Faltam apenas alguns dias para o segundo turno das eleições e, como Bolsonaro foge dos debates mais que diabo da cruz, seu pensamento, se é que pode-se chamar assim, está vindo à tona em flashes de entrevistas e falas dele e de alguns integrantes de seu círculo mais íntimo. Foi assim com o vice, Mourão, sobre o fim do décimo terceiro e férias remuneradas, foi assim com Paulo Guedes querendo elevar impostos da classe média e reduzir dos ricos, e, agora, com o filho, Eduardo Bolsonaro, dizendo que “para fechar o STF só precisa de um cabo e um soldado”.
Além da divulgação do vídeo, outros arroubos fascistoides também vieram à tona nesta semana. O próprio Jair Bolsonaro, em entrevista à Rede Bandeirantes, e em mensagem a seus seguidores neste domingo, afirmou que uma das primeiras medidas que tomará, se for eleito, será convencer os parlamentares a caracterizar ocupações de terras e casas por trabalhadores sem terra e moradores de rua sem teto, respectivamente, como “atos de terrorismo”. O pior é que não é uma ideia inédita essa declaração feita pelo candidato do PSL. Ele só repete a asneira que Washington Luiz disse no final da década de 20, algum tempo antes de ser derrubado pela Revolução de 1930. “A questão social é caso de polícia”, disse à época o desmoralizado presidente.
A fala do filho de Bolsonaro, uma afronta clara e desrespeitosa ao STF e ao país, foi feita numa reunião, em um cursinho no Paraná, antes do primeiro turno. No vídeo que circula nas redes sociais, o deputado declarou que “se quiser fechar o STF […] manda um soldado e um cabo. Não precisa nem mandar um jipe”.
Com certeza, para dizer um absurdo desses, ao responder se era possível uma impugnação da candidatura de seu pai, em caso de crime eleitoral, ele provavelmente já estava a par, ou pelo menos já estava programando, os esquemas – descobertos agora – de financiamentos ilegais da candidatura por empresas privadas na internet. A lei eleitoral proíbe financiamentos de empresas. As denúncias, feitas pelo jornal Folha de São Paulo, falam em vários contratos de empresas que chegam a R$ 12 milhões cada uma, para despejar milhões de mensagens com conteúdos difamatórios na internet.
Veja no detalhe como ele trata a fiscalização constitucional das eleições. “Mas se o STF quiser arguir qualquer coisa – recebeu uma doação ilegal de cem reais do José da Silva e então impugna a candidatura dele. Eu não acho isso improvável, não. Mas aí vai ter que pagar para ver. Será eles contra nós. Será que eles vão ter essa força mesmo? O pessoal até brinca lá: se quiser fechar o STF, você sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo não.”
Ao ser questionado neste domingo sobre as afirmações de ameaça ao STF, o candidato Jair Bolsonaro disse que “não existe crítica sobre fechar STF. Se alguém falou em fechar STF, precisa consultar um psiquiatra”. Ele não sabia ainda que a declaração era de seu filho. Quando foi informado que tinha sido Eduardo Bolsonaro que havia falado sobre fechamento do Supremo, ele ficou nervoso e tentou desconversar: “Eu desconheço. Duvido. Alguém tirou de contexto.”
Diante do repúdio geral e da repercussão negativa de sua afronta ao STF e às instituições, Eduardo Bolsonaro tentou minimizar sua fala. Repetiu o pai e disse que era mesmo uma declaração de quem precisava de um psiquiatra. Só que não deu para desmentir ou dizer que tinham inventado o que ele tinha dito. Em nota, divulgada neste domingo, ele explicou que apenas respondeu a uma “hipótese esdrúxula” sobre a impugnação de seu pai. Ou seja, uma possível punição que o TSE viesse a fazer por crimes eleitorais, no caso de financiamento empresarial e caixa 2, por exemplo, foi classificada por ele como uma “hipótese esdrúxula”.
O vídeo tenta desmoralizar qualquer decisão que o STF pudesse vir a tomar contra caixa dois ou quaisquer outros crimes eleitorais. O Juiz Sérgio Moro chegou a caracterizar o crime de caixa dois como um crime muito mais grave do que outros atos de corrupção, porque, segundo ele, isso é “um ataque á democracia.” A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Rosa Weber, respondeu à provocação com um pronunciamento público dizendo que “(…) As instituições estão funcionando normalmente e que os juízes todos no Brasil honram a toga e não se deixam abalar por qualquer manifestação que eventualmente possa ser compreendida como de todo inadequada.”
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso usou o Twitter para condenar o que disse o deputado. “As declarações do deputado Eduardo Bolsonaro merecem repúdio dos democratas. Prega a ação direta, ameaça o STF. Não apoio chicanas contra os vencedores, mas estas cruzaram a linha, cheiram a fascismo. Têm meu repúdio, como quaisquer outras, de qualquer partido, contra leis, a Constituição”, disse ele.
Durante entrevista em São Luís (MA), Haddad classificou a família de Bolsonaro como “grupo de milicianos” e “gente de quinta categoria”, ao ser perguntado sobre as declarações de Eduardo Bolsonaro no vídeo. “O filho dele chegou a gravar um pensamento, se é que pode se chamar assim o que eles falam, em que diz que vai fechar o Supremo Tribunal Federal. Mandariam um cabo e um soldado, nem de jipe precisaria”, afirmou Haddad.
SÉRGIO CRUZ