta de oxigênio.
A falta de oxigênio para atender os pacientes de Covid no Amazonas era uma crise anunciada, e o jogo de empurra entre as autoridades não vai devolver as vidas das mais de 6 mil vítimas da Covid no Estado desde o início da pandemia.
O fato é que nos dias anteriores ao caos provocado pela falta de oxigênio em Manaus, o Ministério da Saúde e o governo estadual já haviam sido alertados pela Força Nacional do SUS (Sistema Único de Saúde) que o colapso no Amazonas era iminente, e até a White Martins, empresa responsável pelo fornecimento de oxigênio, informou ao Ministério sobre a gravidade da situação na região e enviou ao órgão “solicitação formal de apoio logístico” para o transporte do insumo.
Em documentos dos dias 8, 9, 11, 12 e 13 de janeiro enviados ao Ministério, a equipe da Força Nacional do Sistema Único de Saúde detalhou a gravidade da situação em Manaus e até previu o dia em que o sistema entraria em colapso.
Diante disso, a única “providência” tomada pelo ministro Eduardo Pazuello foi suspender a entrega do oxigênio ao Amazonas, enquanto o Ministério decidisse o que fazer, provocando mais falta de oxigênio e mais mortes. Outra “providência” tomada por Pazuello foi se dirigir a Manaus para obrigar as unidades de saúde a procederem com o protocolo de “tratamento precoce com cloroquina”, medicamento sem comprovação científica no tratamento da Covid-19, provavelmente para desovar as milhões de doses do medicamento fabricados pelo Exército sob as ordens de Bolsonaro.
“Não consegui compreender ainda se os alertas foram ignorados e o porquê. Eles foram expedidos, inclusive pela White Martins. Desde julho a White Martins vem alertando as autoridades de que havia uma necessidade de aumento do contrato em pelo menos 25% do que era fornecido usualmente”, denunciou o procurador da República no Amazonas, Igor Spindola.
A situação na região é tão dramática que os cemitérios já operam com horário ampliado e têm adotado o uso de câmaras frias para a preservação dos corpos, para evitar o que ocorreu no início da pandemia, em 2020, quando mortos foram enterrados em valas coletivas.