
As famílias do indigenista da FUNAI, Bruno Araújo Pereira, e do jornalista inglês Dom Phillips, desaparecidos na região do Vale do Javari (AM) desde o último domingo (5), pediram pressa às autoridades brasileiras nas buscas por seus paradeiros.
“Já são 48 horas de angústia à espera de notícias sobre Bruno Pereira e Dom Phillips, que desapareceram no domingo quando viajavam no Vale do Javari, Amazonas. Durante todo o dia de ontem, tivemos poucas informações sobre a localização deles, o que tem aumentado este sentimento”, diz a nota assinada por Beatriz de Almeida Matos, companheira de Bruno, e pelos irmãos, Max da Cunha Araújo Pereira e Felipe da Cunha Araújo Pereira, divulgada à imprensa.
Segundo a família, Bruno tem vasta experiência e conhecimento da região, mas o tempo é um fator chave e, por isso, pedem que sejam feitas “buscas especializadas, por via aérea, fluvial e por terra com todos os recursos humanos e materiais que a situação exige”. Eles pedem ainda a segurança dos indígenas e das equipes envolvidas na busca.
A família descreve Bruno como “um dedicado servidor público federal pela Funai e muito apaixonado e comprometido com seu trabalho”. Os três pedem rapidez e seriedade às autoridades. “Cada minuto conta, cada trecho de rio e de mata ainda não percorrido podem ser aquele em que eles aguardam por resgate”, afirmam.
APELO
A esposa do jornalista inglês Dom Phillips, Alessandra Sampaio, fez um apelo ao governo federal para que haja celeridade nas buscas por ele e por Bruno Pereira.
Segundo Alessandra, a família tem “um pouquinho de esperança” de encontrar os dois vivos e pediu que a procura seja intensificada.
“Eu queria fazer um apelo para o governo federal e para os órgãos competentes, para intensificarem as buscas, porque a gente ainda tem um pouquinho de esperança de encontrar eles. Mesmo que eu não encontre o amor da minha vida vivo, eles têm que ser encontrados, por favor. Intensifiquem essas buscas. Eu não quis falar antes porque a família toda está muito chocada e a gente não está sabendo reagir. Mas eu estou fazendo esse apelo, por favor, para intensificar essas buscas”, declarou em vídeo exibido pela TV Bahia.
Sian Phillips, irmã de Dom Phillips, também fez um apelo para que as autoridades brasileiras se empenhem nas buscas pela dupla. Em vídeo compartilhado nas redes sociais, Sian também ressaltou como o irmão ama o país e sempre se importou com a região amazônica e os que vivem no local.
“Meu irmão vive no Brasil com a sua mulher brasileira, amo o país e se importa profundamente com a Amazônia e os que vivem na região. Nós sabíamos que era um lugar perigoso, mas Dom acreditava que era possível salvar a natureza e os povos indígenas”, ressaltou.
Na segunda-feira (6), o Ministério Público Federal (MPF) instaurou procedimento administrativo para apurar o desaparecimento do jornalista e do indigenista.
O MPF também acionou a Marinha, as polícias Civil e Federal, a Força Nacional e a Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari para participar das buscas.
“O MPF seguirá intermediando as ações de buscas e mobilizando as forças pra assegurar a atuação integrada e articulada das autoridades, visando solucionar o caso o mais rápido possível”, afirma o órgão.
O MPF disse que foi informado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) sobre o desaparecimento. O caso é investigado pela Polícia Federal.
SUSPEITOS
Dois suspeitos de participação no desaparecimento foram detidos pela Polícia Federal na noite de segunda-feira. Trata-se de uma dupla de pescadores conhecidos como Churrasco e Jâneo. Os suspeitos foram transferidos para a Atalaia do Norte e entregues à Polícia Civil, porém nenhum deles foi preso.
Segundo as informações, Bruno Araújo tinha uma reunião marcada com o pescador conhecido como Churrasco para discutir trabalhos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do território. O encontro teria acontecido na comunidade de São Rafael, no Vale do Javari.
Conforme repassou a Polícia Federal ao site, Churrasco não apareceu no encontro e, então, Bruno e o jornalista seguiram para Atalaia. Desde que saíram de São Rafael, eles não foram mais vistos.
O CASO
O indigenista Bruno Araújo Pereira, da Fundação Nacional do Índio (Funai), e o jornalista Dom Phillips, correspondente do jornal britânico The Guardian, estão desaparecidos. Eles faziam o caminho entre a comunidade Ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte e desapareceram, no estado do Amazonas.
A informação foi confirmada pela União das Organizações Indígenas do Vale do Javari e pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Isolados e de Recente Contato.
“Os dois se deslocaram com o objetivo de visitar a equipe de Vigilância Indígena que se encontra próxima a localidade chamada Lago do Jaburu (próxima da Base de Vigilância da Funai no rio Ituí), para que o jornalista visitasse o local e fizesse algumas entrevistas com os indígenas”, informam em nota.
Bruno e Dom Phillips chegaram ao local em 3 de junho, por volta das 19h25, e no dia 5 voltavam para Atalaia do Norte, com uma parada da comunidade São Rafael, previamente agendada.
“Pelo que constam nas informações trocadas, via Dispositivo de Comunicação Satelital SPOT, eles chegaram na comunidade São Rafael por volta das 06:00h (…), e depois partiram rumo a Atalaia do Norte, viagem de aproximadamente duas horas.” Os dois deveriam ter chegado entre 8h e 9h, o que não aconteceu.
Segundo informações da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), o indigenista Bruno Araújo Pereira era ameaçado por madeireiros, garimpeiros e pescadores. Também conforme a Univaja, Bruno Pereira é “experiente e profundo conhecedor da região, pois foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por anos”.